Estados Unidos e Brasil têm uma tradição de grande amizade, diz porta-voz de Trump

Em entrevista ao Estadão, Jaime Flórez, porta-voz do presidente eleito Donald Trump para a imprensa latino-americana, fala sobre a relação do republicano com o Brasil e conta bastidores da vitória sobre Kamala Harris

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Foto do author Monica  Gugliano
Atualização:

Jaime Flórez, nascido na Colômbia, desde que começou a trabalhar, em 2016, com o atual presidente eleito, o republicano Donald Trump, já passou pela vitória e pela derrota. Nesta campanha, foi o porta-voz para a imprensa latino-americana. Mas, mal terminou o trabalho com a eleição de Trump, já começou outro. Está organizando a posse que acontecerá no dia 20 de janeiro, ou o “Inauguration Day”, como é chamado pelos norte-americanos.

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Como é da centenária tradição, não haverá estrangeiros no púlpito, a exceção dos embaixadores. No Brasil, muito se tem falado na organização de caravanas bolsonaristas para o evento. Se forem, o mais provável é que vejam pouco. A não ser o gelo e a sensação do frio e do vento cortantes, em pleno inverno, em Washington em frente ao Capitólio.

Nesta conversa com o Estadão por telefone, Flórez disse , que ninguém esperava uma vitória tão avassaladora como a de Trump - “o país se cobriu de vermelho”, comemorou. Com o Brasil, Flórez acredita que Trump retomará uma grande parceria.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, participa do lançamento de um foguete da SpaceX em Boca Chica, Texas  Foto: Brandon Bell/AP

O presidente eleito Donald Trump teve uma relação muito próxima com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Como o senhor antevê a relação com o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

O presidente eleito acredita em democracia. E o Brasil é uma democracia. Nós somos grandes parceiros comerciais (o principal destino das exportações brasileiras) também na área de conhecimento, ciência. Temos uma tradição de amizade entre nossos povos. Vejo nossas relações com muito entusiasmo.

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Pelo que eu acompanhei aqui do Brasil e ouvi foi uma campanha muito dura?

Foi muito. Mas Trump ganhou, concorrendo contra candidatos da altura da Nikki Haley, ex-embaixadora da ONU, do Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey, e de outros candidatos, de muito reconhecimento. E, mesmo assim, ele ganhou a eleição primária e chegou a ser o candidato, ou ser nominado candidato republicano na convenção de Milwaukee em julho. Mas já em maio ele tinha a quantidade de delegados da convenção suficientes para ser a candidatura do partido.

Houve um momento, em que a campanha pensou: mesmo com a mudança – a desistência do democrata Joe Biden e a substituição dele por Kamala Harris - - vai ser difícil perder esta eleição:

Acho que sim. Você sabe que, tenho a impressão, de que isso aconteceu, quando as pessoas perceberam que alguém queria matar o presidente Trump. Nesse momento, as pessoas pensaram por que alguém queria matar o presidente Trump? Pensaram: se alguém quer matar Trump é por que ele é o mais indicado para resolver os problemas da nação. E essas pessoas que queriam matá-lo não queriam que ele fosse presidente e resolvesse esses problemas. As pessoas descobriram que alguém queria matar o presidente Trump porque ele era o indicado para resolver os problemas.

Esse momento mostrou ao país a qualidade do Donald Trump, muitas pessoas perceberam. E ele realmente, de fato, no momento em que ele recebe o tiro na orelha, e em lugar de fazer o que muitos de nós faríamos, aproveitar a oportunidade para dizer, olha, chega, pra mim não tem mais, não tenho interesse em ser vítima disso, outro atentado, outra coisa assim. Não estou pensando em morrer. O que ele faz? Pelo contrário, ele levanta o punho gritando, “fight, fight, fight” (luta). Essa imagem ficou para sempre na memória de uma grande quantidade de votantes dos Estados Unidos que pensaram: por que esse sujeito que tem muito dinheiro, todo dinheiro do mundo, tem a possibilidade de viver uma vida de luxo em qualquer um dos seus resorts no mundo inteiro. Tem o seu próprio avião, tem uma família lindíssima, uma mulher maravilhosa, os filhos, tanto dos primeiros casamentos, como desse casamento agora, que constitui uma família realmente exemplar nos Estados Unidos. Por que ele quer ser presidente?

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, discursa para congressistas republicanos, em Washington  Foto: Alex Brandon/AP

E por que até já foi presidente não é?

Já foi presidente dos Estados Unidos, e se é para marcar isso no calendário, se é é para deixar isso na biografia, ele já tem isso. Ele acha que ele tem uma missão, e ele acha que é a pessoa indicada para resolver os problemas do país, como de fato já resolveu na administração dele entre 2017 e 2021. Então, as pessoas perceberam que não é mais alguém querendo se aproveitar disso para fazer um dinheirinho, sei lá, ele já tem dinheiro mais do que suficiente, e não precisa de nada disso e olha que ainda está enfrentando causas judiciais em vários estados.

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Então, muitas pessoas perceberam que realmente Donald Trump é a pessoa indicada para resolver os problemas do país. E, ao mesmo tempo, as pessoas já estavam cansadas da política econômica dos democratas também. Por que a economia sempre foi e sempre será tudo, não é? Se vai bem, tudo vai bem. Há pessoas que não gostam do Trump. Muitas delas nem sabem por que não gostam dele, mas não gostam, e com frequência a gente vê na internet que tem alguns incidentes de pessoas que veem alguém usando alguma coisa de Trump e aproveitam para criar um caso, uma agressão de algum tipo.

