WASHINGTON – O Departamento de Justiça dos Estados Unidos abriu investigação contra 13 suspeitos de prestarem espionagem para a China. As denúncias foram apresentadas em três casos separados nesta segunda-feira, 24, pelo procurador-geral americano, Merrick Garland. Segundo ele, os alvos supostamente assediaram dissidentes chineses que estão nos EUA, tentaram interferir no sistema judicial americano e pressionaram cidadãos americanos a trabalhar para eles.
Garland afirmou que os três casos são indícios de que o governo chinês “procurou interferir nos direitos e liberdades das pessoas nos Estados Unidos e minar nosso sistema judicial que protege esses direitos”. “O Departamento de Justiça não tolerará tentativas de qualquer poder estrangeiro de minar o Estado de Direito no qual nossa democracia se baseia”, declarou.
As acusações apresentadas são contra sete chineses que atuavam nos EUA para forçar a repatriação de dissidentes que estavam no país. Outros quatro foram acusados de escolherem americanos para atuar em causa da China. Dois outros, por tentar interferir no processo judicial contra uma empresa chinesa.
Os EUA não apresentaram o nome da empresa envolvida no processo, mas este caso corresponde ao mesmo distrito judicial de Nova York onde tramita o processo da Huawei, que os EUA anteriormente acusaram de roubar e negociar informações secretas de propriedade intelectual.
“Nos três casos e, francamente, em milhares de outros, encontramos o governo chinês ameaçando normas democráticas estabelecidas e o Estado de Direito, ao mesmo tempo em que busca minar a segurança econômica dos EUA e os direitos humanos fundamentais”, disse o diretor do FBI, Christopher Wray.
Garland fez a declaração um dia depois que o presidente chinês Xi Jinping ganhou um histórico terceiro mandato. Autoridades dos EUA culpam o líder chinês de ter aumentado os esforços da China na última década para roubar propriedade intelectual americana e tomar medidas contra dissidentes políticos chineses que residem no país.
Interferência no sistema judicial
A acusação de tentativa de interferência chinesa no sistema judicial dos EUA foi contra os chineses Wang Zhen e He Guochun, dois oficiais da inteligência de Pequim. Guochun, além da acusação de interferência, também é processado por lavagem de dinheiro.
De acordo com a acusação, os pagaram a um agente duplo americano, que acreditavam ter recrutado de uma agência do governo, para fornecer detalhes relacionados a um processo legal contra a empresa chinesa, em troca de US$ 61 mil (equivalente a R$ 323 mil, na cotação atual) em bitcoin.
Pelas características apresentadas, trata-se do processo da Huawei, a gigante chinesa de telecomunicações processada em 2019 nos EUA por acusações de roubo de tecnologia americana para burlar sanções, entre outras.
Desde janeiro de 2019, quando as acusações contra a Huawei foram feitas, os dois agentes chineses teriam procurado repetidamente obter informações confidenciais sobre testemunhas, evidências reunidas para o julgamento e possíveis novas acusações contra a empresa, “em um esforço para interferir no processo”.
Um dos recrutados começou a “atuar como agente duplo para o governo dos EUA”, sob supervisão do FBI, segundo a acusação. A partir disso, o FBI produziu documentos falsos, classificados como “secretos”, que foram então entregues a agentes chineses. Guochun pagou cerca de US$ 41 mil em bitcoins por um deles no ano passado.
Os agentes chineses reconheceram que transmitiram as informações obtidas à empresa de telecomunicações, e que este último estava ciente da operação de espionagem que continuou até 2022.
Outras acusações
Na acusação sobre assédio contra dissidentes chineses, sete cidadãos chineses supostamente tentaram forçar um residente americano a retornar à China. Duas pessoas foram presas, mas outras cinco, todas supostamente empregadas por agências de inteligência chinesas, estão soltas, provavelmente na China.
O terceiro caso envolve membros da inteligência chinesa se passando por acadêmicos para recrutar agentes nos Estados Unidos. /AFP
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