Em uma praça movimentada de Chiang Mai, antiga capital da Tailândia e um importante destino turístico do país, dois soldados posavam ontem para fotos ao lado de turistas. Com o dedo em riste, um homem interrompeu a cena, aos berros revoltado com a reverência do grupo aos soldados que patrulham a cidade desde o golpe de Estado anunciado em rede nacional na quinta-feira.
"Estamos vendo um abuso de poder no país e os turistas se prestam a tirar fotos ao lado de soldados", disse Mit Jai Inn, artista, de 53 anos. "Mandei que parassem e conversei também com os militares. Eles não escolheram estar aqui (patrulhando); estão apenas cumprindo ordens de seus superiores."
O episódio quebrou a aparente rotina da cidade, localizada a 800 quilômetros ao norte de Bangcoc. Os sinais de que o país atravessa uma crise são mais perceptíveis após o anoitecer.
Conhecida por sua noite vibrante, Chiang Mai ficou quase deserta depois das 22 horas no segundo dia do toque de recolher em algumas áreas. Quem chegava a uma lanchonete 24 horas, encontrava porta fechada e um aviso sobre as restrições impostas pelos militares.
Com a censura às emissoras de rádio e TV, estrangeiros têm dificuldade para saber o que acontece no país. Logo depois do início da intervenção militar, ainda era possível se informar por meio de um canal asiático de notícias em inglês, que fazia uma cobertura analítica e crítica do que estava se passando. Depois do golpe de Estado, todos os canais passaram a exibir uma tela na qual se lia Conselho da Manutenção da Ordem e da Paz Nacional, como é denominada a junta militar que está no comando do país.
Ontem, alguns programas de entretenimento foram liberados, mas grande parte da programação era preenchida por vídeos institucionais que mostravam símbolos nacionais e soldados em treinamento, exaltando as Forças Armadas e alertando que elas estão prontas para "defender o país".
No dia do golpe, as turistas brasileiras Daniella Duque, de 33 anos, e Bruna Pombo, também de 33 anos, estavam em Phuket, no sul do país. Elas chegaram ontem a Chiang Mai. "Fiquei sabendo sobre o golpe por mensagens enviadas por colegas e amigos do Brasil", contou Bruna. "Estão todos preocupados com a nossa situação aqui." As duas cariocas foram surpreendidas quando viram as ruas do balneário se esvaziarem após o toque de recolher. Elas viajam para Bangcoc na segunda-feira, mas avaliam mudar os planos se a situação se agravar. "Se Bangcoc estiver fervendo, vamos levantar acampamento", afirmou Bruna.
Nas ruas, a população está dividida. Muitos tailandeses apoiam a intervenção militar. "Os militares precisavam intervir, para fazer com que as duas partes se entendam; depois disso, vão entregar o poder", disse o alfaiate Jack Chamlaghia, de 23 anos. "O lado ruim é que isso tudo assusta os turistas."
Segundo o site do jornal Bangkok Post, a Associação de Turismo da Tailândia pede que os militares relaxem o toque de recolher para os visitantes. Muitos estrangeiros seguiam pechinchando no mercado noturno, após as 22 horas, nas barracas que ignoravam a regra. No site da Embaixada do Brasil em Bangcoc havia uma recomendação para que os brasileiros respeitem as novas regras.
Questionada por e-mail se enviara representante à reunião que os militares promoveriam ontem com diplomatas, segundo a imprensa tailandesa, a embaixada não respondeu até ontem à noite.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.