FBI critica Trump por tentativa de divulgar relatório

Memorando republicano alega que Departamento de Justiça agiu de maneira política em investigação sobre intervenção russa nas eleições

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WASHINGTON - O diretor do FBI, Christopher Wray, entrou nesta quarta-feira em confronto com o presidente americano, Donald Trump. Wray condenou a tentativa de Trump e dos republicanos de divulgar um memorando secreto produzido pelo partido que detalha possíveis abusos de vigilância cometidos pelo Departamento de Justiça nas investigações sobre a interferência russa nas eleições dos EUA.

Christopher Wray, diretor do FBI, critica Trump sobre divulgação de relatório Foto: Zach Gibson/The New York Times

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O FBI divulgou um comunicado em que afirma estar “seriamente preocupado” com a possibilidade de publicação do relatório. “O FBI teve um tempo limitado para revisar o memorando e tem graves preocupações sobre o material e as omissões de fatos fundamentais que têm impacto na precisão do memorando”, diz o comunicado.

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A divulgação do documento, produzido pelo deputado republicano Devin Nunes, aliado de Trump, foi aprovada na terça-feira pelo Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, controlada pelo Partido Republicano. A Casa Branca tem até cinco dias para responder se permite ou não a divulgação.

O chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly, disse nesta quarta-feira à Fox News que o memorando republicano será publicado assim que os advogados do presidente terminem de revisá-lo. Segundo o jornal The Washington Post, o Departamento de Justiça pediu a Trump que não publique o relatório. 

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De acordo com a imprensa americana, o relatório secreto do Partido Republicano, com três páginas e meia, alega que o Departamento de Justiça e o FBI usaram como base um dossiê suspeito sobre a influência da Rússia na eleição americana, compilado pelo ex-agente de inteligência britânico Christopher Steele e financiado, em parte, pela campanha da democrata Hillary Clinton. 

Credibilidade. O dossiê foi usado para justificar o pedido de um mandado de vigilância sobre Carter Page, que então era assessor de política externa na campanha eleitoral de Trump. A suspeita era que ele atuava como agente russo. O pedido foi feito ao ultrassecreto Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira (Fisa), que atua com base na lei de vigilância que permite o monitoramento de agentes estrangeiros de maneira mais rápida. 

O documento diz ainda que, depois de Trump se tornar presidente, o mandado foi estendido pelo vice-procurador-geral Rod Rosenstein. Ele teria indicado Robert Mueller para comandar as investigações sobre o escândalo, além de ser o único que pode demiti-lo. 

Rosenstein assumiu a investigação porque o secretário de Justiça, Jeff Sessions, decidiu se afastar das investigações em razão de conflitos de interesse – ele participou da campanha e omitiu informações sobre encontro que teve com os russos.

Mesmo sem terem visto o documento, Rosenstein e Wray pediram ao líder republicano na Câmara, Paul Ryan, que impeça sua divulgação, afirmando que o memorando revelaria informações confidenciais. Ryan pediu cautela aos republicanos, mas afirmou que “pode ter havido má conduta do FBI”.

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Os democratas alegam que o memorando é distorcido e tem como objetivo minar a credibilidade do procurador especial Robert Mueller. Com isso, os governistas conseguiriam se livrar de eventuais acusações de conluio entre a campanha de Trump e a Rússia. Os democratas temem ainda que Trump utilize o relatório para demitir Rosenstein e, em seguida, afastar Mueller de suas funções. / W.POST e NYT