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‘Estamos nos unindo para passar por este inferno’, diz irmã de refém brasileiro em Israel

Mary Shohat, irmã do brasileiro Michel Nisenbaum, que é um dos 135 reféns que ainda estão na Faixa de Gaza, conversou com o Estadão sobre a união das famílias dos sequestrados, a angústia pela falta do irmão e a conversa com o presidente Lula

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Foto do author Daniel Gateno
Atualização:
Foto: Damares Andrade/Consulado de Israel em
Entrevista comMary ShohatIrmã de Michel Nisenbaum, brasileiro sequestrado pelo grupo terrorista Hamas

Esperamos que esta visita ajude de alguma forma na soltura do Michel, aponta Mary Shohat, de 66 anos, irmã de Michel Nisenbaum, o único brasileiro que foi sequestrado pelo grupo terrorista Hamas, em uma coletiva organizada para a imprensa no clube Hebraica, em São Paulo, na terça-feira, 12.

Brasileira de Porto Alegre, Shohat se encantou com Israel após trabalhar como voluntária em uma plantação de laranjas em um Kibutz, com 15 anos. Perto de completar 17 anos e recém saída da escola, se mudou para Israel e não saiu mais.

O irmão Michel Nisenbaum, de 59 anos, emigrou um pouco depois, com 12 anos. Os dois moram Israel há mais de 45 anos e formaram família no país. No dia 7 de outubro, durante o ataque terrorista do Hamas em Israel, que deixou mais de 1.200 mortos em Israel, Michel saiu de casa em Sderot, cidade próxima a fronteira israelense com a Faixa de Gaza, durante a manhã para buscar a neta em uma base militar, mas não chegou ao local.

Após diversas ligações da filha, Hen Mahluf, um terrorista do Hamas atendeu o telefone em árabe e gritou a palavra Hamas. Desde então, os familiares de Nisenbaum não sabem mais nada sobre o seu paradeiro, apenas que seu carro foi encontrado incinerado e que seu computador está em Gaza. Ele é considerado como um dos 135 reféns que ainda estão no enclave palestino, em posse do grupo terrorista Hamas ou de outros grupos terroristas da Faixa de Gaza.

Mary Shohat voltou ao país que nasceu nesta semana junto com a sobrinha e filha de Michel, Hen Mahluf, em uma viagem humanitária para mostrar a situação dos reféns e possivelmente contribuir para a sua soltura. As duas fazem parte de uma comitiva de parentes de reféns que passou por Buenos Aires e Montevidéu antes de chegar ao Brasil.

Na segunda-feira, 11, Shohat e Mahluf estiveram em Brasília e conversaram com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Na terça-feira, 12, os familiares dos sequestrados participaram de um café da tarde, onde contaram sobre a história de seus parentes.

Em entrevista ao Estadão, a irmã de Michel Nisenbaum afirma que todos os familiares dos reféns se uniram em torno de uma causa após o dia 7 de outubro. “Formamos esta nova família porque precisávamos formar, precisávamos de alguma coisa que nos deixasse mais fortes neste momento”.

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Confira trechos da entrevista:

Mary Shohat, irmã de Michel Nisenbaum, e Hen Mahlouf, filha do brasileiro, em evento em São Paulo Foto: Damares Andrade/Consulado de Israel em SP

Como foi a imigração de vocês para Israel?

Eu nasci em Porto Alegre e o Michel nasceu em Niterói, nós somos meio irmãos. Eu vim para Israel com 16 anos, quase 17, sozinha. Eu gostei muito de Israel, tinha vindo um ano antes para trabalhar como voluntária em um Kibutz, nas colheitas de laranja. Terminei o colégio no Brasil e logo depois eu fui viver em Israel.

Assim que eu cheguei em Israel, recebi uma carta da nossa família no Brasil que o Michel, que na época tinha 12 anos, estava envolvido com um grupo de delinquentes em Porto Alegre, que era onde ele morava e então eu voltei ao Brasil, conversei com a nossa família e decidimos que ele iria para Israel morar comigo.

E em Israel ele fez toda a vida dele sem nenhum problema, há mais de 45 anos. O Michel tem duas filhas e seis netos. A nossa mãe tem 86 anos e está em Israel e muito preocupada com o filho.

O governo israelense acredita que Michel Nisenbaum, brasileiro de 59 anos, é um dos sequestrados do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza Foto: Facebook/Reprodução

Qual foi a última vez que você viu o Michel?

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O ataque foi no sábado de manhã e a última vez que eu vi o Michel foi na quinta-feira, quanto tomamos um café junto com a nossa mãe. A Hen, que é filha dele, telefonou para ele para pedir que buscasse a neta dele de 4 anos, que estava em uma base militar no sul de Israel junto com o pai. A ideia era que Michel levasse a neta para Ashkelon.

Então o Michel saiu da casa dele em Sderot, que é uma cidade próxima da Faixa de Gaza, e foi buscar a neta. No meio do caminho ele desapareceu.

A Hen tentou ligar outras vezes, mas não conseguiu mais falar com ele. Em uma das ligações um terrorista do Hamas atendeu e começou a falar em árabe, depois gritou a palavra Hamas e desligou. Este foi o último contato e desde então o telefone está desligado.

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As famílias dos reféns tem se unido neste momento e compartilhado histórias?

Nós formamos uma família nova em Israel, entre os parentes de todos os sequestrados. Formamos esta nova família porque precisávamos formar, precisávamos de alguma coisa que nos deixasse mais fortes neste momento.

Mas não compartilhamos tanto as histórias, cada família está com o seu sofrimento pessoal. Também não podemos falar tanto com as famílias dos sequestrados que já foram soltos e estão em Israel, não podemos ficar perguntando tantos sobre a situação específica de tal pessoa porque as pessoas passaram por muita coisa, cada família está lidando de uma maneira.

Cada um precisa ter o seu tempo e eu imagino que tem gente que sabe lidar melhor com isso e outras pessoas que não.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conversou com Mary Shohat e Hen Mahlouf, familiares de Michel Nisenbaum, o brasileiro que foi sequestrado pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro, em Israel  Foto: Palácio do Planalto/Reprodução

Você tem falado com os veículos brasileiros sobre a situação do seu irmão, o resto da sua família tem ficado mais reclusa?

Depende da onde. No Brasil eu tenho falado mais com a imprensa porque eu falo português. A Hen tem participado de muitas entrevistas em Israel e a outra filha do Michel, a Michal, e a ex-mulher do Michel também tem participado de entrevistas em Israel.

Temos primos no Brasil também, mas eles não estão falando com a imprensa.

Vocês estiveram em Brasília e conversaram com o presidente Lula. A viagem de vocês ocorreu justamente para que o governo brasileiro olhasse mais para este assunto?

É isso que nós queremos, falar sobre o que aconteceu e pedir ajuda a todos que possam fazer alguma coisa pela libertação do Michel. A viagem dos familiares de pessoas que estão sequestradas foi justamente para isso. Queremos tirar todos eles da Faixa de Gaza, eles precisam voltar para nós.

Na Argentina nos encontramos com o ex-presidente Alberto Fernandez e com o atual presidente Javier Milei, no Uruguai nós estivemos com o presidente Luis Lacalle Pou e eu espero que isso ajude de alguma forma a soltura do Michel e dos outros sequestrados.

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O presidente Lula afirmou que chegou a falar com o emir do Catar sobre a situação do Michel e que vai fazer de tudo para que ele volte para nós.

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