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Trump x Biden: veja as propostas dos candidatos a presidente dos EUA

Democrata promete desfazer decisões tomadas pelo governo Trump, enquanto presidente busca a reeleição garantindo continuar seu programa de 2016

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Por Diego Kerber
Atualização:
Joe Biden (à esquerda) e Donald Trumpdiscordam em vários tópicos importantes com relação à condução dos Estados Unidos a partir do próximo ano. Veja as principais propostas de cada um. Foto: EFE/EPA/OLIVIER DOULIERY / POOL / Erin Schaff/NYT

As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão cada vez mais próximas, e os norte-americanos deverão escolher entre o atual presidente e candidato republicano à reeleição, Donald Trump, e o candidato democrata, Joe Biden.

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As eleições americanas sempre foram de grande interesse mundial, já que se trata da maior economia do mundo e de um dos países diplomaticamente mais importantes do mundo ocidental. Isso sem contar o fato de Trump ser uma das principais lideranças da direita mundial, o que influencia outros líderes que seguem essa linha ideológica, como o presidente do Brasil Jair Bolsonaro.

Entre diversos discursos, promessas e divergências, os dois candidatos já deixaram claras suas posições em relação a diversos pontos importantes em diversas áreas, desde a retomada econômica após a pandemia do novo coronavírus até tópicos de cunho social, como combate à desigualdade racial.

Veja abaixo quais são os posicionamentos de Trump e Biden em relação a questões-chave e o que já prometeram se forem eleitos:

Reabertura e retomada da economia

Tanto Trump quanto Biden concordam em investir trilhões de dólares para recuperar a economia no período pós-pandemia. Trump assinou um decreto para fornecer esse alívio econômico de uma só vez por conta da pandemia do novo coronavírus e ainda apoia novos estímulos no futuro. Enquanto isso, Biden defende gastar mais trilhões de dólares para criar novos empregos, especialmente nas áreas de energia limpa, indústria e cuidados. O democrata também pretende oferecer aos Estados ainda mais apoio no pagamento de benefícios de seguro-desemprego.

Outra grande diferença entre os dois é justamente quando a economia deve ser reaberta. Biden adota uma postura muito mais cautelosa com relação à pandemia e defende uma reabertura mais ampla apenas com maior testagem da população para o covid-19. Por outro lado e apesar de não tornar a medida obrigatória, Trump pressionou os Estados a reabrirem suas economias o mais rápido possível para evitar uma crise econômica maior, mesmo com o número de casos e mortes pela doença aumentando no país.

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O candidato democrata Joe Biden em seu discurso nos arredores de Detroit, Michigan Foto: AP Photo/Patrick Semansky

No entanto, os dois candidatos garantem recuperar a economia ao fomentar a indústria local e apoiar a compra e venda de produtos “Made in America”. Trump chegou a assinar uma ordem para que alguns medicamentos essenciais comprados pelo governo fossem exclusivamente produzidos em solo americano. Já Biden propõe que empresas americanas que decidam produzir produtos manufaturados no exterior e tentem vender tais produtos de volta aos Estados Unidos sejam penalizadas.

Investimento em desenvolvimento sustentável

A maior diferença nos planos econômicos do republicano e do democrata é justamente no foco ou não no desenvolvimento sustentável. Esse aspecto é, inclusive, o principal mote da campanha eleitoral de Joe Biden. Ele promete, inclusive, investir cerca de US$ 2 trilhões em infraestrutura, criação de transporte público totalmente não poluente, criação de empregos na área de energia limpa e construção de residências sustentáveis.

Trump, por sua vez, não tem demonstrado muito interesse nesse tipo de investimento. Os gastos com infraestrutura de sua gestão não trazem muitas características de sustentabilidade. Essa atitude, no entanto, é congruente com o discurso do republicano que nega a existência do aquecimento global.

