O atual responsável pela Embaixada da Ucrânia em Brasília, o conselheiro Anatoliy Tkach, afirma que falta um posicionamento do Brasil em relação à crise geopolítica envolvendo seu país e a Rússia, tendo em vista principalmente que o Brasil abriga hoje perto de 600 mil ucranianos, é um líder regional e o maior parceiro comercial da Ucrânia na América do Sul.
Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, Tkach avalia que o fato de o presidente Jair Bolsonaro se encontrar em fevereiro com o presidente russo, Vladimir Putin – como prevê o Palácio do Planalto –, não significa um aceno de apoio à Rússia nesta crise. Mas ele pondera que, no momento, seria importante Bolsonaro equilibrar a ida à Rússia, se confirmada, com uma visita também à Ucrânia.
Os Estados Unidos acreditam que o presidente russo, Vladimir Putin, ainda não decidiu se irá atacar a Ucrânia novamente, mas Moscou "claramente agora tem essa capacidade" de tomar territórios importantes de Kiev, disse o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, nesta sexta-feira, 29. O presidente americano, Joe Biden, disse também na sexta-feira que pretende enviar algumas tropas dos EUA para a Europa Oriental.
A seguir, trechos da entrevista.
Até o momento, como avalia a posição do Brasil em relação a essa crise?
Temos uma história de relações diplomáticas com o Brasil durante os últimos 30 anos. Essas relações foram levadas até o nível da parceria estratégica. O Brasil é um importante sócio nas Américas, o maior sócio comercial na América do Sul. Uma história de relações de muita confiança. O Brasil não está votando contra nossas iniciativas nos organismos da ONU, apesar de também não nos apoiar.
Mas até agora o Brasil não se manifestou em relação à crise com a Rússia.
O Brasil segue apoiando nossa soberania e a solução pacífica dos conflitos, e por isso seria interessante ter um sinal de apoio à Ucrânia. O Brasil é um país muito importante, o primeiro a se pronunciar no Conselho de Segurança da ONU, um líder regional, além de abrigar uma grande comunidade de ucranianos, que está quase em 600 mil. Falta um posicionamento em relação a esse assunto.
Mesmo com a possibilidade de conflito, o presidente Jair Bolsonaro não cancelou a viagem para encontrar Putin. Isso pode ser um gesto brasileiro à Rússia em detrimento da Ucrânia?
Não acho que a visita seja um sinal de apoio à Rússia, já que a Rússia também tem seus interesses e vínculos comerciais com o Brasil. Mas, olhando a situação atual entre a Rússia e a Ucrânia, seria interessante equilibrar a visita à Rússia com uma visita à Ucrânia.
O antigo embaixador da Ucrânia no Brasil disse em novembro que ainda era cedo para julgar qual será o cenário. Hoje, em janeiro, qual é o cenário?
Desde novembro, a Rússia subiu as apostas nas conversações com a Otan. São exigências inaceitáveis, absurdas, que não têm fundamento, como impedir a adesão da Ucrânia à Otan ou à União Europeia. Não cabe a eles decidir isso.
As retaliações da UE e a ajuda fornecida até agora pela Otan são suficientes para a Ucrânia para afastar o risco de uma guerra?
Não diria que existe um ponto certo para impedir ou não uma guerra ou invasão. A Ucrânia, com apoio dos países parceiros, deve preservar a unidade. O que estamos vendo é uma unidade dos parceiros sem precedentes. Não é só questão da segurança da Ucrânia, já é questão de segurança da Europa e toda a ordem mundial.
O sr. acredita que a guerra seja inevitável?
A guerra continua desde 2014, com mortes de nossos soldados todos os dias. Houve um crescimento das forças russas nas nossas fronteiras, mas até agora não é possível saber o que vai acontecer nessa guerra. Estamos fazendo de tudo para que não ocorra uma invasão. Temos uma estratégia com três pilares: diplomacia, preparação de sanções econômicas e cooperação militar.
Hoje, a Ucrânia conseguiria resistir a uma ofensiva russa?
Essa cooperação militar com os parceiros é um dos nossos esforços. Se comparar o país em 2014 e agora, hoje, nosso Exército é muito mais preparado e tem mais armamentos modernos e experiência de guerra.
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