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Opinião | Irã está cada vez mais perto de atacar Israel, como mostram sinais dentro e fora do regime

Últimos dias foram repletos de sinais públicos de uma retaliação e possível escalada no conflito entre os dois rivais no Oriente Médio

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Foto do author Filipe Figueiredo

Tudo indica que o Irã não abrirá mão de retaliar contra Israel pelo assassinato de Ismail Haniyeh, o principal líder político do Hamas, foi assassinado em Teerã no último dia 31 de julho. Vários sinais públicos apontam para essa direção. Logo após o assassinato, foi realizada uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

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Nela, o Irã afirmou que o Artigo 51 da Carta da ONU, o que rege o direito da autodefesa, lhe dá o direito de retaliação. O Irã usou a mesma argumentação jurídica em abril, quando atacou Israel por retaliação ao ataque contra um prédio consular iraniano na Síria.

No dia 4 de agosto, o ministro de Relações Exteriores da Jordânia fez uma rara visita a Teerã, supostamente para dissuadir os iranianos de uma retaliação. Jordânia e Irã não possuem relações próximas. Principalmente, muitos dos mísseis e drones iranianos disparados em abril violaram o espaço aéreo jordaniano.

No dia seguinte foi a vez da visita de Sergei Shoigu, Secretário do Conselho de Segurança da Rússia e homem de confiança de Putin. Além da profunda cooperação militar entre os dois países desde a invasão russa da Ucrânia, é especulado que o Irã solicitou equipamentos antiaéreos russos.

Iranianos acompanham um caminhão, ao centro, carregando os caixões do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, e de seu guarda-costas durante a cerimônia de funeral em Teerã, no Irã,  Foto: Vahid Salemi/AP

De Teerã, Shoigu seguiu para o Azerbaijão, uma visita sem aviso público prévio. O Azerbaijão vive uma relação de desconfiança mútua com o Irã e, por isso, é muito próximo de Israel. É conhecido que agentes israelenses realizam operações voltadas contra o Irã a partir do território azerbaijano, e essa teia de relações pode respingar na Armênia.

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A presença de Shoigu no Azerbaijão seria para garantir uma eventual neutralidade da ditadura de Baku em caso de escalada do conflito entre Irã e Israel. No dia sete de agosto, o Irã conseguiu uma vitória diplomática que pouco repercutiu no Brasil.

Após uma reunião de emergência da Organização de Cooperação Islâmica, uma nota unânime foi publicada, condenando o assassinato de Ismail Haniyeh, responsabilizando integralmente Israel pelo episódio, classificado como grave violação da soberania iraniana e um crime de agressão.

A nota não apenas endossa a tese jurídica iraniana de que uma retaliação seria autodefesa quanto é um feito de diplomacia, ao conseguir o apoio de cinquenta e sete países, incluindo potências regionais e países que não exatamente vêem um Irã poderoso com bons olhos, como a Turquia e os Emirados Árabes Unidos.

Os últimos dias 12 e 13 de agosto também foram repletos de sinais públicos de uma retaliação e possível escalada no conflito. Além da exibição de “novos armamentos estratégicos” pelo braço naval da Guarda Revolucionária Iraniana, o ministro interino de Relações Exteriores do Irã, Ali Bagheri Kani, falou em “resposta apropriada e dissuasiva”. Em conversa telefônica entre o novo presidente iraniano Masoud Pezeshkian e o novo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o iraniano deixou claro que seu país exercitará a autodefesa e que o “silêncio do Ocidente” sobre “crimes desumanos sem precedentes” em Gaza permitiu Israel colocar a “segurança global” em risco.

Principalmente, ocorreu a renúncia de Javad Zarif. Uma das principais lideranças reformistas do Irã, foi Ministro de Relações Exteriores do Irã entre 2013 e 2021, após ter sido o negociador-chefe do acordo nuclear, que normalizaria as relações iranianas com o resto do mundo. É defensor da retomada do diálogo e da abertura iraniana e, com a eleição do presidente reformista Pezeshkian, Zarif, que foi seu braço-direito na campanha, tornou-se Conselheiro de Assuntos Estratégicos e um dos vice-presidentes do Irã. Sua renúncia após apenas onze dias no cargo é um indício da força da linha dura iraniana.

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O recém-eleito presidente do Irã, Masoud Pezeshkian (à direita), e o ex-ministro das Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif (Esquerda) visitam o santuário do fundador da República Islâmica, o Aiatolá Ruhollah Khomeini: renúncia de Zarif é sinal de alerta  Foto: Atta Kenare/ AFP

Como já mencionado aqui em nosso espaço, uma guerra é de interesse de vários atores no Oriente Médio. Um desses atores, hoje, é a Guarda Revolucionária Iraniana, um “Estado dentro do Estado”, que teme o avanço dos moderados, vencedores do último pleito.

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O israelense Binyamin Netanyahu precisa da continuidade de uma guerra para se manter no poder e evitar seus processos judiciais. O Hezbollah, afetado pela crise interna libanesa, tem no antagonismo à Israel a sua principal bandeira de legitimação no Líbano. Uma guerra, hoje, é basicamente a “razão de ser” desses atores.

Existe hoje uma queda de braço no governo do Irã, debatendo-se como retaliar Israel. O governo recém-empossado de um lado e a Guarda Revolucionária Iraniana do outro, cada um com suas prioridades. Se um ataque direto contra Tel-Aviv, se com o uso de grupos como o Hezbollah, ou se um ataque contra bases israelenses na região, como no Azerbaijão. Pode ser uma retaliação localizada, como em abril, para “salvar a reputação”, ou um ataque em larga escala, que agrave mais a situação. Em última instância, a decisão é de Khamenei, o Supremo Líder, mas a renúncia de Zarif não é um bom sinal.

Opinião por Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, comentarista de política internacional e criador dos podcasts Xadrez Verbal e Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história

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