G-7 expôs paradoxos para a tradição diplomática brasileira; leia a análise

As relutâncias manifestadas pelo Brasil e pela Índia em se alinharem aos líderes do G-7 reforçam a árdua tarefa de avançar na construção de um consenso global

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Por Denilde Holzhacker

A reunião do G-7 realizada em Hiroshima expôs os desafios que a ordem multilateral enfrenta, não apenas no tocante à gestão de crises globais, mas também na busca por diálogo além dos países membros do grupo.

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As relutâncias manifestadas pelo Brasil e pela Índia em se alinharem aos líderes do G-7 reforçam a árdua tarefa de avançar na construção de um consenso global. Embora os países do G-7 compartilhem de um entendimento em relação à Ucrânia, condenando veementemente as agressões russas e partilhando a visão de contenção do poderio chinês, a tentativa de obtenção de apoio de Índia, Brasil e Indonésia esbarra na falta de confiança dessas nações.

Já a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, ao final do encontro, a percepção do apoio brasileiro ao Putin. Ao não se reunir com o presidente da Ucrânia, o Brasil se distanciou mais da possibilidade de influenciar futuras negociações. Mesmo que a diplomacia brasileira alegue que o presidente buscou espaço na agenda, a ausência de empenho e diálogo evidencia que outros países adaptaram suas próprias agendas para realizar encontros bilaterais, enquanto o Brasil não o fez.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, senta ao lado do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau  Foto: Susan Walsh/AFP

Apesar disso, o afastamento do Brasil em relação a esse tema específico não implica em uma política externa isolacionista para o país. A reunião do G-7 evidenciou que o Brasil possui condições propícias para se engajar em uma ampla agenda de desafios voltados à construção da ordem multilateral. A temática climática, por exemplo, representa um assunto em que o Brasil tem maior capacidade de influência e liderança nas discussões, o que lamentavelmente não se concretizou durante o encontro do G-7.

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Embora a participação do presidente Lula não tenha alcançado o protagonismo almejado pela diplomacia, as reuniões bilaterais com outros líderes demonstraram o elevado interesse que o Brasil desperta e o reconhecimento de sua relevância econômica e regional por outros países.

Esses encontros bilaterais, além de terem resultados práticos, também servem para consolidar a percepção do público brasileiro de que Lula exerce influência e detém prestígio no âmbito internacional, sendo capaz de posicionar o Brasil no centro dos debates globais. Mas, o governo se defronta com um paradoxo ao buscar manter essa retórica, ao mesmo tempo em que, de fato, luta para se manter como interlocutor entre os líderes mundiais.

Para além disso, a diplomacia brasileira deve incessantemente se esforçar para ressaltar a necessidade de reforma das instituições multilaterais, para ampliar sua capacidade de ação e resolução dos desafios globais. Entretanto, é imprescindível não ceder à ingenuidade diante da crescente bipolaridade mundial, na qual termos como “decoupling” (Estratégia de dissociação) e “de-risking” (Estratégia de diminuição de risco) integram as estratégias dos países ocidentais para conter o avanço da China.

Nesse contexto, o Brasil poderia tirar proveito do momento em que os Estados Unidos e as nações europeias buscam reduzir sua dependência em relação à China. Ainda que haja questões em aberto, tal fato indica a existência de espaço para que o Brasil aumente sua relevância no âmbito internacional.

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Nessa nova dinâmica internacional, o Brasil se depara com um paradoxo, no qual vislumbra oportunidades para exercer uma influência cada vez maior, mas, ao mesmo tempo, corre o risco de negligenciar seu capital de prestígio e reputação. Urge, portanto, revisar e readequar a tradição diplomática brasileira aos interesses nacionais e à complexidade global, de modo que o país possa participar de forma efetiva nessa configuração global em constante transformação.

*Denilde Holzhacker é professora de relações internacionais da ESPM

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