Joe Biden organizou uma cúpula do clima com 40 líderes mundiais para marcar a volta dos EUA à posição de líder global em matéria ambiental, deixando para trás os anos de isolamento de Donald Trump. Ontem, logo na abertura, o presidente americano anunciou uma nova meta ousada de reduzir pela metade a emissão de gases do efeito estufa até 2030.
O objetivo era pressionar outros países a replicar o gesto. Conseguiu concessões de alguns aliados, como Japão e União Europeia, mas ficou no vácuo com relação a outros. Índia e China, grandes poluidores e consumidores de energia, por exemplo, não assumiram nenhum compromisso novo.
Para os brasileiros, o momento mais aguardado era o discurso de Jair Bolsonaro. O Brasil, que sempre teve protagonismo na geopolítica climática, desde a Rio-92, vem sendo criticado por sua política ambiental, principalmente em razão da devastação da Amazônia. A fala de Bolsonaro durou pouco mais de 7 minutos.
Nela, o presidente adotou um tom conciliador e tentou passar a imagem de um governo comprometido com a preservação das florestas e das comunidades indígenas. Apesar de ter ignorado os recordes atuais de desmatamento, ele propôs novidades, como antecipar para 2050 o prazo para o Brasil zerar as emissões de gases do efeito estufa – a meta anterior era 2060.
O discurso de Bolsonaro foi recebido com ceticismo por especialistas e diplomatas, que desconfiam da súbita conversão do presidente brasileiro ao ativismo ambiental. Um dos pontos que levanta mais suspeita da comunidade internacional é o pedido do Brasil de recursos financeiros para combater o desmatamento e as emissões de gases- estufa.
“É preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação”, afirmou. No entanto, os donos do dinheiro, principalmente americanos e europeus, continuam exigindo resultados concretos antes de dar a Bolsonaro a chave do cofre.
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