ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLHI - O governo Luiz Inácio Lula da Silva prevê que despesas básicas da organização do G-20 no Brasil sejam de R$ 300 milhões, segundo estimativa inicial. Mas o valor total da presidência brasileira do G-20 deve superar bastante esse montante, segundo fontes envolvidas nos preparativos.
Os ministérios das Relações Exteriores e da Gestão e da Inovação planejam lançar uma licitação global para os serviços de organização do evento em si e fornecimento de estrutura básica para reuniões (mesas, cadeiras e aluguel de espaços); hospedagens para a delegação brasileira e sistema de reservas para as estrangeiras (que deverão custear suas despesas); e transportes (carros e vans para delegações).
Essa licitação tem como valor de referência cerca de R$ 300 milhões, mas não inclui, por exemplo, outras despesas previstas e consideradas fundamentais, como segurança e eventos culturais.
As despesas estão sendo projetadas prevendo que o País receba até 50 delegações estrangeiras.
O governo quer estimular que os ministérios busquem parcerias com empresas públicas e privadas para cobrir parte dos gastos. Servidores envolvidos na logística do G-20 brasileiro dizem que serão necessários aportes de Estados e municípios para garantir a realização das reuniões ao longo do ano que vem.
A opção do governo foi usar a Central de Compras para essa licitação principal e transferir a cada um dos ministérios a responsabilidade de custear as reuniões dos grupos de trabalho do G-20. Dessa forma, o custo será descentralizado em vez de ser assumido apenas pelo orçamento do Itamaraty. Cada pasta vai realizar ao menos três reuniões.
Ao todo, o governo Lula prevê realizar 100 eventos no País, nas cinco regiões. Ao menos metade delas devem ocorrer no Rio de Janeiro e em Brasília, as duas sedes principais. O Brasil deve promover reuniões em 15 cidades.
O evento mais caro de todos é a Cúpula de Líderes, marcada para os dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio. A principal opção para o evento é o Museu de Arte Moderna (MAM), que precisa ser reformado. Esse custo também vai contar para que as despesas superem os R$ 300 milhões, porque não está previsto na licitação federal.
Orçamento em aberto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira, dia 11, que ainda não tem ideia de quanto o governo brasileiro vai gastar na realização do G-20, no Brasil, mais um indicativo de que o valor será bastante superior aos R$ 300 milhões inicialmente previstos para despesas básicas.
“Não tenho noção de quanto vai custar no Brasil”, disse o presidente, antes de deixar Nova Délhi, na Índia, onde participou da Cúpula do G-20, e recebeu simbolicamente a chefia do organismo multilateral, que congrega os países com maiores economias do mundo. “O Brasil vai gastar o que for necessário para fazer um bom evento.”
O presidente argumentou que o dinheiro aplicado no G-20 não deve ser visto como gasto, mas como investimento - um raciocínio que costuma fazer quando há questionamentos sobre controle de despesas públicas na área social. Ele afirmou que a Índia fez um “investimento extraordinário” e deverá ter retorno nos negócios.
Custos na Índia
Somente na preparação de Nova Délhi o governo do primeiro-ministro Narendra Modi alocou mais de 4,1 bilhões de rupias, cerca de R$ 2,5 bilhões. A capital indiana passou por um processo de embelezamento, com jardinagem, pintura, construção de infraestrutura, centro de convenções, recuperação de ruas e estradas e iluminação, policiamento, instalação de grandes esculturas, entre outros.
Já o orçamento da presidência indiana do G-20 era de 9,9 bilhões de rupias ou R$ 594 milhões. O governo Narendra Modi fez uma edição do G-20 associada ao culto da própria imagem, com objetivos geopolíitcos e eleitorais, e de grandes dimensões. Foram 220 reuniões, em cerca de 60 cidades indianas - e muitos eventos culturais.
“Vejo o investimento no G-20 como muito extraordinário”, disse Lula. Um exemplo do retorno, segundo o presidente, são as visitas de chefes de Estado no País, com oportunidade para conversas presenciais entre eles e o lançamento de iniciativas conjuntas.
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