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Filha de Nisman impulsiona ato por 21 anos de ataque à Amia

Manifestantes exigem resposta para mortes há mais de duas décadas em ataque a organização judaica em Buenos Aires e para morte promotor que investigava o caso, há seis meses

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Por Rodrigo Cavalheiro - Correspondente e BUENOS AIRES

BUENOS AIRES - A falta de respostas 21 anos depois do atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia) e 6 meses depois da morte do promotor que o investigava, uniu os dois casos em um ato com tom de cobrança que teve a presença de milhares de argentinos nesta sexta-feira, 17, em Buenos Aires. Alberto Nisman, apareceu morto no dia 18 de janeiro com um tiro na cabeça no banheiro de seu apartamento, depois de investigar por 10 anos o atentado que matou 85 pessoas em 18 de julho de 1994. 

Em um palco montado diante da sede da Amia, houve discurso do presidente da organização e de um representante dos parentes das vítimas. As palavras que despertaram mais aplausos entre os que ocupavam quatro quadras da Rua Pasteur foram as de Iara, de 15 anos, a mais velha das duas filhas do promotor com a juíza Sandra Arroyo Salgado. A adolescente colocou uma vela e uma flor entre outras que representavam as vítimas.

Centenas de argentinos exibem fotos das pessoas mortas no atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia) , em 1994 Foto: Victor R. Caivano/AP

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"Entendo o caminho de luta que percorreram, porque vi meu pai trabalhar muito para que se faça Justiça. Agora peço que nos ajudem a descobrir verdade sobre o que ocorreu com ele", pediu aos parentes das vítimas do atentado, em texto lido por uma jornalista. 

Quatro dias antes de ser encontrado morto, Nisman denunciou a presidente e dirigentes da cúpula kirchnerista por encobrir iranianos considerados culpados pela Justiça argentina. Ele acreditava que um pacto firmado em 2013 por Cristina com o Irã, para que fossem ouvidos em Teerã, era parte de um acordo comercial para beneficiar a Argentina. Sua denúncia foi arquivada. Após sua morte, o governo o acusou de gastar o dinheiro destinado à causa com mulheres e viagens. "Foram ditas muitas coisa, mas ele já não pode se defender", acrescentou Iara.

O pai de uma das vítimas da explosão, Mario Aberbuch, criticou o governo kirchnerista por ter se aproximado do Irã e da Venezuela e cobrou uma posição clara dos candidatos presidenciais sobre o tema - o país terá eleição em outubro. "Não precisamos de uma transmissão em cadeia nacional em que falem de hipóteses. Necessitamos uma Justiça independente", afirmou, em alusão às transmissões da presidente Cristina Kirchner após a morte de Nisman, quando primeiro disse tratar-se de um suicídio e depois de um homicídio para prejudicá-la, e ao conflito do governo com o Judiciário. 

Há duas semanas, na véspera da votação da inconstitucionalidade do pacto com o Irã denunciado por Nisman, o Conselho da Magistratura, órgão dominado por políticos ligados ao governo, trocou um juiz cujo voto seria desfavorável a Cristina. O argumento foi de que o magistrado estava no posto temporariamente. O governo conseguiu este mês aprovar uma norma que lhe permite trocar juízes substitutos por advogados de uma lista aprovada pelo Executivo e referendada pelo Senado, onde o kirchnerismo tem maioria.

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