BOGOTÁ - Ao menos dois policiais e um civil morreram na manhã desta terça-feira, 14, após duas explosões no aeroporto internacional de Cúcuta, na Colômbia, próximo da fronteira com a Venezuela. As detonações fizeram a alta cúpula do governo colombiano descrever a ação como um “ataque terrorista”.
A primeira detonação aconteceu quando um suposto terrorista conseguiu passar pela grade que separa as instalações do aeroporto e a pista de pouso. O artefato explodiu quando ainda era carregado. Segundo o relato da polícia, os restos mortais do homem ficaram espalhados pelo local – ele foi a única vítima da primeira explosão.
A segunda detonação ocorreu quando dois agentes do esquadrão antibombas da Colômbia inspecionavam uma área do aeroporto e encontraram uma mala. “Nossos especialistas antiexplosivos, ao fazerem o reconhecimento da área, identificaram uma maleta que também explodiu e causou a morte dos dois”, informou o chefe da Polícia Metropolitana de Cúcuta, coronel Giovanni Madarriaga.
O presidente colombiano, Iván Duque, repudiou as explosões no aeroporto de Cúcuta, que classificou como um "covarde ataque terrorista". Duque ainda garantiu que polícia e Exército estão coordenando as "ações imediatas para encontrar os responsáveis" pelo atentado.
O ministro colombiano da Defesa, Diego Molano, também condenou a ação e se referiu a ela como um “atentado terrorista”, sugerindo que ele poderia ter sido planejado em território venezuelano. Segundo Molano, grupos rebeldes colombianos operam livremente na Venezuela. “Rejeitamos e condenamos esse ato terrorista que tem, como sempre, propósitos de desestabilizar a Colômbia”, disse.
Molano lembrou que em Cúcuta e seus arredores operam o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Essas organizações, muitas vezes, planejam, financiam e desenvolvem ataques em território venezuelano e depois buscam cometê-los em território colombiano, infelizmente”, declarou o ministro, em entrevista à emissora Caracol.
Barril de pólvora
As explosões ocorreram numa das regiões mais divididas da Colômbia, tornando obscuras tanto as motivações do atentado quanto sua autoria. Segundo Paulo Ramirez, cientista político da ESPM-SP, a região é disputada por forças dissidentes das Farc, que se recusaram a assinar o acordo de paz de 2016, por chefes de cartéis de drogas, que tentam recuperar parte do poder, e pelas elites agrárias insatisfeitas com o crescimento da esquerda na campanha das eleições presidenciais de maio de 2022.
“O presidente colombiano, Iván Duque, se apressou a divulgar que seria um atentado terrorista”, disse Ramirez. “Mas há uma série de elementos interessados em desestabilizar a situação atual.”
Duque apoia a candidatura de Óscar Iván Zuloaga, do partido Centro Democrático, o mesmo do ex-presidente Álvaro Uribe, de maioria conservadora. A candidatura de esquerda é liderada pelo senador e ex-guerrilheiro do M-19, Gustavo Petro, atualmente à frente nas pesquisas. “Muitos produtores rurais que ajudaram os governos americano e colombiano a combater a guerrilha e os traficantes estão insatisfeitos com a ascensão da esquerda”, afirmou Ramirez. “Essa, portanto, pode ser uma ação política.”
Turbulência
Pelo menos cinco ataques, incluindo o de ontem, foram registrados na região fronteiriça com a Venezuela desde meados do ano. No mais grave deles, um foguete disparado do solo atingiu o helicóptero em que viajava o presidente Duque, quando a aeronave se aproximava do aeroporto de Cúcuta, em 25 de junho. Nem o presidente nem seus assessores ficaram feridos./ AFP e EFE
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.