O representante da França na ONU recorreu ao Brasil nesta segunda-feira para que apoie o projeto de uma resolução europeia que condena a Síria por sua sangrenta repressão a manifestantes contrários ao governo. O Brasil, assim como Índia e África do Sul, expressou restrições à resolução preparada por Grã-Bretanha, França, Alemanha e Portugal. Rússia e China sugeriram que poderão vetar o texto. O resultado, disseram diplomatas da Organização das Nações Unidas (ONU), é um impasse no Conselho de Segurança composto por 15 países. Permanece incerto quando, e se, os europeus vão colocar o documento em votação. "O governo brasileiro denunciou o uso da força na Síria e exigiu que um processo político respondesse às aspirações do povo sírio", afirmou o embaixador francês Gerard Araud ao jornal O Estado de S.Paulo. "Esperamos sinceramente que o voto do Brasil reflita esse apoio às aspirações democráticas do povo árabe", disse ele, de acordo com trechos da entrevista divulgados pela missão da França na ONU. Araud disse que o projeto de resolução "não tem outro objetivo a não ser encorajar as autoridades sírias a considerar as aspirações de seu povo e lançar um diálogo político nacional sem interferência estrangeira." "Para que isso aconteça, a violência tem que acabar", acrescentou Araud. Diplomatas do Conselho de Segurança se reuniram no sábado na expectativa de superar o impasse sobre o projeto de resolução. O documento não iria impor sanções à Síria, mas condená-la pela repressão e sugerir que as forças de segurança sírias poderiam ser culpadas por crimes contra a humanidade. Rússia e China não apareceram para a reunião, disseram diplomatas. IMPASSE Na semana passada, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, disse a repórteres em Nova York que a resolução condenando a Síria poderia inflamar as tensões na região. Diplomatas ocidentais sugeriram que Rússia e China estão usando as posições dos outros membros dos Brics -- Brasil, Índia e África do Sul -- como pretexto para possivelmente vetar a resolução europeia. "A (discussão) síria é um impasse, com Rússia e China se escondendo atrás de Índia, Brasil e África do Sul", disse à Reuters um diplomata ocidental. "Vergonha absoluta." Se Brasil, Índia e África do Sul mudarem suas posturas sobre a resolução e concordarem em votar a favor, Rússia e China podem mudar suas posições, afirmou o diplomata. Potências ocidentais, segundo outro diplomata, estão usando canais bilaterais para pressionar Brasil, Índia e África do Sul a votar pelo texto da resolução. A Rússia afirmou que uma ação contra a Síria por parte do Conselho de Segurança abriria caminho para uma intervenção do Ocidente como aquela que acontece na Líbia. A ONU não está patrocinando a resolução síria, mas deixou claro que apoia o texto e condena a violência contra manifestantes. No sábado, a entidade acusou o governo da Síria de criar "uma crise humanitária" e exigiu que o país acabasse com sua ofensiva. Devido às complicadas relações do Líbano com sua vizinha Síria, diplomatas disseram esperar que o país votaria contra a resolução. Para serem aprovadas, resoluções precisam de nove votos a favor e de nenhum veto dos cinco membros permanentes: Grã-Bretanha, China, França, Rússia e Estados Unidos.
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