Principalmente nas mídias sociais..

Eu ficava preocupado com isso. Mas o resultado das minhas viagens pelo país inteiro foi totalmente contrário. As pessoas viam a gente, se levantavam, erguendo o polegar direito dizendo, Trump, Trump, let’s go, Trump. Todas as ocasiões que alguém viu o meu Trump escrito na camisa, foi sempre positivo. E muitas pessoas eu parava e escutava os seus problemas, teve uma senhora que me dizia, ‘olha, eu tenho que tomar uma decisão difícil todas as semanas. Ou eu ponho gasolina no tanque do meu carro para poder ir trabalhar, ou eu ponho o cereal na mesa do café da manhã da minha família. Não posso fazer uma das duas coisas, não tenho dinheiro para fazer as duas’. É muito difícil ouvir isso nos Estados Unidos da América, o país mais rico, a civilização mais rica da história da humanidade, é inacreditável. E isso está acontecendo por uma falência total do governo em resolver os problemas da inflação, facilitando que o preço das coisas diminuam, aumentando o consumo.

O então candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Mint Hill, Carolina do Norte  Foto: Evan Vucci/AP

O senhor acha que o governo democrata gastou demais?

O governo gasta muito mais do que recebe. E faz uso de alternativas que são muito prejudiciais para a economia. como é o fato do endividamento. Não foi assim durante o governo do Trump, em 2017. Muito pelo contrário, a inflação, ele entregou o país com uma inflação de 1.4%, sempre por baixo do 2.0 que é o target da Reserva Federal, nosso banco central. E o que tem acontecido nessa administração é totalmente o oposto.

Então, o governo continua gastando demais, o governo gastou uma quantidade incrível de dinheiro, estimulando, supostamente, a economia, coisa que nunca aconteceu. Muito pelo contrário, as pessoas descobriram que podiam viver e receber dinheiro do governo sem trabalhar por tempo demais. E isso, conforme alguns economistas, mesmo economistas de esquerda, democratas eles acreditam que foi isso a causa da inflação que a gente tem hoje.

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O senhor concorda com esse raciocínio?

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Hoje em dia, para a esquerda ou para a direita, as pessoas precisam ter claro que os países, assim como as pessoas, não podem gastar mais do que têm e fazer mais do que podem, porque no final vai chegar a um momento que vão quebrar, não? O governo já se acostumou a gastar muito mais do que recebe. E faz uso de alternativas que são muito prejudiciais para a economia. como é o fato do endividamento. A dívida americana vem crescendo incontrolavelmente. Provavelmente não vai aparecer alguém batendo a porta e dizendo olha, tem aqui essa dívida, tem que pagar. Mas o que, sim , está acontecendo é que a dívida é mais cara. Endividar-se vem sendo mais caro para os Estados Unidos, porquanto o risco vem crescendo justamente por causa do crescimento da dívida.

O Brasil agora está investigando uma tentativa de golpe, após a eleição de Lula. Se houve um atentado ou não. Isso é um sintoma da polarização que infelizmente tomou conta do mundo já faz algum tempo e também aqui nos Estados Unidos, como no Brasil e em muitos outros países....

Não posso comentar assuntos de outros países. Mas posso dizer que isso começou em 2016, quando a Hillary Clinton não ia aceitar a derrota, logo que já se sabia o resultado. De fato ela saiu dizendo, he’s not my president (ele não é meu presidente). E de fato, os democratas - que têm uma memória seletiva, eles esquecem o que aconteceu em 2017 – mas nunca esquecem o que aconteceu no 6 de janeiro de 2021. Esquecem que quando Donald Trump tomou posse do governo em 2017, ela chamou os grupos dela para protestar contra essa posse do presidente Trump, o que criou essa polarização absurda, ampliar os que já temos e todo nosso intercâmbio, comercial, cultural.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, participa de um jantar de gala em Palm Beach, Flórida  Foto: Alex Brandon/AP

O senhor não acha que houve uma imensa, gigante diferença de dimensão entre o que aconteceu com Hillary e o que houve em 6 de janeiro com Trump?

Não porque o presidente Trump tem condições, entre outras coisas, de atrair todas as correntes políticas dos Estados Unidos, sob o slogan do”America Great Again”, vamos fazer grandes os Estados Unidos de novo. E isso é uma coisa que deve interessar não só aos republicanos e aos trumpistas, mas ao país inteiro. O país precisa, o país tem condições de voltar a ser unido, a ser o líder em distintos setores da economia do mundo e, também, ter o poderio diplomático e militar no planeta inteiro e garantir a democracia, os direitos humanos e todas essas coisas que têm sido a base fundamental em uma nação que já tem mais de 200 anos.

Mas não foi o que aconteceu na outra posse de Trump?

Na posse passada, as circunstâncias que se deram, da maneira como lamentavelmente se deram, aconteceram pela forma que alguns democratas manejaram a situação do dia 6 de janeiro e liberaram a segurança, particularmente a presidente da Câmara de Representantes, naquela época, a senhora Nancy Pelosi (Democrata). Trump foi inclementemente perseguido pelos democratas da Câmara de Representantes, esses impeachments sobre assuntos completamente falsos, montagens indevidas que pioraram a relação dele com a liderança da Câmara, a senhora Pelosi

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É difícil trabalhar com o presidente Trump?

Trabalho com ele há 8 anos. É difícil trabalhar com ele? Não, muito pelo contrário, o presidente Trump tem uma habilidade maravilhosa, que é que ele chama o pão, pão, e o vinho, vinho. A gente sempre sabe o que pode esperar do presidente Trump.

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