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Meio ambiente

Inclusive, a gestão do meio ambiente e das mudanças climáticas também é outro tópico de grande divergência entre os dois candidatos. Como já falado, por mais que a embaixadora americana na ONU tenha rebatido, Trump alega que o aquecimento global é uma mentira e que o aumento das temperaturas pelo mundo não seria obra de ações humanas, indo de encontro ao consenso da comunidade científica. O presidente americano, inclusive, começou um processo de retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, um acordo entre 195 países para reduzir emissões de gases estufa na atmosfera e garantir o desenvolvimento sustentável. Segundo ele, o acordo era “muito custoso” para os Estados Unidos.

Além de sair do Acordo de Paris, Trump atuou para desmantelar várias ações do governo de seu antecessor, Barack Obama, em prol do meio ambiente. Segundo ele, as regras de emissão de poluentes de carros definidas por Obama estavam “matando a indústria” e, por isso, as substituiu por regras mais fracas em março.

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Biden segue o caminho exatamente oposto. Ele afirma que assim que assumisse o cargo faria os Estados Unidos voltarem a assinar o Acordo de Paris e, em seu plano de governo, propõe um plano de combate ao aquecimento global de US$ 2 trilhões. O objetivo é zerar as emissões de carbono do setor elétrico até 2035. Apesar de não pensar em banir a extração de carvão ou fracking, o democrata defende banir novas permissões para isso em águas e terras públicas. 

No primeiro debate eleitoral, realizado em 29 de setembro, Biden chegou inclusive a mencionar as queimadas na Amazônia, afirmando que se juntaria a outros países para combater o desmatamento e que, se o Brasil não se unisse a esse esforço, “haverá consequências significativas”. Tanto ele quanto Trump, no entanto, apoiam pesquisa para avanços da utilização de energia nuclear.

Combate à desigualdade racial

Com o crescimento vertiginoso do movimento #BlackLivesMatter após a morte de George Floyd por um policial branco durante uma abordagem, o combate à desigualdade racial e ao racismo nos Estados Unidos se tornou um tópico chave para as eleições gerais.

A campanha de Biden aborda bastante esse tema, inclusive uma proposta cuja viabilidade será estudada: uma reparação histórica para descendentes diretos de negros escravizados, a ser paga em dinheiro. Ele também deixou claro que seu gabinete e indicações iriam “refletir a diversidade” do país. O candidato ainda apoia a criação de leis que facilitem a possibilidade de processos contra disparidade salarial por motivos de raça e outras ações contra a discrepância econômica entre brancos e negros nos Estados Unidos.

Multidão marcha perto do Capitólio, em Washington, contra a morte de George Floyd por um policial branco em maio. Foto: REUTERS/Yuri Gripas

Já Trump não fez e não parece pretender fazer tantas ações para diminuir a desigualdade racial no país. Ele destaca fatos que comprovariam que sua gestão trabalhou pelo crescimento de todos, incluindo a comunidade negra, como a taxa de desemprego entre negros nos Estados Unidos, que, até antes da pandemia de covid-19, estava entre os números mais baixos já registrados na história. No entanto, seu gabinete, por exemplo, conta com poucas pessoas negras como conselheiros, além de ter ordenado o fim do treinamento antirracismo para funcionários federais. O presidente ainda respondeu de forma violenta aos protestos contra a violência policial contra negros após a morte de George Floyd, com atuação militarista.

Violência policial e justiça criminal

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Falando em violência policial, esse é outro ponto de grande discussão, principalmente por conta do caso Floyd. Muitos ativistas exigiram um corte no financiamento das polícias para combater a violência excessiva nesses tipos de abordagens. No entanto, nenhum dos candidatos concorda com essa proposta.

Trump assinou uma ordem executiva para reformar a polícia, em que incentiva os policiais a usarem os últimos padrões de uso da força e bane o uso de estrangulamentos, exceto se a vida do agente estiver em perigo. A determinação é que uma nova legislação deverá ser criada para uma reforma mais profunda.

Biden, apesar de não concordar em cortar financiamentos para a polícia, também acredita em uma mudança mais profunda. Ele defende uma reforma na chamada “imunidade qualificada”, ou o excludente de ilicitude, para policiais que matam em serviço, atitude abominada por Trump. Biden também prometeu investir US$ 300 milhões em um projeto de programa que garantiria maior diversidade na contratação de policiais e faria um treinamento com oficiais para evitar relações adversas com certas comunidades.

