Após as negociações entre Ucrânia e Rússia na Turquia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reagiu com desconfiança à declaração russa de retirada de tropas nas regiões de Kiev e Chernihiv. Questionado sobre como avaliava a declaração russa, Biden disse “não ler nada” sobre a retirada até que ela aconteça e garantiu a manutenção das sanções. “Vamos ver se eles seguem o que estão sugerindo”, respondeu.
Mais cedo, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reagiu da mesma maneira. Segundo Blinken, os EUA não viram “sinais de real seriedade por parte do país comandado por Vladimir Putin. “Existe o que a Rússia diz e existe o que a Rússia faz. Estamos focados neste último”, disse durante uma coletiva de imprensa.
A desconfiança contra a Rússia também foi expressada pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson. Em uma reunião com ministros, ele afirmou que o cessar-fogo da guerra da Ucrânia, por si só, não seria motivo para a retirada das sanções contra a Rússia. “A pressão sobre Putin deve ser aumentada tanto por meio de novas medidas econômicas quanto pelo fornecimento de ajuda militar para garantir que a Rússia mude completamente o curso”, anunciou o porta-voz de Johnson.
Segundo o porta-voz, a retirada total das tropas russas da Ucrânia “seria um bom começo” para a mudança de postura do Reino Unido. “Julgaremos Putin e seu regime por suas ações, não por suas palavras”, declarou.
As declarações foram feitas horas após a primeira negociação entre Rússia e Ucrânia que parece ter avanços reais. A Rússia disse que está preparada para acelerar uma possível reunião entre os presidentes Vladimir Putin e Volodmir Zelenski - ideia que rejeitavam até a reunião - e afirmou que vai retirar as tropas do norte ucraniano.
Para os Estados Unidos, o anúncio da Rússia de redução das hostilidades em torno de Kiev pode ser “um meio pelo qual a Rússia mais uma vez está tentando desviar e enganar as pessoas a pensar que não está fazendo o que está fazendo”. “Se eles de alguma forma acreditam que um esforço para subjugar “apenas”, entre aspas, a parte leste da Ucrânia e a parte sul da Ucrânia pode ter sucesso, mais uma vez eles estão se enganando profundamente”, declarou.
O secretário de estado norte-americano pediu que as tropas “acabem com a agressão agora, parem de atirar, recue suas forças e, claro, se envolve em negociações”.
Nesta terça-feira, 29, enquanto a reunião entre os dois países acontecia, a Rússia atacou a cidade de Mikolaiv, no sul, e deixou ao menos 7 mortos e 22 feridos. Um dos edifícios atingidos pelos bombardeios foi o prédio governamental da cidade.
Após as negociações, o chefe da delegação russa, Vladimir Medinski, disse em entrevista a uma agência de notícias estatal russa, a Tass, que a redução das operações militares no norte não representa um cessar-fogo. “Este não é um cessar-fogo, mas esta é a nossa aspiração: alcançar gradualmente uma desescalada do conflito, pelo menos nestas frentes”, disse.
Reunião da Otan
Alguns membros da aliança se reuniram virtualmente nesta terça-feira, depois das negociações entre Ucrânia e Rússia. Segundo a Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, conversou durante uma hora com o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz, o primeiro-ministro italiano Mario Draghi e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson. Até o momento, não há informações sobre o que foi discutido na chamada.
Segundo Joe Biden, parece haver um consenso entre esses países de aguardar os próximos passos da Rússia para avaliar o que fazer. “Mas, enquanto isso, continuaremos a manter fortes sanções”, disse Biden. “Vamos continuar a fornecer aos militares ucranianos a capacidade de se defenderem. E vamos continuar atentos ao que está acontecendo.”
De acordo com uma leitura da Casa Branca da reunião da Otan, os líderes “analisaram seus esforços para fornecer assistência humanitária aos milhões afetados pela violência, tanto dentro da Ucrânia quanto buscando refúgio em outros países, e enfatizaram a necessidade de acesso humanitário a civis em Mariupol. Eles também discutiram a importância de apoiar mercados de energia estáveis à luz das atuais interrupções devido a sanções.”
A Ucrânia e vários países não pertencentes à aliança foram convidados a participar de parte de uma reunião de dois dias dos ministros das Relações Exteriores da Otan na próxima semana, de acordo com um comunicado da aliança militar com sede em Bruxelas.
A Otan disse que os convites foram para “os Ministros das Relações Exteriores da Austrália, Finlândia, Geórgia, Japão, República da Coreia, Nova Zelândia, Suécia e Ucrânia, bem como o Alto Representante da União Europeia para Relações Exteriores”. A reunião está marcada para o próximo dia 7 de abril.
Turquia vê progresso após encontro mediado por Erdogan
Na contramão da desconfiança dos aliados da Otan, a Turquia considerou as negociações desta terça-feira um avanço para o fim da guerra. “Esta guerra que causou a morte de milhares de pessoas e o deslocamento de milhões de outras deve parar”, disse o ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, em comentários televisionados.
Segundo Cavusoglu, o próximo passo da negociação seria os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Ucrânia se reunirem para “dar a forma ao entendimento comum mais recente”, alcançado nesta terça.
O país assumiu uma posição de mediador entre os dois países em guerra e recepcionou os negociadores no Palácio de Dolmabahçe, em Istambul, a última residência no Bósforo dos sultões e que também foi a última sede administrativa do Império Otomano, que atualmente abriga escritórios da presidência turca. “O mundo inteiro espera boas notícias”, disse o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, antes do início das discussões.
Macron pede a Putin que haja trégua em Mariupol
O presidente da França, Emmanuel Macron, conversou com presidente Vladimir Putin nesta terça-feira, 29, para pedir que a trégua seja estabelecida em Mariupol. O telefonema teve o objetivo de se chegar a um acordo para a retirada com segurança dos civis que permanecem na cidade, que vive o pior cenário da guerra da Ucrânia, e para a entrega de ajuda humanitária.
Segundo uma fonte de Paris ouvida pelo New York Times, Putin “ouviu os pedidos e demandas” de Macron e “disse que ele pensaria sobre eles e retornaria”.
O Kremlin, em seu próprio relato da discussão, disse que Putin falou sobre “as medidas tomadas pelos militares russos para fornecer assistência humanitária urgente e garantir a evacuação segura de civis, inclusive de Mariupol”.
A CNN, por sua vez, ouviu de uma fonte que Putin teria chamado as negociações desta terça-feira com a Ucrânia de promissoras. /NYT, W.P., THE GUARDIAN, REUTERS
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