TEL AVIV — Israel matou outro dirigente do grupo xiita libanês Hezbollah em um ataque aéreo realizado no sábado no sul de Beirute. Nabil Qaouk foi apontado pelas forças de Defesa de Israel (IDF) como comandante da unidade de segurança interna e membro do conselho executivo da organização político-militar, que confirmou a morte, sem oferecer mais detalhes.
O anúncio foi feito um dia após o Hezbollah confirmar a morte de seu líder, Hassan Nasrallah, em um bombardeio israelense contra o quartel-general do grupo na capital do Líbano. À AFP, uma fonte próxima ao grupo xiita confirmou que Qaouk morreu em um ataque e que o libanês era um membro sênior da organização.
A ofensiva aconteceu na noite de sábado para domingo e matou ao menos 11 pessoas. Ao longo das duas últimas semanas, mais de 1 mil pessoas foram mortas e 6 mil ficaram feridas. Os militares israelenses também afirmaram nas redes sociais que teriam “eliminado” quase toda a cadeia de comando do grupo extremista.
Os ataques estão sendo realizados diariamente desde a segunda-feira, 23, quando cerca de 500 pessoas foram mortas no dia mais sangrento no Líbano desde a guerra de 2006 entre israelenses e o grupo extremista. Também têm sido registrados ataques aéreos por parte do Hezbollah, boa parte deles interceptados.
As Forças Armadas de Israel afirmaram, em comunicado, que o “terrorista Nabil Qaouk, comandante da unidade de segurança” do Hezbollah, foi “eliminado”. Considerado “próximo da cúpula da organização terrorista”, continua o texto, “ele estava diretamente implicado na promoção de planos terroristas contra o Estado de Israel e seus cidadãos, inclusive nos últimos dias”.
O Hezbollah, por sua vez, também em comunicado, confirmou “o martírio do estimado estudioso mujahid Sheikh Nabil Qaouk”, em ataque israelense em Chyah, um subúrbio de Beirute.
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O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou neste domingo que “o assassinato não ficará sem resposta”. O presidente do parlamento iraniano, Mohammad Baqer Qalibaf, afirmou que os grupos armados alinhados ao Irã continuarão a confrontar Israel após as mortes de Nasrallah e Qaouk. “Não hesitaremos em ir a qualquer nível para ajudar a resistência”, disse Qalibaf. O parlamentar também afirmou que os EUA são “cúmplices e terão de aceitar as consequências”.
Qaouk se juntou ao Hezbollah na década de 1980 e ocupou diversos cargos de responsabilidade, segundo o comunicado do Exército. Ele frequentemente aparecia na mídia local, comentando sobre política e segurança do Líbano, e fez discursos em funerais de militantes graúdos do grupo, informou a Associated Press. Os Estados Unidos anunciaram sanções contra ele em 2020.
Nas últimas semanas, vários comandantes seniores do Hezbollah foram mortos em ataques israelenses, incluindo membros fundadores do grupo que conseguiram escapar da morte ou da prisão por décadas e que eram próximos de Nasrallah.
Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas de suas casas no Líbano devido aos últimos ataques. O governo estima que cerca de 250 mil estão em abrigos, com três a quatro vezes mais permanecendo com amigos ou parentes, ou acampando nas ruas, segundo o ministro do Meio Ambiente, Nasser Yassin.
Morte de Hassan Nasrallah
A morte de Hassan Nasrallah aconteceu na última sexta-feira, 27, durante um ataque aéreo massivo de Israel às sedes do grupo extremista no subúrbio de Beirute. O primeiro-ministro libanês anunciou três dias de luto pela morte e alertou que o país está vivendo um momento perigoso.
O chefe do Hezbollah conduziu o grupo libanês durante décadas de conflito com Israel, supervisionando sua transformação em uma força militar com influência regional e tornando-se uma das figuras árabes mais proeminentes das últimas gerações — com apoio iraniano.
Entre os apoiadores, Nasrallah foi elogiado por enfrentar Israel e desafiar os Estados Unidos. Para os inimigos, ele foi o chefe de uma organização terrorista e um representante da teocracia islâmica xiita do Irã em sua disputa por influência no Oriente Médio.
Ele se tornou secretário-geral do Hezbollah em 1992, aos 35 anos, tornando-se a face pública de um grupo que antes era obscuro e fundado pelas Guardas Revolucionárias do Irã em 1982 para combater as forças de ocupação israelenses.
Israel rastreou Hasan Nasrallah por meses antes do assassinato. Os líderes israelenses estavam cientes do paradeiro de Nasrallah havia meses e decidiram atacá-lo na semana passada porque acreditavam ter apenas uma pequena janela de oportunidade antes de o líder do Hezbollah desaparecer em outro local, segundo três altos funcionários da defesa israelense.
Dois dos oficiais disseram que mais de 80 bombas foram lançadas em um período de vários minutos em uma região de prédios no subúrbio no sul de Beirute, capital do Líbano, para matá-lo. Eles não confirmaram o peso ou o tipo das bombas.