Outro ponto em que os candidatos concordam é uma reforma na justiça criminal americana, apesar de as ideias de cada um serem diferentes. Em 2018, o presidente Trump chegou a assinar um decreto bipartidário para reduzir sentenças mínimas obrigatórias e permitir que alguns prisioneiros saíssem da cadeia antes do fim do cumprimento da pena se tivessem bom comportamento. No entanto, o republicano defendeu algumas políticas mais rígidas, incluindo reiniciar a execução de presos condenados à morte em prisões federais.

Biden, por sua vez, é completamente contra a pena de morte e o confinamento em solitária. Ele também é contrário à prisão preventiva até o pagamento de fiança em dinheiro, assim como o próprio pagamento de fiança para libertação. A privatização de prisões também está totalmente fora dos planos de governo do democrata, enquanto, Trump apoia essa iniciativa.

Relação com imigrantes ilegais e fronteiras

Um dos principais motes da campanha de Trump à Presidência em 2016 foi a construção de um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos. O então candidato chegou a afirmar que quem pagaria pela construção do muro seria o México. Quatro anos depois, esse muro está em construção, porém toda a obra foi paga pelos americanos, inclusive com recursos originalmente destinados à Defesa. Até o momento, pouco mais de 480 km foram construídos, com previsão de construção de até 720 km até o final do ano.

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Uma das principais promessas de campanha de Donald Trump durante a campanha à Presidência em 2016 foi a construção de um muro na fronteira com o México para combater a imigração ilegal. Foto: Sarah Silbiger / The New York Times

Para o seu próximo mandato, Trump afirma que pretende continuar as obras. Além disso, o presidente tem atuado para tentar encerrar o programa DACA, também conhecido como “Dreamers”, que protege imigrantes que chegaram aos Estados Unidos ainda crianças e desde então vivem no país ilegalmente. Ele não teve sucesso na Suprema Corte americana, apesar de ainda haver chance de tentar novamente.

Biden, por sua vez, é totalmente contra as ações antiimigração de Trump. Ele afirmou que, mesmo que não derrube as partes do muro fronteiriço com o México já construídas, não vai continuar a obra, e sim investir em maior segurança e triagem mais rígida nas fronteiras e portos de entrada. Com relação ao “Dreamers”, Biden também pretende expandir o programa, inclusive tornar os jovens imigrantes elegíveis para auxílio estudantil do governo e melhorar a legislação para imigrantes em geral conseguirem cidadania americana.

O democrata ainda afirmou que revogaria o banimento de entrada para alguns países de maioria muçulmana, como determinou o presidente em 2018.

Política externa

Desde quando subiu ao cargo de presidente dos Estados Unidos, Donald Trump tomou uma série de decisões e ações que levaram a diversas reações de países e organizações internacionais. A principal e mais atual decisão que chamou a atenção do mundo foi a de iniciar uma guerra comercial com a China sob o pretexto de proteger a indústria local. Trump bateu de frente com Pequim ao impor taxas sobre produtos chineses e acabou recebendo contrataques na mesma moeda, com aumento de tarifas sobre produtos americanos no país asiático. Os dois países chegaram a começar uma negociação, que acabou sendo interrompida com início da pandemia e acusações de Trump contra o governo chinês com relação ao manejo do coronavírus.

Joe Biden discorda da abordagem do presidente e não defende um embate direto. O democrata abomina o modo como Trump lidou com a pandemia, incluindo as acusações contra a China, afirmou que vai renovar alianças com outros países para aplicar uma pressão multilateral contra o adversário asiático.

Ainda na Ásia, os dois também têm atitudes bastante diferentes referentes ao relacionamento com o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Trump já se encontrou pessoalmente em três ocasiões com o ditador em 2018 e 2019 para discutir o programa nuclear da Coreia do Norte. Biden, por outro lado, abomina esse tipo de tratamento. Ele afirma que não se encontraria pessoalmente com Kim sem que concessões prévias fossem feitas pelo líder norte-coreano.

