EUA testam míssil balístico em meio a tensões sobre Taiwan, e Putin acusa provocação à China

Militares americanos afirmam que teste já estava programado e que não responde a ‘eventos atuais’; buscando mais apoio chinês, presidente da Rússia acusa EUA de causarem instabilidade global

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Por Redação
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WASHINTON - O comando da Força Aérea dos Estados Unidos realizou um lançamento-teste de um míssil balístico intercontinental Minuteman III, com capacidade nuclear, nesta terça-feira, 16. O exercício foi realizado semanas após o Pentágono adiar o teste em meio a escalada militar da China em Taiwan, após a visita de Nancy Pelosi à ilha que Pequim reivindica como sua. Ao mesmo tempo, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou os EUA de provocarem a China, em uma declaração que visa apoio de Pequim em meio à sua invasão da Ucrânia.

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O míssil não municiado foi disparado da base da Força Aérea em Vandenberg, na Califórnia, às 00h49 (04h49 em Brasília), e viajou cerca de 6.800 km até atingir o atol de Kwajalein, nas Ilhas Marshal. O míssil carregava um veículo de reingresso de teste, que em um conflito estratégico poderia ser armado com uma ogiva nuclear.

De acordo com o comunicado divulgado pelos militares, o lançamento foi realizado para “demonstrar a prontidão das forças nucleares dos EUA e prover segurança sobre a letalidade e efetividade da dissuasão nuclear da nação”, mas nega qualquer intenção de “demonstrar força” diante da movimentação militar chinesa em Taiwan.

Míssil balístico intercontinental Minuteman III testado em 2017. Foto: Senior Airman Ian Dudley/ U.S. Air Force - 26/04/2017

“Este lançamento-teste faz parte de atividades rotineiras e periódicas destinadas a demonstrar que a dissuasão nuclear dos Estados Unidos é segura, confiável e eficaz para deter as ameaças do século XXI e tranquilizar nossos aliados. Tais testes ocorreram mais de 300 vezes antes, e este teste não é o resultado de eventos mundiais atuais”, diz a nota.

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O major Armand Wong, comandante da força-tarefa que conduziu o teste, afirmou que os lançamentos são programados com antecedência, e não são reações aos eventos mundiais. “Um processo de planejamento meticuloso para cada lançamento começa de seis meses a um ano antes do lançamento. Nossos melhores aviadores trabalharam em conjunto com o 576º Esquadrão de Teste de Voo para mostrar com orgulho algumas habilidades muito técnicas que compõem o coração de nossa missão de dissuasão nuclear”, disse.

Testes entre tensões

Apesar da retórica dos militares americanos, o disparo do míssil em direção ao Pacífico é mais um fator a ser observado pela China, que acusa os EUA de acirrarem as tensões com o país. Pequim, que entendeu a visita de Pelosi a Taiwan no começo do mês como uma “provocação” e respondeu com exercícios militares, também viu no fim de semana o desembarque de parlamentares americanos, parte de uma comissão interpartidária liderada pelo senador democrata Ed Markey, como um desafio.

Os exercícios militares da China em resposta a visita da presidente da Câmara dos EUA a Taiwan, com o disparo de mísseis e envio de navios de guerra e aviões de guerra foram considerados os maiores da história chinesa.

Na quarta-feira da semana passada, autoridades chinesas repetiram ameaças contra Taiwan. Em um documento oficial do Gabinete de Assuntos de Taiwan, o governo chinês fala em trabalhar por uma “reunificação pacífica” mas não descarta a possibilidade de usar a força caso veja necessidade.

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(Pequim) trabalhará com a maior sinceridade e exercerá nossos maiores esforços para alcançar a reunificação pacífica. Mas não renunciaremos ao uso da força e nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias. Isso é para se proteger contra interferências externas e todas as atividades separatistas”, diz o documento.

‘Estratégia americana’

Enquanto os americanos executavam seu lançamento-teste de míssil que deve desgastar ainda mais as relações com Pequim, o presidente da Rússia buscava angariar novos apoios internacionais em meio ao seu isolamento após a rodada de sanções ocidentais. Com objetivo de atrair este apoio da China, Putin endossou as acusações chinesas e disse que os EUA querem provocar conflitos “para manter a sua hegemonia”.

Segundo ele, a intenção do governo americano é provocar a instabilidade global ao utilizar a Ucrânia “como bucha de canhão” e agora provocar a China. Sob esta ótica, tanto a aproximação da Otan com a Ucrânia, especialmente com o fornecimento de armas, quanto as visitas de políticos americanos à Taiwan são parte de uma estratégia.

“A aventura americana em Taiwan não foi apenas uma viagem de uma política irresponsável. Foi parte de uma estratégia deliberada e consciente dos EUA destinada a desestabilizar a situação e criar caos na região e no mundo inteiro, uma demonstração flagrante de desrespeito à soberania de outro país e suas próprias obrigações internacionais”, disse Putin, discursando em uma conferência de segurança com a presença de oficiais militares da África, Ásia e América Latina.

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O presidente russo Vladimir Putin discursa por video aos participantes da Conferência de Moscou sobre Segurança Internacional (MCIS) no Parque Patriota em Kubinka, região de Moscou, Rússia  Foto: MAXIM SHIPENKOV/EPA/EFE

O líder russo afirmou que “as elites globalistas ocidentais” estavam tentando “transferir a culpa por seus próprios fracassos para a Rússia e a China “, acrescentando que “não importa o quanto os beneficiários do atual modelo globalista tentem se agarrar a ele, está condenado.”

“A era da ordem mundial unipolar está chegando ao fim”, acrescentou. Desde o início de sua invasão na Ucrânia, Putin culpa as potências ocidentais pelo conflito, justificando o enviou tropas como uma resposta a Washington transformando o país em um baluarte “anti-Rússia”.

“Eles precisam de conflitos para manter sua hegemonia”, acusou Putin. “É por isso que eles transformaram o povo ucraniano em bucha de canhão. A situação na Ucrânia mostra que os Estados Unidos estão tentando arrastar o conflito e agem exatamente da mesma maneira tentando alimentar conflitos na Ásia, África e América Latina.”

Objeto de duras sanções ocidentais pelo conflito na Ucrânia, a Rússia tenta reforçar as relações com os países da África e Ásia, em particular com a China. Moscou já havia chamado de “provocação” a visita de Pelosi a Taiwan e considerou que Pequim tem o direito de tomar as “medidas necessárias para proteger sua soberania”.

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Do outro lado, o embaixador da China em Moscou, Zhang Hanhui, atacou os EUA por supostamente alimentar o conflito na Ucrânia. “Como iniciador e principal instigador da crise ucraniana, Washington, enquanto impõe sanções abrangentes sem precedentes à Rússia, continua a fornecer armas e equipamentos militares à Ucrânia”, disse Zhang à agência de notícias estatal russa Tass. “Seu objetivo final é esgotar e esmagar a Rússia com uma guerra prolongada e o porrete de sanções.”

Poucas semanas antes de a Rússia lançar sua guerra, Putin e Xi Jinping se reuniram em uma cúpula e declararam uma parceria “sem limites”. No início da guerra, porém, a China não declarou apoio aberto, mas conforme as tensões em torno de Taiwan aumentam, os governos russo e chinês expressam uma animosidade compartilhada em relação à hegemonia americana que paira sobre suas próprias esferas de influência./AP, AFP e W.POST