THE NEW YORK TIMES — O quão difícil pode ser embarcar em um voo internacional para os Estados Unidos sem passagem aérea e nenhum passaporte? Um homem conseguiu fazer isso em novembro, depois de ele ter passado pela segurança no aeroporto de Copenhague, na Dinamarca, e voado com a companhia aérea Scandinavian Airlines até o Aeroporto Internacional de Los Angeles, carregando apenas carteiras de identidade russa e israelense na bolsa.
O homem, Sergey Vladimirovich Ochigava, conversou com policiais federais com a ajuda de um agente federal que fala russo no dia 5 de novembro, um dia depois de seu voo pousar na Califórnia e ele ser detido. Mas a conversa com as autoridades pareceu apenas aprofundar o mistério em torno da viagem.
Ele disse aos agentes que tinha doutorado em Economia e Marketing e havia trabalhado como economista na Rússia muito tempo atrás, segundo o depoimento do FBI. Ele disse que não dormia havia três dias e “não entendeu o que estava acontecendo”, diz o depoimento. O homem relatou que “poderia ter” uma passagem aérea para os Estados Unidos, mas não tinha certeza.
Leia também
Ochigava também disse que “não lembra como entrou no avião” e “não iria explicar como ou quando foi para Copenhague, nem o que ele estava fazendo lá”. O homem afirmou aos policiais que “não lembrava como passou pela segurança sem um bilhete”.
O viajante foi indiciado por um grande júri federal em novembro sob acusação de ser um passageiro clandestino em uma aeronave, um crime que acarreta pena máxima de cinco anos de prisão. Ele se declarou inocente e seu julgamento está marcado para começar em 26 de dezembro. Sua defensora pública federal, Erica Choi, não respondeu a um pedido de comentário feito pelo The New York Times.
Thom Mrozek, uma porta-voz da Procuradoria dos Estados Unidos para o distrito da Califórnia, disse que as autoridades acreditavam que Ochigava era um cidadão russo e não tinham confirmado nenhum status legal que ele poderia ter em Israel. Os documentos que ele tinha em posse indicavam que ele tem 46 anos, segundo Mrozek.
Lise Agerley Kürstein, uma representante do Aeroporto Internacional de Copenhague, disse que Ochigava foi visto em imagens das câmeras de segurança do aeroporto “sem uma passagem válida”. “O Aeroporto de Copenhague forneceu material fotográfico e de vídeo às autoridades que estão investigando o caso”, disse ela. “Levamos o assunto muito a sério e ele será incluído no trabalho que fazemos continuamente para ajustar e reforçar as nossas diretrizes para melhorar a segurança.”
A companhia aérea Scandinavian Airlines disse em comunicado que poderia apenas confirmar uma “situação relativa a um passageiro” em um voo de Copenhague para os Estados Unidos, e que a questão estava sendo investigada pelas autoridades dos dois países.
Segundo o depoimento, membros da tripulação do voo 931 não viram o cartão de embarque de Ochigava mas perceberam que ele inicialmente sentou no assento 36D, que estava supostamente vazio, e depois vagou pelo avião e permanecia mudando seu assento durante o voo de 12 horas. Ele pediu por dois pratos durante cada serviço de refeição e “em um momento tentou comer um chocolate que pertencia a membros da tripulação”, dizia o depoimento.
Um membro da tripulação disse que Ochigava tentou conversar com outros passageiros, “mas a maioria deles o ignorou”. Depois que a aeronave pousou em Los Angeles, Ochigava se aproximou de um posto de controle da Alfândega e Proteção de Fronteiras e, falando em inglês, disse a um oficial que havia deixado seu passaporte no avião. Mas a companhia aérea não encontrou nenhum passaporte lá, diz o depoimento.
Policiais revistaram a mala dele e encontraram uma identidade russa, usada pra viagens dentro da Rússia, mas nenhum passaporte requerido para entrar nos Estados Unidos. Ochigava também tinha uma identidade israelense, mas não havia nenhum registro de que ele aplicou pela autorização eletrônica que os israelenses precisam para entrar nos Estados Unidos, segundo o FBI.
Um oficial pesquisou o banco de dados de vistos do Departamento de Estado, mas não conseguiu encontrar nenhum registro de que Ochigava tivesse solicitado ou recebido um visto, diz a declaração.
Outra busca no mesmo banco de dados, sobre todos os passageiros do voo da Scandinavian Airlines, juntamente com todos os passageiros que chegaram ao Aeroporto Internacional de Los Angeles em todos os voos europeus antes das 15 horas daquele dia, confirmou que todos foram encontrados no sistema, diz o depoimento.
Um dia depois, Ochigava permitiu que agentes federais olhassem seis fotos em seu telefone antes de desligá-lo, de acordo com o depoimento. Mas isso também pareceu lançar pouca luz sobre sua viagem.
A foto mais recente mostrava telas de televisão exibindo informações de voos que voavam para todo o mundo, inclusive para Amsterdã, Munique e Londres, diz a declaração. As outras fotos, de acordo com o depoimento, mostravam capturas de tela de um aplicativo de mapas de um albergue em Kiel, na Alemanha, e mapas de ruas de “uma cidade estrangeira desconhecida”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.