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Donald Trump se reúne com Kim Jong-un em Cingapura em junho de 2018. Foto: AFP Photo/Saul Loeb

Já com relação ao Oriente Médio, os candidatos têm divergências com relação a alguns conflitos em andamento na região. Um deles é a tensão com o Irã, principalmente após o presidente Trump ter ordenado um ataque no Iraque que vitimou o comandante iraniano Qassim Suleimani, no início de 2020. Trump defendeu a ação, acusando Suleimani de ser um líder terrorista. Biden foi contra, afirmando que o ataque “colocou os Estados Unidos e o Irã em rota de colisão”. Esse desacordo também vale para o acordo nuclear com o país, do qual Trump retirou os EUA. Biden promete entrar novamente no acordo desde que o governo iraniano volte a cumprir as restrições definidas no tratado.

No entanto, ambos aprovam a iniciativa de estabelecer a paz na região e a retirada de militares. O atual presidente americano assinou um acordo com o Taleban em fevereiro, que permitiu uma série de encontros de paz. O opositor democrata segue a mesma linha e promete retirar o máximo de tropas americanas do país e focar esforços no combate ao terrorismo, como os grupos Al Qaeda e Estado Islâmico. Outro tratado de paz foi assinado entre Israel e os Emirados Árabes, uma grande conquista de Trump apoiada por Biden.

Por fim, ao contrário de Trump, que tomou diversas atitudes contrárias aos interesses de aliados históricos dos Estados Unidos, como os membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e não ter feito qualquer retaliação ao presidente russo Vladimir Putin após investigações confirmarem intervenção nas eleições americanas de 2016, Biden diz que vai “desfazer o estrago causado por Trump”, nas palavras dele. O democrata promete estreitar laços com os países da OTAN e afirmou que, se for eleito, qualquer nação que tentar interferir no pleito deste ano terá que lidar com sérias consequências.

Proteção de dados

No aspecto de proteção de dados pessoais dos cidadãos, os dois candidatos tem algumas semelhanças. Biden disse acreditar que os Estados Unidos deveriam adotar padrões de privacidade semelhantes aos adotados pela União Europeia, que recentemente aprovou a Regulação Geral de Proteção de Dados (GDPR, na silga em inglês), uma legislação bastante rigorosa sobre o fato.

Trump também diz acreditar nessa linha, apoiando uma legislação em âmbito federal em discussão no Congresso americano sobre privacidade do consumidor. No entanto, esse discurso de proteção de dados não vale para todos. O presidente já criticou empresas do Vale do Silício, principalmente a Apple, por problemas de criptografia e recusas para liberar acesso a celulares utilizados por criminosos. Trump também foi criticado por defensores da privacidade de dados por certas ações que, na visão deles, violam a privacidade de imigrantes, além de ter recusado novas legislações que exigiriam que empresas provedoras de internet pedissem autorização dos consumidores para utilizar certos dados.

Política de armas

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Aqui as diferenças entre os dois programas de governo são escancaradas. Donald Trump já deixou bastante claro que apoia o segundo artigo da Constituição Americana e é totalmente contra banimento de rifles de assalto, o confisco de armas de fogo e até mesmo a necessidade dos donos de armas precisarem registrá-las, apesar de ter pedido um endurecimento no controle desses equipamentos após tiroteios ocorridos no Texas e em Ohio em agosto de 2019.

Biden segue em sentido completamente oposto. Ele pretende renovar o banimento de rifles de assalto, como ele fez ao atuar pela aprovação do primeiro banimento em 1994, e sugere criar um programa do governo de compra de armas de assalto e carregadores de alta capacidade de voluntários. O candidato democrata ainda apoia o registro obrigatório de rifles de assalto caso o dono da arma não queira vendê-la de volta ao governo. Apesar de ser contrário ao confisco obrigatório de armas de fogo, Biden defende a checagem obrigatória de histórico do comprador para todo tipo de arma.

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