Explosão de represa na Ucrânia: o que se sabe até agora e o que pode acontecer?

Represa está localizada em área sob ocupação russa, e países em guerra se acusam mutuamente; explosão afeta abastecimento de água e resfriamento da maior usina nuclear da Europa

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Por Redação
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Uma represa no sul da Ucrânia explodiu nesta terça-feira, 6, e se dividiu ao meio. Milhares que vivem às margens do rio Dnieper, que corta o país, precisam ser retirados da área à medida que um volume alto de água corre pelo rio e inunda os arredores. A autoria do ataque não está determinada, e Kiev e Moscou se acusam mutuamente.

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A explosão representa riscos altos para a segurança da maior usina nuclear da Europa, de Zaporizhzhia, e ameaça comunidades que vivem às margens do rio, ao sul da represa, na região de Kherson. A represa estava sob controle russo desde o ano passado.

As pessoas começaram a ser retiradas pelas autoridades ucranianas horas depois da explosão. De acordo com modelos matemáticos, a água da represa pode inundar Kherson entre 3 e 19 horas após a represa ser rompida, a depender do volume de água que jorra do rio.

Abaixo, veja o que se sabe e o que pode acontecer em torno desta explosão:

Imagem mostra área inundada de Kherson, na Ucrânia, após ataque russo em represa hidrelétrica de Kakhovka, nesta terça-feira, 6. Moscou e Kiev se acusam mutuamente de ataque Foto: Cedida/via AFP

Represa está perto do front da guerra

A Usina Hidrelétrica Kakhovka fica na cidade de Nova Kakhovka, na região de Kherson, na Ucrânia, atualmente sob ocupação da Rússia. Foi construída na era soviética e é uma das seis barragens ao longo do rio Dnipro, que corta a Ucrânia do norte até o sul.

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A estrutura fica próxima da linha de frente da guerra na região sul de Kherson. No ano passado, as forças da Rússia assumiram o controle da represa e de uma usina hidrelétrica próxima. Imagens de satélite mostraram danos recentes a uma ponte próxima à represa dias antes da destruição desta terça-feira.

A represa é tão grande que em alguns locais não é possível ver a outra margem. Graças a isso, os moradores a chamam de Mar Kakhovka.

Danos são irreparáveis

Vídeos da represa analisados pelo The New York Times não revelam o que causou a destruição. No entanto, é possível ver uma quantidade significativa de água vazando pela estrutura, indicando dano severo.

A empresa hidrelétrica da Ucrânia, Ukrhidroenergo, disse que o local foi totalmente destruído e não pode ser restaurado. O rio Dnipro também foi contaminado com 150 toneladas de material industrial, disse o presidente ucraniano Volodmir Zelenski, e outras 300 toneladas correm o risco de vazar.

Segundo análise da Associated Press, nos últimos dias não houve mudança no fluxo de água na represa, até esta terça-feira.

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Rússia e Ucrânia trocam acusações

A Ucrânia e a Rússia se acusam mutuamente há meses de planejar a explosão da represa. Em outubro, o chefe da inteligência militar da Ucrânia, general Kirilo Budanov, disse que a Rússia havia colocado explosivos na estrutura. Oficiais militares ucranianos culparam as tropas russas pela destruição.

A tese de ataque da Rússia é plausível porque a ponte sobre a represa poderia servir para transporte de tropas do território ocupado pela Ucrânia ao território ocupado pelos russos, como parte da contraofensiva da guerra.

Vladimir Leontiev, prefeito de Nova Kakhovka nomeado pela Rússia, atribuiu os danos ao bombardeio, mas negou que a represa tenha sido destruída, de acordo com a RIA Novosti, uma agência de notícias estatal russa. Ele não disse quem foi o responsável pelo bombardeio.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, negou ação da Rússia e, em vez disso, culpou a Ucrânia. Ele chamou a ação de um ato de “sabotagem” para privar a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, de água. A represa é um canal vital para o abastecimento de água do território anexado.

Quando a Crimeia foi anexada, a Ucrânia bloqueou um canal que transportava água de Nova Kakhovka e provocou uma crise hídrica na península. As forças russas reabriram o canal logo após a invasão, no ano passado. Mas, sem a represa, a queda do nível da água pode comprometer novamente o fluxo de água ao longo do canal.

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Milhares de pessoas em risco

Comunidades ao longo do rio correm o risco de serem inundadas e arrastadas. Cerca de 16 mil pessoas estão na “zona crítica” na margem direita do rio Dnieper, controlada pela Ucrânia, disse o administrador militar regional, Oleksandr Prokudin.

Imagens de Nova Kakhova mostram edifícios cercados por enchentes e até mesmo cisnes remando em torno de um escritório do governo local. As pessoas que vivem em partes baixas da cidade de Kherson, a menos de 80 quilômetros rio abaixo, foram avisadas para se retirar o mais rápido possível e procurar abrigo em terrenos mais altos.

Prokudin disse à TV ucraniana esta manhã que oito aldeias já foram total ou completamente inundadas, com a expectativa de que mais sejam inundadas.

O dano ameaça interromper os serviços vitais fornecidos pelo reservatório destruído, responsável pelo abastecimento de água para beber, uso de agricultura e resfriamento da Usina Nuclear de Zaporizhzhia nas proximidades. As preocupações de segurança sobre a instalação nuclear já haviam levantado alarmes. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse que não há risco imediato de segurança nuclear e monitora a situação.

A destruição da represa também representa um risco significativo para portos próximos e silos de grãos, bem como para o ecossistema circundante, dizem os especialistas. /NYT E AP

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