Em meio a uma onda de adesão dos jovens ao Partido Republicano nos Estados Unidos, o prestígio social de ser reconhecido como legal ou popular pode parecer uma meta ilusória para os conservadores. Com crenças políticas que muitas vezes são opostas às de grandes figuras culturais, os republicanos frequentemente reclamam de sua representação enquanto pessoas “caretas”.
Donald Trump não é uma exceção a essa tendência. Aparentemente, sua tomada hostil do Kennedy Center nesta semana foi determinada por um desejo de tornar a venerável instituição “atraente”.
“Nós tornamos a presidência atraente”, disse Trump ao seu recém-formado conselho, de acordo com uma gravação de áudio obtida por Jake Tapper, da CNN. “Então deve ser fácil fazer isso.”
Foi com esse espírito sedutor que um grupo jovens trumpistas se reuniu na noite da quarta-feira no Centurion New York, um clube exclusivo, no 55.º andar de um prédio de Midtown Manhattan, para celebrar o governo republicano empossado recentemente e afirmar sua capacidade de estar na moda — assim como sua fidelidade ao novo presidente.

“O presidente dos EUA está tornando sexy ser republicano novamente”, disse Max Castroparedes, de 27 anos, um autointitulado “consultor internacional e viajante”. “Ele está tornando glamoroso ser republicano novamente. Está transformando ser republicano em algo ótimo novamente.”
Ex-assistente especial do Departamento de Segurança Interna durante o primeiro mandato de Trump, Castroparedes trabalha agora para a Montfort, uma empresa sediada em Palm Beach, Flórida, que se autodenomina “uma firma de consultoria estratégica especializada”. Ele convidou uma dúzia de amigos para se reunir em um camarote com paredes de vidro da Centurion, emoldurado por vistas panorâmicas do horizonte, uma alta parede de vinhos e um imponente lustre preto.
Os homens usavam gravata, as mulheres carregavam bolsas vintage da Dior, e a playlist — supostamente copiada de Mar-a-Lago, a propriedade de Trump em Palm Beach — ia do rock clássico (“Don’t Stop Believin’”) aos clássicos da Broadway (“Do You Hear the People Sing?” de “Les Miserables”) a algo chamado “The Trump Song”, uma canção de salsa com o refrão: “Oh, meu Deus, eu votarei/Eu votarei em Donald Trump”. (Castroparedes pedia frequentemente para os garçons aumentarem o volume da música.)
Composto exclusivamente por menores de 30 anos, o grupo também, é claro, foi lá beber e conhecer pessoas, incluindo um participante que silenciosamente admitiu ser um eleitor de Kamala Harris.
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Guinada à direita
Esse convidado, um jovem gay na faixa dos 20 anos, disse que notou uma guinada política para a direita em seu círculo social, mas acreditava que era “sobre proximidade ao poder, em vez de convicção ideológica”. De talvez 100 amigos, ele disse que descreveria “talvez uma dúzia como trumpito”.
O grupo não está tentando apenas transformar em algo legal ser um jovem fã do Partido Republicano: o New York Young Republican Club tem tido cada vez mais visibilidade no circuito da coquetelaria, com convidados famosos — e ocasionalmente ex-presidiários — como Stephen Bannon, o agitador de podcasts que foi a atração principal em um baile de gala do grupo, em dezembro, poucas semanas após ser libertado de uma prisão federal. O grupo também tem celebrações menos caras, como um evento de “champanhe, caviar e coquetéis” planejado para o fim deste mês em um bar clandestino no Lower East Side.
“Mas não se preocupe”, dizia o convite. “Nós, conservadores, não temos nada a esconder!”
Juventude Trumpista
Dito isto, no caso da festa de Castroparedes, que ele descreveu como uma reunião da “Juventude MAGA”, alguns dos convidados eram tímidos, pedindo à equipe de reportagem que evitasse identificá-los e hesitando quando questionados sobre seus motivos para estar lá. Um dos que falou foi Jairo Gonzalez Ward, de 28 anos, um consultor cuja semelhança com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, pode incomodar algumas pessoas no governo Trump.
Mas até mesmo Ward, cuja empresa, Allume Consulting, ajudou a pagar o espaço alugado no Centurion, disse que não tinha firmeza em se identificar como conservador ou mesmo como “inteiramente político”.
“E acho que isso se aplica à maioria das pessoas neste recinto”, disse Ward. “Não acho que este espaço seja monolítico. E não acho que o movimento, entre aspas, conservador hoje seja monolítico.”
Ainda assim, acrescentou Ward, “de uma perspectiva empresarial, é muito interessante o que está acontecendo agora”.
“Se há um denominador comum entre as pessoas neste recinto e um tipo de aspecto fundamental do governo é uma aversão estrita à inércia”, disse ele. “E disso eu gosto.”
Outros foram menos ambíguos a respeito de suas convicções, incluindo um homem de 29 anos, que pediu para não ser identificado por questões profissionais, mas disse que Trump era seu ídolo.
“Eu o amo há muitos e muitos anos”, disse o jovem, sugerindo ser descrito pelo repórter como “um republicano rico”.
‘Consciência social virou uma chatice’
Muito tem se falado sobre as recentes incursões dos republicanos para conquistar jovens — os “parças”, aquele quadro amorfo, muitas vezes machista, que povoa alguns ecossistemas online — e o presidente se saiu muito melhor entre os eleitores jovens em 2024 em comparação à sua derrota em 2020. Confirmando essa tendência, uma mulher de 23 anos que compareceu ao jantar disse que vive com dois amigos, na Califórnia confiavelmente democrata, que votaram em Biden em 2020 e mudaram para Trump em 2024.
“Em 2020, era considerado legal ser progressista”, disse ela, mencionando eventos como os protestos do Black Lives Matter. “Era legal ter consciência social. E eu sinto que agora as pessoas estão tão cansadas disso, viram as repercussões e não gostam das políticas.”
De sua parte, Castroparedes, que mencionou o desejo de algum dia concorrer ao Senado dos EUA pelo Estado do Texas, onde nasceu, disse que queria replicar esses eventos em outros locais, como uma espécie de “show itinerante” com jantares de republicanos jovens, na esperança de “deixar as elites confortáveis” em ser abertamente conservadoras, o que ele descreveu simultaneamente como algo “ousado” e “a coisa a se fazer”.
“Acho que ter mais jovens na política é uma coisa boa”, disse ele, gesticulando para os convidados ao redor de uma mesa e anotando suas qualificações — dois jornalistas, um especialista em saúde e o descendente de um famoso produtor de Hollywood. “Eles não têm de ser picaretas na política, como em Washington.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO