Morre aos 86 anos ex-presidente peruano Alberto Fujimori, condenado por crimes contra a humanidade

Fujimori se recuperava de um tratamento contra o câncer de língua; durante seu governo, ele aplicou duras medidas econômicas e, mesmo assim, manteve altos níveis de popularidade

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Por Redação
Atualização:

LIMA — O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, cuja trajetória política começou com triunfos ao restaurar a economia do Peru mas terminou com condenações por violação de direitos humanos e por corrupção, faleceu nesta quarta-feira, 11, aos 86 anos, em sua residência em Lima, onde se recuperava de um tratamento contra o câncer de língua, informou sua família.

“Após uma longa batalha contra o câncer, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de partir para o encontro com o Senhor. Pedimos a quem o apreciou que nos acompanhe com uma oração pelo eterno descanso de sua alma. Obrigado por tudo, papai!”, anunciaram seus filhos Keiko, Hiro, Sachie e Kenji Fujimori na rede social X.

Alberto Fujimori faleceu nesta quarta-feira, 11, aos 86 anos, em sua residência em Lima. Foto: Claudio Santana/AP

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Fujimori, o primeiro filho de japoneses a ser eleito chefe de Estado em outro país, foi presidente do Peru por três mandatos, de 1990 a 2000. Após passar 16 anos preso por violações dos direitos humanos durante seu governo, , ele passou seus últimos meses de vida em liberdade, graças a um indulto humanitário concedido em dezembro de 2023. Sua filha disse em julho que ele planejava concorrer à presidência do Peru pela quarta vez em 2026.

A saúde de Fujimori deteriorou-se rapidamente na última semana, depois de completar o tratamento de radioterapia na boca em agosto. A última aparição pública de Fujimori havia sido em 4 de setembro, quando ele saiu de um hospital particular em uma cadeira de rodas.

Fuga do país e renúncia por fax

O ex-reitor universitário e professor de matemática era um completo outsider político quando venceu a eleição peruana de 1990 contra o escritor Mario Vargas Llosa. Ao longo de uma tumultuada carreira política, ele repetidamente tomou decisões arriscadas e ousadas que lhe renderam tanto adoração quanto reprovação.

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Ele assumiu um país devastado por inflação descontrolada e violência guerrilheira, consertando a economia com ações como privatizações em massa de indústrias estatais. No entanto, sua presidência entrou em colapso de maneira igualmente dramática. Depois de fechar brevemente o Congresso e se impor em um controverso terceiro mandato, ele fugiu do país em 2000, quando fitas vazadas mostraram seu chefe de espionagem, Vladimiro Montesinos, subornando parlamentares. O presidente foi para o Japão, terra de seus pais, e renunciou por fax.

Fujimori surpreendeu apoiadores e opositores cinco anos depois, quando desembarcou no vizinho Chile, onde foi preso e, em seguida, extraditado para o Peru. Ele esperava concorrer à presidência do Peru em 2006, mas acabou indo a julgamento enfrentando acusações de abuso de poder.

Ele se tornou o primeiro ex-presidente no mundo a ser julgado e condenado em seu próprio país por violações de direitos humanos. Ele foi julgado pelo assassinato de 25 peruanos enquanto o governo combatia os rebeldes comunistas entre 1991 e 1992. As acusações contra ele se arrastaram em disputas legais por anos. Não foi constatado que ele ordenou pessoalmente os 25 assassinatos cometidos por esquadrões da morte, mas ele foi considerado responsável porque os crimes foram cometidos em nome de seu governo.

Sua sentença de 25 anos não impediu Fujimori de buscar a reabilitação política, que ele planejava de uma prisão construída em uma academia de polícia nos arredores de Lima, a capital. Sua filha, a congressista Keiko, tentou em 2011 restaurar a dinastia familiar ao concorrer à presidência, mas foi derrotada por uma pequena margem no segundo turno. Ela concorreu novamente em 2016 e 2021, quando perdeu por apenas 44 mil votos, após uma campanha em que prometeu libertar seu pai.

