KIEV – Grandes explosões atingiram uma base aérea russa na Crimeia e fizeram grossas colunas de fumaça subir no horizonte nesta terça-feira, 9, em uma ação que pode marcar uma escalada na guerra na Ucrânia. Pelo menos uma pessoa morreu e várias outras ficaram feridas, afirmaram as autoridades.
O Ministério da Defesa da Rússia negou que a base de Saki, no Mar Negro, tenha sido bombardeada e afirmou, em vez disso, que munições depositadas no local explodiram. Entretanto, as especulações de que o local foi atingido por mísseis de longo alcance disparados pela Ucrânia se espalharam nas redes sociais ucranianas.
Vídeos postados em redes sociais mostraram banhistas fugindo de uma praia nas proximidades enquanto chamas imensas e colunas de fumaça ascendiam em vários pontos do horizonte, acompanhadas de ruidosos estrondos. O Crimea Today News afirmou no Telegram que testemunhas relataram ter visto fogo em uma rodovia e danos a duas residências próximas, resultado do que o meio de imprensa descreveu como dúzias de explosões.
A agência estatal de notícias russa Tass citou uma fonte não identificada do ministério afirmando que a causa principal das explosões pareceu decorrer de uma “violação de procedimentos de segurança contra incêndios”. O ministério afirmou que nenhuma aeronave militar foi danificada.
O Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou sarcasticamente no Facebook: “O Ministério da Defesa da Ucrânia não pode estabelecer a causa do incêndio, mas ressalta mais uma vez regras de segurança contra incêndio e proibição de fumar em lugares não especificados”.
Durante a guerra, a Rússia relatou vários incêndios e explosões em locais de armazenamento de munição em seu território nas proximidades com a fronteira ucraniana, atribuindo a culpa de algumas ocorrências a ataques ucranianos. Autoridades ucranianas, na maioria dos casos, não se pronunciaram a respeito dos incidentes, mantendo uma postura ambígua.
Se as forças ucranianas foram, de fato, responsáveis pelas explosões na Crimeia, a ação representaria o primeiro grande ataque contra uma posição militar russa na Península da Crimeia, que o Kremlin anexou em 2014. Uma explosão menor ocorrida mês passado no quartel da frota russa no Mar Negro, no porto crimeio de Sevastopol, foi atribuída a uma ação de sabotadores ucranianos que usaram um drone improvisado.
Aeronaves militares russas têm utilizado a base de Saki para ataques rápidos contra o sul da Ucrânia.
O líder da Crimeia, Sergei Aksionov, afirmou que ambulâncias e helicópteros médicos foram enviados para a base e que a área está interditada em um raio de cinco quilômetros.
Uma pessoa foi morta, de acordo com Aksionov. Autoridades crimeias de saúde afirmaram que seis pessoas ficaram feridas, uma das quais permanecia hospitalizada. Os demais feridos receberam tratamento para cortes causados por vidros estilhaçados e foram liberados.
Autoridades em Moscou dizem há muito à Ucrânia que qualquer ataque contra a Crimeia desencadearia uma retaliação massiva, incluindo ataques contra “centros de tomada de decisão” em Kiev.
Ataque contra usina de Zaporizhzhia
Anteriormente nesta terça-feira, autoridades ucranianas informaram que pelo menos três civis foram mortos e 23 ficaram feridos em razão de bombardeios russos em 24 horas, incluindo em um ataque contra a usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pela Rússia.
Os russos dispararam mais de 120 foguetes contra a cidade de Nikopol, a partir da usina, sobre o Rio Dnipro, afirmou o governador de Dnipropetrovsk, Valentin Reznichenko. Vários edifícios residenciais e campos industriais foram danificados, afirmou ele.
Ucrânia e Rússia acusaram uma à outra de ter atacado a usina nuclear, a maior da Europa, desencadeando temores internacionais sobre uma possível catástrofe.
Em seu discurso noturno da segunda-feira, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, invocou o desastre de 1986 na usina nuclear ucraniana de Chernobyl. Ele pediu novas sanções contra a Rússia, acusando-a de provocar o risco de outro desastre atômico. “Estamos informando o mundo ativamente a respeito da chantagem nuclear da Rússia”, afirmou ele.
O Kremlin alegou que são militares ucranianos que estão atacando a usina e pediu às potências ocidentais que impeçam Kiev.
Uma autoridade instaurada pela Rússia na parcialmente ocupada região de Zaporizhzhia afirmou que um sistema antiaéreo estacionado na usina seria reforçado após o bombardeio da semana passada. Evgeni Balitski, autoridade-chefe com apoio do Kremlin, afirmou à TV estatal russa que linhas de transmissão de energia e outras partes danificadas da usina foram restabelecidas.
“A usina está funcionando normalmente, mas, evidentemente, com um grau aumentado de segurança”, afirmou Balitski.
Nas semanas recentes, os ucranianos têm organizado contra-ataques em áreas ocupadas pelos russos no sul da Ucrânia ao mesmo tempo que tentam impedir o avanço das forças do Kremlin na região industrial do Donbas, no leste do país. /ASSOCIATED PRESS
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