EUA dizem ser possível trabalhar com Taleban para conter Estado Islâmico no Afeganistão

Americanos e seus aliados estão trabalhando para recalibrar seu relacionamento com o grupo radical em meio a uma situação cada vez pior para o povo afegão

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Por Redação

O chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, general Mark Milley, disse que é "possível" que os americanos coordenem com o Taleban a luta contra o Estado Islâmico, embora ele tenha se recusado a fazer previsões sobre uma possível colaboração com os novos governantes do Afeganistão, que devem anunciar um novo governo nesta quinta-feira.

“Não sabemos qual é o futuro do Taleban, mas posso dizer por experiência própria que este é um grupo que foi implacável no passado, e se eles mudaram ou não, resta saber”, disse Milley , a repórteres na quarta-feira. “Na guerra, você faz o que deve”, acrescentou ele, mesmo que “não seja necessariamente o que você quer fazer”.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin (esq.) e ochefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, general Mark Milley (dir.)durante comentáriono Pentágono em 1 de setembro de 2021. Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP

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Quando questionado se os Estados Unidos cooperariam com o Taleban contra o Estado Islâmico Khorasan, o braço afegão do EI, também conhecido como ISIS-K, o general Milley disse que essa era uma possibilidade. Se o Taleban pode controlar o grupo tornou-se uma questão de grande preocupação internacional, depois que o ISIS-K assumiu a responsabilidade por um ataque ao aeroporto de Cabul que deixou 170 civis e 13 militares americanos mortos nos dias finais da retirada dos EUA.

Comandantes americanos trabalharam com o Taleban para facilitar a retirada de mais de 124.000 pessoas do Afeganistão nas últimas semanas. Tanto os Estados Unidos quanto o Taleban veem no Estado Islâmico uma ameaça comum: o grupo terrorista islâmico considera o Taleban excesivamente moderado, e tem nos EUA seu maior inimigo declarado. 

Os Estados Unidos e seus aliados estão trabalhando para recalibrar seu relacionamento com o Taleban - um grupo que permanece nas listas de vigilância de terroristas em todo o mundo, mesmo enquanto se prepara para nomear um novo governo afegão - em meio a uma situação cada vez pior para o povo afegão.

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Nas últimas semanas, os Estados Unidos cooperaram com o grupo para garantir a retirada de dezenas de milhares de pessoas do aeroporto de Cabul, e oficiais de defesa disseram que existe a possibilidade de a ameaça representada pelo grupo militante Estado Islâmico Khorasan exigir cooperação futura.

Uma crescente crise humanitária e econômica pode levar ainda mais afegãos a buscar uma saída. Os preços dos alimentos mais básicos, como ovos e farinha, dispararam. Os alimentos de emergência que as Nações Unidas distribuem a centenas de milhares de afegãos necessitados devem acabar até o final do mês. A ajuda externa acabou. As longas filas no banco são diárias.

Na quarta-feira, as principais autoridades de defesa dos EUA expressaram cautela sobre continuar a trabalhar com os líderes do Taleban, que cooperaram durante a retirada.

O secretário de Defesa Lloyd J. Austin III disse a repórteres que, embora os Estados Unidos tenham trabalhado com o Taleban em um conjunto restrito de prioridades, “é difícil prever para onde isso irá no futuro com relação ao Taleban”.

Outras nações estão trabalhando para traçar um caminho para a cooperação com o Taleban ou com parceiros regionais para obter os civis restantes que desejam deixar o país. Na quinta-feira, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, esteve em Doha, no Catar, se reunindo com líderes do país para discutir a situação no Afeganistão e como garantir uma passagem segura para os que lá permanecem. O Catar já hospedou líderes do Taleban e foi o local das negociações de paz entre o Taleban e os Estados Unidos.

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Em uma entrevista coletiva após a reunião, Raab disse que o Reino Unido “não reconhecerá o Taleban em nenhum momento no futuro próximo”, mas acrescentou: “Vemos a necessidade de um envolvimento direto”, segundo a BBC.

Raab conversou com os líderes do Catar sobre a possibilidade de manter um aeroporto em funcionamento em Cabul no curto prazo, o que forneceria uma rota fundamental para afegãos que correm alto risco e que ainda procuram fugir, disse o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido em um comunicado. O secretário de Relações Exteriores também discutiu a viabilidade de passagem segura para estrangeiros e afegãos através das fronteiras terrestres.

O governo do Catar está negociando com os taleban para reabrir o aeroporto de Cabul "o mais rápido possível", embora nenhum acordo tenha sido alcançado sobre o tema, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Mohamed bin Abdelrahman al-Thani.

"Confiamos em poder fazer com que (o aeroporto) opere o quanto antes, com sorte nos próximos dias receberemos boas notícias", disse. "Mas ainda não há acordo", completou.

Simon Gass, enviado especial do Reino Unido para a transição do Afeganistão, manteve conversações nos últimos dias com importantes representantes políticos do Taleban, disse o Ministério das Relações Exteriores. / W.POST, NYT, AP E REUTERS

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