Os agentes do Hezbollah encontraram e identificaram o corpo de Nasrallah no início do sábado, juntamente com o de um dos principais comandantes militares do Hezbollah, Ali Karaki, de acordo com as autoridades, que citaram informações de inteligência obtidas de dentro do Líbano. Todas as três autoridades falaram sob condição de anonimato para discutir um assunto delicado.
O Hezbollah confirmou no sábado que Nasrallah foi morto nos ataques israelenses.
A operação foi planejada desde o início da semana, quando os líderes políticos israelenses conversaram com seus colegas americanos sobre a possibilidade de um cessar-fogo no Líbano, e antes do primeiro -ministro Binyamin Netanyahu deixar Israel para fazer um discurso nas Nações Unidas.
Todas as autoridades disseram que Hashem Safieddine, primo de Nasrallah e uma peça-chave no trabalho político e social do movimento, foi um dos poucos líderes seniores do Hezbollah que não estavam presentes no local do ataque.
Eles disseram que Safieddine, há muito tempo considerado um possível sucessor de Nasrallah, poderia ser anunciado em breve como o novo secretário-geral do Hezbollah.
Resposta ao ataque do Irã
De acordo com a rede NBC, Teerã iniciou convocação de militares para possível envio de tropas ao Líbano. O comandante supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, se pronunciou pela primeira vez desde a morte do líder do movimento xiita libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio na região sul de Beirute na noite anterior.
Em uma declaração publicada em seu site, o aiatolá condenou as “mortes causadas ao povo indefeso do Líbano” e afirmou que “todas as forças da região apoiam e estão ao lado do Hezbollah”. Porém, não mencionou Nasrallah. O aumento na segurança de Khamenei foi confirmado pela agência Reuters.
Khamenei afirmou ainda que as mortes de civis no Líbano, cujo governo estima serem mais de 700 ao longo desta semana, “provou a falta de visão e as políticas tolas dos líderes” israelenses. Ele também conclamou a todos os muçulmanos a “apoiar o povo do Líbano e o Hezbollah com todos os meios de que dispõem e ajudá-los a enfrentar o... regime [de Israel]”. O destino da região, acrescentou, “será determinado pelas forças de resistência, com o Hezbollah na vanguarda”.
Envio de tropas ao Líbano
De acordo com um dos porta-vozes do Irã para assuntos internacionais, o aiatolá Mohammad Hassan Akhtari, o país iniciará a convocação de tropas para enviá-las ao Líbano nos próximos dias.
À rede americana NBC News, a autoridade afirmou ainda que militares podem ser “enviados às Colinas do Golã”, que, no entanto, são controladas por Israel. As declarações aumentam o temor de que expansão regional do conflito. Teerã sabe que uma guerra aberta com Israel envolveria riscos elevados e outros atores externos, como os EUA.
O Hezbollah tem agido como linha de frente de Irã contra Israel, em especial por sua capacidade para lançar milhares de mísseis. Assim, quando Israel resolveu iniciar uma grande ofensiva contra o Líbano, mirando nas capacidades de comando e ataque do Hezbollah, o alvo não era apenas o grupo xiita, mas sim o próprio regime de Teerã.
O Hezbollah é financiado e apoiado pelo Irã, integrando o chamado “Eixo da Resistência”, uma aliança informal liderada por Teerã que conta com países e movimentos extremistas islâmicos espalhados pelo Oriente Médio. Todos fazem oposição à influência do Ocidente na região e à existência do Estado de Israel. Embora a maioria dos grupos seja xiita, como o Hezbollah, o grupo terrorista Hamas, sunita, e o regime alauíta de Bashar al-Assad, na Síria, também integram a coalizão.
Alerta para retaliação
Porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, atualizou no sábado as “diretrizes de comando da frente interna” de Israel, dizendo que reuniões de mais de 1.000 pessoas seriam restringidas até a noite de segunda-feira em várias partes do país.
Hagari disse que a atualização foi feita “após uma avaliação da situação” e efetivada imediatamente. Há uma preocupação generalizada sobre a possibilidade de retaliação por parte do Hezbollah ou seus aliados após o assassinato do líder Hasan Nasrallah em um ataque aéreo israelense em Beirute.
O IDF tinha dito anteriormente que permaneceria em “alerta máximo” para uma possível retaliação ou escalada mais ampla após o ataque. O porta-voz do IDF, Nadav Shoshani, disse a repórteres em uma coletiva no sábado que a maioria dos “líderes seniores do Hezbollah foram eliminados”, prevendo que isso provavelmente teria um papel na prevenção de ataques em maior escala pelo grupo militante.
O exército de Israel disse que Nasrallah havia sido morto na sexta-feira após um “ataque ao Quartel-General Central”, que, segundo ele, estava sob um prédio residencial na área de Dahieh, em Beirute. Shoshani disse aos repórteres que os líderes do Hezbollah tinham se “encontrado lá para uma reunião”.
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