Uma vez no cargo, o discurso firme de Fujimori e seu estilo prático inicialmente lhe renderam apenas elogios, enquanto a inflação anual se aproximava de 8.000%. Ele aplicou o mesmo choque econômico que Vargas Llosa havia defendido, mas contra o qual ele havia argumentado na campanha. Privatizando indústrias estatais, Fujimori cortou gastos públicos e atraiu um investimento estrangeiro recorde.

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Ex-reitor universitário e professor de matemática, Fujimori era um outsider político quando venceu a eleição peruana de 1990 contra o escritor Mario Vargas Llosa Foto: Ernesto Benavides/AFP

Assumindo o poder poucos anos após grande parte da região ter se livrado das ditaduras, o ex-professor universitário acabou representando um retrocesso. Ele desenvolveu um crescente gosto pelo poder e recorreu a meios cada vez mais antidemocráticos. Em abril de 1992, ele fechou o Congresso e os tribunais, acusando-os de impedir seus esforços para derrotar o Sendero Luminoso e impulsionar as reformas econômicas.

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A pressão internacional o forçou a convocar eleições para uma assembleia para substituir o Congresso. O novo órgão legislativo, dominado por seus apoiadores, mudou a constituição do Peru para permitir que o presidente cumprisse dois mandatos consecutivos de cinco anos.

Fujimori foi reconduzido ao cargo em 1995, após uma breve guerra de fronteira com o Equador, em uma vitória eleitoral esmagadora. Defensores dos direitos humanos no país e no exterior o criticaram por aprovar uma lei de anistia geral que perdoava abusos de direitos humanos cometidos pelas forças de segurança durante a campanha “anti-subversiva” do Peru entre 1980 e 1995.

O conflito causou quase 70 mil mortes, segundo uma comissão da verdade, com os militares responsáveis por mais de um terço das mortes. Jornalistas e empresários foram sequestrados, estudantes desapareceram e pelo menos 2.000 mulheres camponesas foram esterilizadas à força.

Condenações e indulto

Em dezembro de 2007, o ex-presidente foi condenado pela primeira vez por ter ordenado que um oficial militar se passasse por promotor público para invadir ilegalmente a casa de Trinidad Becerra, esposa de seu ex-assessor Montesinos, com o intuito de fazer desaparecer os vídeos que demonstravam como Montesinos subornou dirigentes políticos, empresas privadas e governos locais para se aproximarem do governo federal.

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Já em abril de 2009 Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão pelo assassinato de nove estudantes e um professor em La Cantuta e de 15 pessoas, incluindo uma criança de oito anos, em Barrios Altos. Ele também foi condenado pelos sequestros do jornalista Gustavo Gorriti e do empresário Samuel Dyer em abril de 1992. Nesse mesmo ano foi condenado por mais um crime: apropriação ilegal de 15 milhões de dólares dos cofres nacionais.

Em 2015 o ex-presidente recebeu sua quarta e quinta condenações, relacionada a crimes de corrupção. Dois anos depois, o então presidente Pedro Pablo Kuczynski concedeu a Fujimori um indulto humanitário. Contudo, o perdão foi posteriormente anulado pela Suprema Corte em 2018, mas Fujimori ganhou sua liberdade em dezembro do ano passado depois que o Tribunal Constitucional reviveu esse perdão presidencial humanitário concedido por Kuczynski.

Filho de imigrantes

Fujimori nasceu em 28 de julho de 1938, Dia da Independência do Peru, e seus pais imigrantes cultivaram algodão até conseguirem abrir uma alfaiataria no centro de Lima.

Ele obteve um diploma em engenharia agrônoma em 1956, e depois estudou na França e nos EUA, onde recebeu um diploma de pós-graduação em matemática pela Universidade de Wisconsin, em 1972.

Em 1984, ele se tornou reitor da Universidade Agrícola de Lima e, seis anos depois, candidatou-se a presidente sem nunca ter ocupado um cargo político, apresentando-se como uma alternativa íntegra à classe política corrupta e desacreditada do Peru./AP e AFP.

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