Embora o partido do ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu tenha levado o maior número de cadeiras nas eleições da última terça-feira, 1º em Israel, segundo os resultados preliminares, os grandes vitoriosos são os partidos de extrema direita e ultra ortodoxos. Com um resultado histórico, o Sionismo Religioso deve conquistar 14 cadeiras no Parlamento, o dobro do que conquistou nas eleições anteriores e tornando-o uma força importante no possível novo governo Netanyahu.
Ainda que os resultados finais só devem ser conhecidos na sexta-feira, 4, com quase 88% das urnas apuradas, o bloco de Netanyahu caminha para ter uma maioria simples. Até esta quarta-feira, 2, o Likud, partido do ex-premiê, tem 32 assentos no Knesset, o Parlamento Israelense, seguido pelo partido de centro-direita do atual premiê Yair Lapid, o Yesh Atidi, com 24.
Em terceiro lugar ficou o Sionismo Religioso, liderado pelo extremista Itamar Ben-Gvir, com 14 assentos pela primeira vez na história. Acima do partido Unidade Nacional, do ex-premiê e ministro da Defesa, Benny Gantz, que deve obter 12 assentos e já anunciou que vai compor a oposição. Por fim, compondo o bloco com o Likud e que devem estar no governo: Shas, com 11, e United Torah Judaism, com 8.
Com esse resultado preliminar, o bloco de Netanyahu teria 65 dos 120 assentos do Parlamento, um pouco acima dos 61 necessários. Mas os resultados ainda podem mudar até o final da contagem, especialmente porque faltam ser contabilizados votos de regiões árabes que podem trazer o Meretz ou o Balad para o Knesset - no momento ambos os partidos árabes estão abaixo do mínimo necessário de 4 cadeiras.
Essa mudança, porém, não será suficiente para mudar a realidade de que Netanyahu chefiará o novo governo, nem reduzirá a extrema direita como terceira força, mas pode deixar a coalizão do Likud com uma minoria ainda mais apertada, o que, na prática, pode deixar Netanyahu refém dos extremistas.
Além do número de cadeiras para sua coalizão, Netanyahu terá de agradecer a Ben-Gvir pelo o aumento da participação eleitoral nestas eleições, que foi 6% maior que o pleito de 19 meses atrás e a maior desde 1999. Segundo análises da imprensa israelense, o extremista conseguiu mudar alguns votos que no pleito de 2019 eram anti-Netanyahu para o bloco pró-Netanyahu.
“Se Netanyahu realmente tiver assentos para formar um governo de coalizão, ele ficará em dívida com Ben-Gvir – e o líder de extrema direita terá uma longa lista de demandas. Assim como os dois partidos ultra-ortodoxos Shas e United Torah Judaism, que retornarão da oposição com vingança”, pontua o jornal Haaretz.
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Fazer concessões
Ainda que Netanyahu tenha adotado um tom conciliatório após os resultados de boca de urna, dizendo que fará um “governo nacional que cuidará de todos” e prometeu respeitar todos os cidadãos, analistas dizem que ele terá de adotar políticas de linha dura para manter os partidos de sua coalizão unidos e evitar uma nova dissolução do Parlamento.
Embora já tenha sido líder de Israel por 12 anos consecutivos, este novo governo Netanyahu será muito diferente dos anteriores, especialmente porque terá de ceder Ministérios para forças políticas que até então tinham pouca representação no Parlamento.
“Os ortodoxos costumam querer ministérios ligados à questão mais interna de Israel, então, por exemplo, o Ministério do Interior, da Educação, e provavelmente os partidos de extrema direita também terão interesse nesses ministérios e outras pastas ligadas a aspectos religiosos do Estado de Israel, que fortalecem uma visão ortodoxa do Judaísmo”, explica a professora Karina Calandrin, doutora em Relações Internacionais e coordenadora do Instituto Brasil-Israel (IBI) ao Estadão.
Na vida cotidiana dos israelenses, essa nova composição de governo deve impactar avanços já feitos em administrações anteriores, inclusive do próprio Netanyahu, como casamentos a distância, pautas LGBT e os históricos Acordos de Abraão de aproximação com países árabes. Até mesmo a sinalização feita por Yair Lapid na Assembleia Geral da ONU sobre uma solução de dois Estados, considerando o conflito com a Palestina, deve ser descartada.
“Isso pode ser uma pode ser muito prejudicial para acordos tanto já estabelecidos quanto os possíveis futuros acordos que estavam sendo delineados (a exemplo do Líbano), depende muito de qual vai ser a relevância desses partidos de extrema direita dentro do governo”, completa a professora.
Análises sobre Israel
Vida útil
A grande questão, no entanto, é quanto tempo esse novo governo vai sobreviver. Uma pergunta que os próprios israelenses se fazem depois de votarem pela quinta vez em três anos. O último governo se dissolveu depois que a coalizão liderada por Naftali Bennett e formada para derrotar “Bibi” Netanyahu entrou em choque com a própria diversidade da composição interna - que incluía partidos de centro, direita, esquerda, árabes e trabalhistas.
Agora, Netanyahu terá de lidar com uma diversidade ainda mais difícil de manejar, já que ele próprio tem divergências com a extrema direita e os ortodoxos. Além disso, se as projeções se confirmarem e seu bloco tiver entre 61 e 63 cadeiras, sua coalizão será muito frágil e pode se desfazer com apenas dois ou três deputados migrando de lado.
Com a figura controversa que Netanyahu se tornou, em que a política israelense é basicamente uma disputa de apoiadores e opositores de Bibi, analistas apostam que este governo não durará os quatro anos que deveria durar. “A oposição vai ser bem rígida com esse governo e isso pode gerar crises políticas muito intensas”, aponta Karina Calandrin.
“Além disso, a gente vê internacionalmente como a extrema direita se torna um governo bastante instável pelas polêmicas que acabam se envolvendo. E também tem os processos de corrupção de Netanyahu que estão correndo na justiça”.
A tudo isso se soma o risco que Bibi corre de se tornar “uma vítima de seu próprio monstro”, como aponta alguns jornais israelenses, já que foi ele quem deu espaço para os nacionalistas crescerem dentro de Israel. Agora, com uma extrema direita se tornando uma força consolidada na política, Binyamin Netanyahu pode se tornar “obsoleto”.
“Com o avanço da extrema direita, ele é uma figura que vai ser cortada também, porque nem o Likud e nem ele comungam com esses valores da extrema direita do ponto de vista ideológico. Os ultra ortodoxos não têm aspirações a ter um primeiro-ministro, mas a extrema direita sim, e com isso ele tem que ficar atento”, finaliza a professora./Com informações do NYT e de Renato Vasconcelos
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