GENEBRA - Em meio a um desemprego causado pelo coronavírus, pelo menos 1 mil pessoas fizeram fila neste sábado, 9, para receber comida em Genebra, na Suíça, um dos países mais ricos e mais caros do mundo para se morar.
A fila de pessoas se estendia por mais de 1 km do lado de fora de uma pista de gelo,onde os voluntários distribuíram pelo menos 1,5 mil cestas com alimentos - que continham queijo, legumes embalados a vácuo, biscoitos e achocolatado - para pessoas que começaram a esperar pela doação às 5 horas da manhã.
"No final do mês, estou sem dinheiro. Temos que pagar as contas, o seguro, tudo", disse Ingrid Berala, uma nicaraguense que tem um trabalho de meio período na capital da Suíça."Isso é ótimo, porque há comida por uma semana, uma semana de alívio. Não sei para a próxima."
Um levatamento de 2018 mostrou que, em um país com quase 8,6 milhões de habitantes, pelo menos 660 mil eram pobres, de acordo com a organização humanitária católica Cáritas. A pobreza atinge principalmente famlías monoparentais - em que só a mãe ou o pai cria os filhos - e com baixo nível de escolaridade, que agora estão incapazes de encontrar trabalho depois de perder o emprego em meio à pandemia.
De acordo com a Cáritas, em 2018, pelo menos 1,1 milhão de pessoas estavam quase na linha da pobreza, o que significa que tinham uma renda que não alcançava 60% da média nacional de 6.538 francos suíços (R$ 38 mil) para um emprego de período integral.
Conforme estudo do banco suíço UBS,Genebra é a segunda cidade mais cara do mundo para uma família de três pessoas morar, atrás apenas de Zurique, também na Suíça. Embora a renda média também seja alta, isso ajuda pouco as pessoas que lutam para sobreviver.
"Acho que muitos estão cientes disso, mas é diferente ver isso com seus próprios olhos", disse Silvana Matromatteo, chefe do grupo de ajuda humanitária Caravana de Solidariedade de Genebra, que distribuiu os alimentos.
"Haviapessoas chorando que disseram 'não é possível que isso esteja acontecendo no meu país'. Talvez a covid-19 tenha trazido tudo à tona e isso é bom, porque poderemos tomar medidas para apoiar todos esses trabalhadores."
Patrick Wieland, chefe de missão do grupo Médicos Sem Fronteiras, disse que uma pesquisa na semana passada mostrou que pouco mais da metade das pessoas que recebeu alimentos não tem documentos, enquanto outros eram suíços ou estavam pedindo asilo.
Pouco mais de 3% tiveram o teste positivo para covid-19, taxa três vezes maior que a média em Genebra, ao que Wieland atribuiu às péssimas condições de moradia dessa população.
"Em Genebra, uma das cidades mais ricas do mundo, sempre houve pessoas vivendo precariamente, especialmente as que trabalham como empregadas domésticas, na agricultura, em canteiros de obras ou em hotéis, e agora estão sem emprego por causa da covid-19", disse.
Um imigrante ilegal que se identificou comoFernando disse que perdeu o emprego em restaurante durante a crise e não tem mais como ganhar dinheiro. "Estou muito grato por receber essa ajuda." / REUTERS
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