PEQUIM ― O ex-presidente da China Jiang Zemin, responsável por retirar o país do isolamento após a repressão aos protestos pró-democracia de 1989 na Praça Tiananmen e apoiar as reformas econômicas que levaram a uma década de crescimento acentuado, morreu nesta quarta-feira, 30, em Xangai, aos 96 anos.
De acordo com a imprensa estatal chinesa, Jiang sofria com um estado avançado de leucemia, e teve uma falência múltipla de órgãos às 12h13 (01h13 em Brasília) desta quarta-feira. A morte do ex-presidente foi comunicada por meio de uma carta direcionada ao Partido Comunista, às forças militares e ao povo chinês.
“O camarada Jiang Zemin foi um líder excepcional... um grande marxista, um grande revolucionário proletário, estadista, estrategista militar e diplomata, um combatente comunista de longa data e um líder excepcional da grande causa do socialismo com características chinesas”, afirma a carta, citada pela agência oficial Xinhua.
Jiang Zemin sucedeu o histórico líder chinês Deng Xiaoping como líder do Partido Comunista em 1989, quando a China ainda estava na primeira etapa de sua modernização econômica e sofria com o isolamento internacional após a repressão violenta aos protestos pró-democracia na Praça Tianenmen.
Presidente por dois mandatos, entre 1993 e 2003, Jiang deixou o cargo entregando a Hu Jintao uma China membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), organizadora dos Jogos Olímpicos de 2008 e avançando a passos largos para assumir o papel de superpotência.
Natural da província de Jiangsu, no leste do país, Jiang nasceu em 1926 em uma família relativamente rica da cidade de Yangzhou e cresceu sob a ocupação japonesa durante a 2ª Guerra. Depois de participar de movimentos estudantis clandestinos, entrou para o Partido Comunista em 1946. Ele se formou em engenharia em Moscou e mais tarde se destacou na indústria estatal.
No início da carreira, Jiang não tinha credenciais revolucionárias e o prestígio de Deng Xiaoping, o que o motivou a encabeçar uma nova geração de líderes. Tornou-se prefeito de Xangai em 1985 e pouco depois foi escolhido líder do Partido Comunista na região, o que projeto seu nome em todo país.
Visto por muitos como uma figura de transição, Jiang Zemin foi elogiado por conter as manifestações em Xangai de maneira pacífica na época da repressão, em 1989.
Após uma viagem de Deng em 1992 pelas províncias do sul da China em um momento de desenvolvimento econômico, Jiang se tornou um ferrenho defensor da “reforma e abertura” promovidas por seu chefe para retirar o povo chinês da pobreza.
“Sem abordar primeiro o problema (da sobrevivência econômica), será difícil obter qualquer outro direito”, declarou Jiang em 1997.
O controle estatal da economia foi ainda mais reduzido com seu primeiro-ministro Zhu Rongji (1998-2003) e as relações externas - em particular com os Estados Unidos - melhoraram de modo significativo.
Analistas afirmam que Jiang e seu grupo conhecido como “Shanghai Gang” continuaram a influenciar a política do regime comunista por muito tempo após sua saída do poder, incluindo a eleição de Xi Jinping como presidente em 2012. Seu poder, no entanto, diminuiu a medida que o de Xi aumentou.
De acordo com o canal estatal CCTV, bandeiras serão hasteadas a meio mastro nos edifícios públicos do país em homenagem ao ex-presidente./ AP e AFP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.