Marine Le Pen continua o principal nome na política francesa. No último dia sete de julho foi realizado o segundo turno das eleições legislativas francesas, convocadas pelo presidente Emmanuel Macron um mês antes, após as eleições para o Parlamento Europeu. Após um enorme esforço político, o resultado do pleito manterá Le Pen e o seu partido Reagrupamento Nacional fora do poder, mas ainda como o nome forte nas próximas eleições.
A eleição teve um comparecimento eleitoral de mais de 66%, o maior desde 1997. Além disso, pela primeira vez na História, a participação se manteve praticamente igual de um turno para o outro. Esse alto comparecimento mostra a importância do pleito para os franceses e foi motivado, em boa parte, pela rejeição à Le Pen e seu partido, classificado como de ultradireita, mas que pode ser classificado como de extrema direita.
Essa é a classificação formal francesa, inclusive. Em setembro de 2023, o Ministério do Interior classificou o RN como extrema direita para as eleições para o Senado. O partido não concordou com a classificação e entrou com uma ação contra o ato. O Conselho de Estado, que é consultor jurídico do Executivo e suprema corte administrativa, rejeitou a queixa e afirmou que não há abuso de poder ou violação de princípios na classificação.
O resultado final contrariou as pesquisas e trouxe alívio para Macron e boa parte da população francesa, que enxerga em Le Pen uma ameaça à constituição com seu plano de “preferência nacional”, que na prática criaria cidadãos de segunda classe. A Nova Frente Popular, formada por partidos que vão da centro-esquerda até a extrema esquerda do Novo Partido Anticapitalista, ficou em primeiro, com 180 dos 577 assentos, ganhando 49 a mais.
Em segundo lugar ficaram os macronistas do Juntos, com 159 cadeiras, uma perda de 86 assentos. A coalizão da RN, liderada por Jordan Bardella, tenente de Le Pen, conquistou 142 cadeiras, registrando o maior crescimento, em 53 cadeiras. Os Republicanos conservadores ficaram com 39 assentos. Os assentos restantes estão pulverizados em partidos regionais e menores, ou candidaturas independentes.
Esse resultado significa uma coalizão entre macronistas e a NFP, para isolar Le Pen? Não. Macron vai resistir a fazer uma coalizão com o partido França Insubmissa, integrante da NFP e liderado por Jean-Luc Mélenchon, que ficou em terceiro lugar nas últimas eleições presidenciais de 2022. Com isso, não pode ser descartado um racha na NFP, com algum partido como o Partido Socialista ou os ecologistas se unindo a Macron.
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Essa é uma das razões para dizer que Le Pen continua o principal nome na política francesa. Sua coalizão ficou em terceiro, mas seu partido terá a maior bancada, com 125 cadeiras. O França Insubmissa, maior partido da coalizão vencedora, terá 78 cadeiras, enquanto o PS possui 65 cadeiras. Mesmo a coalizão macronista, com menos riscos de rachaduras, é dividida em vários partidos.
A outra razão do apontamento é o fato de que a coalizão do RN teve mais de dez milhões de votos em cada turno, sendo a mais votada em ambos. Para derrotar a RN foi necessária uma ampla concertação política entre esquerda e Macronistas para tirarem candidatos em distritos onde a outra coalizão tinha mais chance de vitória. Isso ocorreu em mais de duzentos distritos, após o inédito número de 311 distritos com três ou até quatro candidatos.
Mesmo esse concerto foi falho, já que, em setenta distritos, a disputa tripla foi mantida, por insistência ou dos macronistas ou da FI. E não é a primeira vez que esse tipo de acordo político, de “frente ampla”, teve que ser organizada para deter o avanço de Le Pen, que segue pautando o debate. No curto prazo, essa união de forças funcionou, mas, e no médio prazo? O fato é que o futuro da França ainda está em aberto e será preciso fazer muita política.
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