Finlândia planeja construir cercas na fronteira para evitar ameaça da Rússia

Ministério do Interior finlandês confirmou que medida pretende evitar que Moscou utilize o fluxo de imigrantes como meio de pressão política, em uma estratégia de guerra híbrida

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Por Redação

HELSINQUE - Preocupado com questões de segurança após a invasão russa à Ucrânia, o governo da Finlândia anunciou que pretende reforçar a fronteira com a Rússia com cercas.

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De acordo com um anúncio do Ministério do Interior, a medida é uma tentativa de responder ao temor de que Moscou utilize imigrantes para exercer pressão política sobre Helsinque, em um momento em que os finlandeses abandonaram uma política centenária de neutralidade para formalizar um pedido de ingresso na Otan.

“O objetivo da lei é melhorar a capacidade operativa da guarda da fronteira para responder às ameaças híbridas”, disse a assessora do ministério, Anne Ihanus, à agência France-Presse. “A guerra na Ucrânia contribuiu à urgência desta questão”, acrescentou.

Foto da cidade finlandesa de Imatra, na fronteira com a Rússia. Foto: Essi Lehto/ REUTERS

Ainda não foi detalhado um plano concreto, mas as mudanças legislativas propostas já levantaram um questionamento sobre como (e se) o governo finlandês pretende cercar uma fronteira de 1.300 km de extensão.

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“Muito provavelmente a cerca não irá cobrir toda a fronteira leste, mas se concentrará nos lugares considerados mais importantes”, explicou Sanna Palo, diretora da divisão jurídica da guarda da fronteira.

“O que queremos construir é uma cerca robusta, com efeito de uma barreira real”, acrescentou.

Em maio, a Finlândia rompeu com uma longa política de neutralidade internacional ao solicitar a entrada na Otan ao lado da Suécia, em resposta às agressões russas em solo europeu. O pedido de entrada foi precedido de uma série de negociações com países do bloco para tentar negociar garantias de segurança durante o período de aprovação da adesão, que pode demorar em função da necessidade de aprovação por todos os países-membro - a Turquia se manifestou contrária a entrada dos nórdicos.

O vice-secretária-geral da Otan, Mircea Geoana, afirmou nesta sexta-feira que está confiante de que a Suécia e a Finlândia vão se juntar à aliança, apesar das objeções da Turquia, durante a Cúpula da Democracia em Copenhague. “Estamos confiantes de que a Suécia e a Finlândia se juntarão às nossas fileiras”.

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Apesar da ameaça russa sobre “consequências duradouras” do pedido de adesão, o governo do presidente Sauli Niinisto voltou a se envolver no conflito ucraniano, anunciando o envio de mais equipamentos de defesa para a Ucrânia, sem especificar o conteúdo ou o prazo para entrega. A nação nórdica já enviou rifles e armas antitanque para a Ucrânia.

Área desmilitarizada reacende debate

A insegurança provocada pelo avanço da Rússia no Leste Europeu reacendeu um antigo debate sobre o status militar do arquipélago autônomo de Aland, localizado entre a Suécia e a Finlândia, no Mar Báltico, com cerca de 30 mil habitantes.

Sem presença militar a mais de um século em virtude de um tratado assinado com os russos em 1856, o território passou a ser visto como um potencial ponto fraco em um possível ataque ao país.

Ruínas do forte Bomarsund, no arquipélago de Aland. Foto: Alessandro Rampazzo/ AFP

“Sempre pensamos: quem vai querer nos atacar se não temos nada que mereça ser capturado?”, disse o aposentado Ulf Grüssner, de 81 anosm que vive na capital do arquipélago, Mariehamn. “Mas isso mudou com a guerra de Putin na Ucrânia”, acrescentou.

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A Finlândia citou o arquipélago em seu pedido de adesão à Otan, afirmando que pretende preservar a desmilitarização e respeitar o acordo em vigor com a Rússia - posição considerada por especialistas como “ingênua”.

Ocupado pelo Império Russo, o arquipélago se desmilitarizou com a retirada da Rússia czarista, em virtude de um tratado assinado após a derrota na guerra da Crimeia. Nas duas guerras mundiais, exércitos disputaram o controle das ilhas.

Segundo uma pesquisa publicada no início de junho, 58% dos finlandeses desejam uma presença militar nas ilhas Aland, para dissuadir a Rússia de qualquer ação violenta./ AFP, AP e REUTERS

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