EUA são listados pela primeira vez entre países que passam por retrocesso democrático

Questionamento da legitimidade das eleições de 2020 foi um 'ponto de virada histórico', diz estudo

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Por Miriam Berger
Atualização:

WASHINGTON - O Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (IDEA, na sigla em inglês) incluiu pela primeira vez os Estados Unidos em sua lista de países que passam por retrocessos democráticos. O relatório da organização, sediada em Estocolmo, foi divulgado nesta segunda-feira, 22.

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“Os Estados Unidos, o bastião da democracia global, foram vítimas de tendências autoritárias e caíram um número significativo de degraus na escala democrática”, concluiu o relatório do Estado Global da Democracia 2021.

O estudo, que analisou as tendências de 2020 a 2021, descobriu que mais de um quarto da população mundial agora vive em países em retrocesso democrático, como o IDEA define nações que experimentam um declínio gradual na qualidade de suas democracias.

“O mundo está se tornando mais autoritário à medida que regimes não democráticos se tornam ainda mais descarados em sua repressão e muitos governos democráticos sofrem retrocesso ao adotar suas táticas de restringir a liberdade de expressão e enfraquecer o Estado de Direito, agravado pelo que ameaça se tornar um 'novo normal' das restrições ligadas à covid-19 ”, constatou o relatório. “O número (de países) se movendo na direção do autoritarismo é três vezes maior do que o número que está se movendo em direção à democracia.”

Explosão causada por uma munição policial é vista enquanto apoiadores de Donald Trump se reúnem em frente ao Capitólio dos EUA Foto: Leah Millis/ Reuters

A IDEA classifica os países como democráticos (o que inclui aqueles em que a democracia passa por um retrocesso), “híbridos” e autoritários, sendo os dois últimos considerados não democráticos. Ele baseia sua análise em 50 anos de indicadores democráticos monitorados em cerca de 160 países.

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O relatório constatou que alguns dos retrocessos democráticos "mais preocupantes" aconteceram em alguns dos maiores países do mundo, incluindo Brasil e Índia. Também destacou “os declínios democráticos” nos Estados Unidos e em três membros da União Europeia: Hungria, Polônia e Eslovênia.

A avaliação do relatório nos EUA centrou-se nos desenvolvimentos durante a administração do presidente Donald Trump. O questionamento factualmente infundado do ex-presidente sobre a legitimidade das eleições foi um "ponto de virada histórico" que "minou a confiança fundamental no processo eleitoral" e culminou na insurreição de 6 de janeiro no Capitólio dos EUA, concluiu o relatório. As táticas de Trump tiveram “efeitos colaterais, incluindo no Brasil, México, Mianmar e Peru, entre outros”, concluiu o relatório.

Um estudo de outubro de 2020 feito pelo think tank Freedom House, com sede em Washington, descobriu que a democracia e os direitos humanos pioraram em 80 países desde março daquele ano, quando a Organização Mundial da Saúde declarou o surto de coronavírus uma pandemia.

Apesar dos declínios, o relatório do IDEA destacou algumas tendências pró-democráticas.

“Os protestos e a ação cívica estão vivos e bem”, disse o relatório, observando que três quartos dos países protestaram durante a pandemia. “Os movimentos pró-democracia enfrentaram a repressão em todo o mundo e surgiram movimentos sociais globais para enfrentar a mudança climática e combater as desigualdades raciais”. “A democracia é resiliente”, concluiu o documento. 

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