O jornal Financial Times, em editorial publicado hoje intitulado Terceira Via? Sem chance! afirma que o esforços de políticos de centro-esquerda para montar uma vigorosa ideologia pós-socialismo não têm sido inspiradores. Segundo o diário financeiro, muitos dos líderes que se juntaram ao primeiro-ministro britânico Tony Blair e ao ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, nos seminários da Terceira Via na década de 90 foram subsequentemente derrotados nas urnas. A conferência da Governança Progressista que está ocorrendo neste final de semana em Londres, e que conta com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "é a última tentativa para esclarecer qual a posição da esqueda, mas os teóricos estão distantes como nunca da definição de um proposição unitária convincente". Segundo o FT, essa conferência ocorre num contexto político muito diferente dos prévios encontros da Terceira Via, nos quais a esquerda estava no poder na maior parte da Europa e Clinton ocupava a Casa Branca. Hoje, a direita domina a Europa e George W. Bush é o presidente dos Estados Unidos. Blair e o chanceler alemão Gerhard Schroeder "estão ambos lutando para convencer seus partidos da necessidade de reformas radicais". Mesmo assim, a conferência deste final de semana registra um número recorde de chefes de governo, graças à participação de líderes de países emergentes. "Isso levanta perguntas intrigantes sobre o quanto os líderes dos países esenvolvidos e em desenvolvimento terão em comum", disse o FT. "Para os líderes de centro-esquerda dos países desenvolvidos, a Governança Progressita é uma tentativa de se dar uma respeitabilidade ideológica ao novo gerenciamento nos serviços públicos." Segundo o diário, esses chefes de governo estão tendo dificuldade para obter um equilíbrio entre a igualdade e a escolha, além de estarem sob ataque da direita populista em temas como a criminalidade e imigração. Eles precisam convencer os funcionários públicos da necessidade de mudança e esperam que a Terceira Via pode oferecer um compasso ideológico para justificar o que precisa ser feito. Já os líderes dos países em desenvolvimento, argumentou o FT, precisam de uma ideologia de uma escala totalmente diferente. "A maioria foi eleita com plataformas que prometiam redistribuição mas sabem que o futuro está no envolvimento com a economia mundial", disse o jornal. "Mesmo assim, eles sabem que seus países carecem da cultura e instituições necessárias para uma economia de mercado exitosa." Esses chefes de governo querem explicar a seus seguidores porque eles precisam esperar pelos benefícios amanhã "enquanto estão sob ataque de populistas demagogos que prometem muito benefícios para hoje". O FT observou que a troca de experiências e o encontro entre líderes é uma iniciativa válida. "Mas a morte do Marxismo e a ascendência da economia liberal de mercado não pode ser ofuscada pela retórica sobre a Terceira Via?, afirma o jornal. "A vida numa economia global é a realidade de hoje para todos os líderes políticos - mas os desafios existentes variam de país para país".
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