Estados Unidos planejam grande expansão no treinamento de militares da Ucrânia

Manobra pode melhorar capacidade ucraniana em expulsar os militares russos, mas aprofunda envolvimento dos EUA na guerra

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Por Dan Lamothe e Karen DeYoung

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, e outras autoridades do alto escalão do Pentágono planejam expandir o treinamento dos militares ucranianos. A manobra pode melhorar significativamente a capacidade da Ucrânia em expulsar as forças militares da Rússia das áreas ocupadas no país, mas aprofundaria o envolvimento americano na guerra.

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Segundo autoridades de defesa dos EUA, o plano está em discussão há semanas e se fundamentaria sobre os bilhões de dólares em armamentos e outros tipos de ajuda que Washington tem fornecido à Ucrânia. O treinamento ensinaria os militares ucranianos como empreender campanhas mais sofisticadas contra o Exército russo, que enfrenta dificuldades.

O plano prevê o treinamento de unidades de combate com possivelmente milhares de soldados da Ucrânia em Grafenwoehr, na Alemanha, onde os militares americanos têm treinado forças ucranianas em menor número há anos. Austin pretende melhorar a capacidade de manobra da Ucrânia no campo de batalha em um estilo de guerra mais moderno, que se baseia menos em disparar milhares de projéteis ao dia contra as forças russas. Essa última estratégia, adotada até então, tornou a guerra arrastada e sangrenta.

Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o general Mark Milley durante entrevista coletiva no dia 16 de novembro. Autoridades planejam expandir treinamento aos soldados ucranianos Foto: Tom Brenner/Reuters

O secretário de defesa é conhecido por ser favorável a um programa de treinamento dos EUA significativamente ampliado e em conjunto com iniciativas similares a serem conduzidas pelo Reino Unido, a União Europeia e países como a Noruega, todas envolvendo milhares de soldados ucranianos. A Alemanha planeja treinar 5 mil soldados até junho em centros alemães de simulação de combate e bases de comando.

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O presidente Joe Biden tem afirmado desde o início da invasão russa que os EUA e a Otan não estão em guerra contra a Rússia, mas têm responsabilidade de ajudar uma democracia a se defender contra uma agressão não provocada. Moscou tem rejeitado essas afirmações, acusando os americanos e seus aliados de usar a Ucrânia como um elemento descartável para alcançar seus próprios objetivos contra a Rússia.

A Rússia já escalou sua retórica em resposta ao treinamento anunciado pelos europeus. “Não digam que os EUA e a Otan não são partes nesta guerra”, afirmou a repórteres o ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, na quinta-feira. “Vocês estão participando diretamente, não apenas com fornecimento de armas, mas também treinando pessoal. (…) Vocês estão treinando militares ucranianos dentro de seu próprio território, nos territórios britânico, alemão, italiano e de outros países”.

O novo treinamento foi requisitado pela Ucrânia e chega em um momento em que se espera que o ritmo de guerra diminua, mas não cesse completamente, devido ao inverno no Hemisfério Norte. Aliados avaliam a melhor maneira de usar esse período. A expectativa é que contraofensivas ao sul de Kherson, uma estratégica cidade no Mar Negro que as tropas russas abandonaram no mês passado, e em bastiões separatistas no leste serão difíceis, à medidas que a Rússia usar esse tempo para fortalecer as linhas defensivas.

A Ucrânia tem sido capaz de impingir derrotas sobre as forças russas em várias localidades, mas com baixas significativas em ambos os lados. O general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, afirmou no mês passado que mais de 100 mil soldados russos foram mortos ou feridos desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, e “provavelmente” um número equivalente de militares ucranianos morreu ou se feriu.

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A expectativa é que a Rússia continue a superar o Exército ucraniano em armas, disparando dezenas de milhares de projéteis de artilharia diariamente, além de mísseis e outras munições, de acordo com análises de inteligência. Ao mesmo tempo, as tropas russas foram reforçadas com a “mobilização” de milhares soldados adicionais, cuja eficácia até aqui tem sido limitada em razão de pouco treinamento, baixo moral e dificuldades logísticas.

Morador de Bakhmut, na região separatista de Donetsk, no leste ucraniano, entra em loja próxima a destroços da guerra, em imagem desta sexta-feira, 2 Foto: Anatolii Stepanov / AFP

Mesmo que o treinamento de forças ucranianas em sistemas de armamentos específicos continue, o estoque do Ocidente não é infinito. O objetivo do novo treinamento é ensinar aos ucranianos táticas que melhorarão a eficácia das armas que eles já têm e usar em maior escala a agilidade e adaptabilidade que eles já revelaram em unidades menores.

Muitos recrutas ucranianos deverão participar do treinamento, de acordo com autoridades americanas e europeias, à medida que Kiev continua a mobilizar virtualmente todos os recursos disponíveis.

Não ficou claro se a expansão do treinamento dos EUA resultará em mais gastos significativos em meio ao custo crescente da ajuda à Ucrânia, já criticado por alguns políticos, principalmente republicanos. Ainda que a ajuda à Ucrânia ainda desfrute de amplo apoio bipartidário, os deputados republicanos que assumirão o controle da Câmara no próximo mês prometem um escrutínio maior.

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A visão de Austin poderia, de algumas maneiras, parecer-se com o treinamento que as unidades militares dos EUA recebem em suas principais bases, como o Centro Nacional de Treinamento do Exército, no Forte Irwin, na Califórnia, e no Centro de Combate Aeroterrestre do Corpo de Fuzileiros Navais, em Twentynine Palms, Califórnia. Antes de serem acionadas, as unidades passam semanas demonstrando que estão preparadas para lutar em guerra de armas combinadas, em que soldados de infantaria, forças mecanizadas, unidades de artilharia e outros recursos militares são coordenados para localizar, cercar e destruir unidades inimigas. As discussões sobre a expansão no treinamento de forças ucranianas foram noticiadas anteriormente pela CNN.

O treinamento de forças ucranianas pelos militares americanos iniciou-se em grande escala após a Rússia invadir e tomar a Crimeia em 2014. Mas grande parte dessa instrução concentrou-se em operações especiais e defensivas, em vez de ofensivas em escala total contra um inimigo entrincheirado e poderoso. Desde a invasão do inverno passado, os treinadores têm se concentrado em ensinar pequenos contingentes de soldados por vez a cumprir tarefas específicas, como acionar e fazer manutenção de obuses que eles têm recebido.

Um porta-voz do Pentágono, o brigadeiro-general da Força Aérea Patrick Ryder, afirmou na quinta-feira que o Departamento de Defesa — juntamente com aliados ocidentais e países parceiros — “explora constantemente maneiras de apoiar a Ucrânia por meio de uma variedade de assistências em esforços de segurança, a incluir treinamento”. O departamento, acrescentou ele, não tinha nenhum novo anúncio a fazer. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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