A Bolívia celebrou ontem o 183º aniversário de sua independência num clima de grande tensão política por causa da proximidade do referendo revogatório, no qual a população escolherá entre ratificar ou não os mandatos do presidente Evo Morales e dos governadores de 8 dos 9 departamentos (Estados) bolivianos. Em La Paz, capital administrativa da Bolívia, Evo acusou a oposição de ser "antipatriótica" por se opor às mudanças que ele quer aplicar no país. "Há grupos que se opõem às mudanças e falam de independência - são grupos que vêm da ditadura", afirmou Evo em discurso. Manifestantes anti-governo forçaram Evo a transferir a celebração do Dia da Independência para La Paz, por causa das ameaças de violência em Sucre, a capital do país, governada pela oposição. O presidente foi ontem à tarde para Santa Cruz, reduto opositor, mas os manifestantes bloquearam ruas e cercaram o estádio onde ele deveria discursar. Evo seguiu para a cidade de Trinidad, no Departamento de Beni (controlado por opositores), mas seu avião nem chegou a pousar, pois os manifestantes haviam cercado o aeroporto. Então, ele voltou para La Paz. O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, denunciou que foi vítima de um atentado em Trinidad. Segundo o ministro, seu veículo foi atingido por disparos, mas ele saiu ileso. Em Sucre, a Fundação Cultural do Banco Central, órgão dependente do Ministério da Fazenda boliviano, impediu os membros do Senado - dominado pela oposição - de se reunirem na chamada Casa da Liberdade, onde tradicionalmente se comemora o aniversário da independência da Bolívia. PROTESTO Savina Cuéllar, governadora do Departamento de Chuquisaca, onde está Sucre, participou de uma cerimônia paralela à de La Paz enquanto manifestantes anti-Evo tomaram as ruas da cidade para protestar contra o referendo. Savina é a única governadora que não submeterá seu mandato à consulta, pois assumiu em junho, após a renúncia de seu antecessor. O referendo será realizado no domingo. Evo e seu vice-presidente, Álvaro Garcia Linera, terão seus mandatos revogados se a votação contra eles superar os 53,7% - porcentagem com a qual foram eleitos em 2005. Já os governadores deverão deixar seus cargos se o apoio à revogação superar os 50% mais um voto. O referendo foi proposto por Evo em dezembro e aprovado em maio pelo Senado. Com ele, o presidente pretende obter apoio para suas reformas. Mas sete dos nove governadores são hoje críticos do governo Evo. Entre maio e junho, quatro deles organizaram em seus departamentos referendos nos quais a população local votou a favor da ampliação da autonomia de La Paz.
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