WASHINGTON - Fontes do governo americano deram como certa nesta quarta-feira, 31, a saída dos Estados Unidos do acordo de Paris sobre o clima. Pelo Twitter, o presidente Donald Trump, a quem cabe essa decisão, prometeu anunciar “nesta quinta-feira” sua posição. Ele afirmou que o horário do comunicado seria às 15h locais (16h de Brasília).
O rompimento com o pacto foi uma de suas promessas de campanha. Ao mesmo tempo, União Europeia e China anunciaram nesta quarta-feira que apoiarão o acordo na cúpula do fim de semana em Bruxelas, seja qual for a decisão do presidente Trump.
De acordo com o jornal The New York Times, três fontes do governo disseram que a saída era certa, mas era preciso considerar a disposição do republicano de mudar de ideia na última hora. A decisão, segundo o jornal, enfraquecerá severamente o acordo de 2015, cujo comprometimento americano foi um marco nas negociações.
Uma fonte da Casa Branca afirmou que a linguagem específica que o presidente utilizará em seu pronunciamento sobre o tema ainda estava sendo trabalhada ontem. Segundo ela, a retirada do país pode ser acompanhada por advertências legais que poderiam influenciar o impacto da decisão de Trump.
“Anunciarei minha decisão sobre o Acordo de Paris nos próximos dias. Tornar a América grande de novo!”, expressou o republicano em sua conta oficial no Twitter.
Apoio. Uma autoridade europeia afirmou hoje que a União Europeia e a China vão apoiar o Acordo de Paris. “Vamos publicar uma declaração comum sobre as mudanças climáticas, na qual a UE e a China, como grandes emissoras de CO2, vão afirmar que implementarão o acordo”, informou a fonte, que pediu anonimato, a jornalistas em Bruxelas.
Concluído no fim de 2015 na capital francesa por mais de 190 países – incluindo o Brasil –, este acordo pretende limitar o aumento da temperatura mundial por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa.
A saída dos Estados Unidos seria um revés para a “diplomacia do clima” que, há menos de 18 meses, comemorava um acordo histórico, com Pequim e Washington (sob a presidência de Barack Obama) entre os arquitetos do projeto.
O site Axios citou fontes anônimas próximas do presidente que tiveram conhecimento da decisão da retirada dos EUA. A informação não havia sido confirmada pela Casa Branca.
A questão dividiu profundamente a cúpula do G-7, o grupo das sete democracias mais industrializadas do mundo, concluída na Sicília (Itália) no fim de semana. Todos os participantes, com exceção de Trump, reafirmaram seu compromisso com o acordo de Paris. Segundo a Casa Branca, Trump queria ouvir os parceiros do grupo antes de tomar uma decisão.
Durante a campanha, o empresário insistiu em acabar com a “guerra contra o carvão” e prometeu “anular” o acordo. Mas, desde que tomou posse, em 20 de janeiro, enviou sinais divergentes, reflexo das correntes conflitantes que permeiam seu governo sobre a questão climática e outros assuntos.
Pressão. O chefe da Agência de Proteção Ambiental (EPA), Scott Pruitt, havia defendido abertamente a saída do acordo, considerando-o “ruim” para os Estados Unidos. O mundo dos negócios defendeu, em sua grande maioria, a permanência no pacto. Vários grandes grupos, incluindo a petrolífera ExxonMobil, a gigante agroquímica DuPont, ou ainda Google, Intel e Microsoft, estimularam Trump a não sair do acordo.
O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, ameaçou abandonar os conselhos executivos da Casa Branca Trump decida deixar o acordo. "Não sei para que lado ele irá em relação a Paris, mas fiz de tudo o que podia para aconselhar diretamente o presidente, por meio de outros na Casa Branca e via conselhos", disse Musk, em uma publicação no Twitter.
O objetivo dos Estados Unidos definido pelo governo Obama é uma redução de 26% a 28% das suas emissões de gases de efeito estufa até 2025 em relação a 2005.
Questionado na terça-feira sobre a posição do presidente sobre as mudanças climáticas, seu porta-voz, Sean Spicer, foi evasivo. “O presidente acredita no impacto das atividades humanas nas mudanças climáticas?”, questionou um repórter. “Eu não posso responder, não perguntei a ele”, respondeu Spicer.
Uma solução proposta por alguns membros do governo americano seria permanecer no acordo, mas reavaliando os objetivos assumidos. Isso permitiria se manter na mesa de negociações, ao mesmo tempo em que marcaria uma forma de ruptura com o governo democrata de Obama. Ao contrário do Protocolo de Kyoto (1997), o acordo concluído em Paris não é vinculante e os compromissos nacionais são voluntários.
Empregos. Segundo um relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) publicado esta semana, o número de pessoas empregadas no setor de energias renováveis passou de 7 milhões em 2012 a 9,8 milhões em 2016. Em 2030, esse número poderia alcançar 24 milhões, “compensando as perdas de emprego no setor dos combustíveis fósseis”. / THE NEW YORK TIMES, AFP e EFE
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