PARIS - Eis uma pessoa muito ágil. E que corre a toda velocidade. Aos 30 anos de idade, Sebastian Kurz vence sua segunda eleição para o Legislativo e se prepara para se tornar pela segunda vez chanceler da Áustria.
Seu primeiro governo foi composto do seu próprio partido (os conservadores do ÖVP) com a agremiação de extrema-direita (FPÖ). Esse governo se desintegrou quatro meses depois em decorrência de um escândalo implicando o vice-chanceler, pertencente ao FPÖ).
Agora Sebastian Kurz volta à liderança, mas deverá criar uma coalisão diferente da anterior, diante da severa queda do partido extremista(FPÖ) que perdeu 10 pontos, obtendo apenas 16% dos votos depois de realizar uma campanha agressiva, contra a imigração e contra o Islã.
Assim, esse jovem chamado Sebastian Kurz – elegante, bem vestido, calmo, o tipo do genro ideal – ganha, mas perde seu aliado precedente. Então, com quem irá se aliar para formar o novo governo? Segundo a aritmética será com os Verdes que obtiveram 14% dos votos, uma votação jamais obtida antes.
Na verdade, no papel não há nenhum problema, mas na realidade isso equivale a forjar uma aliança entre dois partidos que não têm nada a ver um com o outro.
Um conservador de bons modos
Kurz, sem atingir as histerias dos seus antigos aliados é de qualquer modo um conservador bem à direita e, em determinados aspectos, mesmo que seja mais educado que os fascistas do FPÖ, ele caça no mesmo terreno.
Simplesmente, em vez de berrar contra os “imigrantes”, ele se diz contra a imigração ilegal. E, se não grita como um fanático contra os árabes, ataca o “islamismo político”.
Portanto, não é seguro que os ecologistas aceitem a proposta, se ela lhes for apresentada, pois eles estão mais próximos da esquerda, particularmente na capital austríaca, Viena.
Uma das vozes influentes dos Verdes, uma lésbica, Margareta Neumann, escreveu que Kurz não defende uma sociedade aberta. “Ele é um reacionário, nunca fez nada em favor dos direitos dos homossexuais”.
Retrocesso do populismo ainda não é realidade
Fréderic Worms, professor de filosofia na École Normale de Paris, exulta. Ele acha que assistimos a um retrocesso das ideologias populistas. Para ele a prova disto é a Itália, que expulsou o inimigo frenético dos imigrantes, Matteo Salvini da Liga. E o Reino Unido, onde Boris Johnson escorrega, Israel, que viu cair o inamovível Netanyahu. Será sério?
Não estamos seguros. Em toda Europa, os populistas ganham partes de mercado. Nada diz que Matteo Salvini, o herói dos barcos de imigrantes proibidos de entrar em portos italianos, não retornará à liderança.
Na Espanha, a esquerda de Sánchez poderá se afundar face aos nostálgicos de Franco. Na França, oúnico adversário sério de Macron é Marine Le Pen, na verdade menos irracional que era um ano atrás.
O extremismo racional de Le Pen
O curioso é que Marine Le Pen está ameaçada por sua sobrinha, Marion Maréchal, uma jovem loira, bela, muito talentosa como todos na família, mas mais próxima do seu avô, Jean Marie Le Pen, hoje aposentado.
As duas mulheres, no momento, se observam, mas a pergunta é se em breve uma delas não vai tirar a navalha do bolso. À espera, Marion Maréchal abriu em Lyon uma espécie de escola de executivos que vai mal.
E organiza colóquios que reúnem tanto os saudosistas dos tempos da colaboração com os alemães como polemistas talentosos e iluminados, obcecados pelo islamismo, como Eric Zemmour, que coleciona processos por apologia do ódio racial.
Uma família graciosa, dotada e divertida. Entre o avô, Jean-Marie e a neta Marion Maréchal, Marine, que dirige com brio o partido de extrema direita criado por seu pai (a Frente Nacional, rebatizada por la como Rassemblement National) parece uma pessoa moderada. /Tradução de Terezinha Martino
*É CORRESPONDENTE
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