EUA negociam acordo para retomada de relações diplomáticas entre Arábia Saudita e Israel

Presidente e seus assessores fazem esforço diplomático agressivo em meio a exigências de Riad para a normalização das relações com Israel

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Por Redação

THE NEW YORK TIMES - O governo dos Estados Unidos age nos bastidores para selar um acordo de retomada de relações diplomáticas entre Arábia Saudita e Israel. As duas nações, duas das maiores potências regionais do Oriente Médio, nunca se reconheceram formalmente desde a fundação do Estado judeu, em 1947. A negociação também é uma resposta americana à projeção da China na região, depois que Pequim patrocinou um acordo similar entre a Arábia Saudita e o Irã.

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Pouco depois de seu avião decolar no início deste mês de Riad, onde teve uma longa reunião com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, o secretário de Estado dos EUA, Antony J. Blinken, ligou para outro líder do Oriente Médio, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de Israel.

Durante 40 minutos, Blinken deu ao líder israelense um briefing sobre as demandas significativas que o jovem príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, estava fazendo para que sua nação normalizasse as relações diplomáticas com Israel. Netanyahu tinha uma atualização sobre suas próprias demandas.

O telefonema - descrito por duas autoridades americanas - foi uma reviravolta na tentativa do governo Biden de intermediar um acordo diplomático histórico entre a Arábia Saudita e Israel, dois adversários históricos que nos últimos anos se envolveram em um namoro discreto, em parte por sua desconfiança compartilhada do arquirrival Irã.

A Casa Branca, que por mais de dois anos se contentou em ficar de fora do jogo de pôquer da diplomacia do Oriente Médio, decidiu fazer uma aposta e investir algumas de suas fichas. Os Estados Unidos estão agora em meio a negociações complexas entre três líderes que têm suas próprias razões para um acordo, mas estão fazendo exigências que podem ser caras demais. E eles simplesmente não gostam muito ou confiam um no outro.

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Vários altos funcionários americanos disseram que as chances de um acordo podem ser inferiores a 50 por cento, e Blinken disse que “não tem ilusões” de que o caminho para um acordo seria rápido. Ainda assim, uma normalização das relações entre a Arábia Saudita e Israel seria um dos eventos mais dramáticos em um contínuo realinhamento do Oriente Médio e poderia trazer benefícios para os líderes de ambos os países, assim como para o presidente Biden, que enfrenta a reeleição no próximo ano.

Também tornaria explícito o que é verdade há muito tempo: que o governo de um dos países mais influentes do mundo árabe efetivamente tornou seu apoio a um Estado independente palestino uma prioridade menor.

Para Netanyahu, o reconhecimento de Israel pela Arábia Saudita seria uma vitória política significativa para o líder em apuros, cujo governo de coalizão de extrema-direita enfrenta forte oposição doméstica.

De sua parte, o príncipe Mohammed está buscando um relacionamento de segurança fortalecido com os Estados Unidos, acesso a mais armas americanas e consentimento dos EUA para que o reino enriqueça urânio como parte de um programa nuclear civil – algo que Washington resiste há muito tempo.

Para Biden, aproximar-se da Arábia Saudita traz riscos políticos – ele certa vez prometeu fazer da Arábia Saudita um “pária” – mas um pacto diplomático no Oriente Médio pode ser uma benção antes das eleições de 2024. As autoridades americanas também veem importância estratégica em fortalecer os laços com a Arábia Saudita: como uma forma de evitar que Riad gravite ainda mais em direção à China, duas nações que se envolveram em um abraço cada vez mais caloroso.

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Embora Biden tenha tomado uma atitude fria em relação ao príncipe Mohammed, em parte por causa do assassinato de Khashoggi, ele visitou o reino com relutância em julho passado.  Foto: Doug Mills/The New York Times

Trabalhando contra as perspectivas de um acordo está o fato de que todos os lados teriam que reverter pelo menos uma posição de longa data: para Israel, que o país nunca permitiria o enriquecimento nuclear no reino saudita; para a Arábia Saudita, que a paz com Israel só pode vir depois de um estado estabelecido para o povo palestino; para Biden, consolidar uma aliança mais próxima com a Arábia Saudita o forçaria a expor publicamente por que mudou sua posição sobre o príncipe Mohammed.

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Vários funcionários americanos descreveram o atual impulso do governo Biden e as chances de sucesso sob a condição de anonimato devido à sensibilidade das negociações. Eles disseram acreditar que uma confluência de fatores criou uma janela de tempo - talvez antes do próximo ano, quando o ciclo eleitoral americano se intensifica - para chegar a um possível acordo. Um dos fatores é que um presidente democrata pode ter uma chance melhor do que um presidente republicano de vender o acordo aos membros do partido e trazer alguns da oposição política junto.

Esforços silenciosos para reparar as relações EUA-Arábia Saudita

Nas últimas semanas, o governo Biden acelerou a cadência de altos funcionários que viajam para Riad e Tel Aviv para se encontrar com o príncipe Mohammed e Netanyahu. Esta semana, apenas alguns dias após a visita de Blinken, Brett McGurk, o principal funcionário da Casa Branca responsável pela política do Oriente Médio, liderou uma delegação em uma viagem não divulgada para continuar as negociações, segundo duas autoridades americanas. Jake Sullivan, o conselheiro de segurança nacional, viajou para a Arábia Saudita em maio.

Um novo pacto de defesa ou acordo nuclear com a Arábia Saudita enfrentaria outro obstáculo: obter a aprovação de um Congresso fortemente dividido, no qual alguns membros proeminentes do partido de Biden provavelmente votariam contra, dada a atitude ambivalente ou totalmente hostil de deles em relação ao reino. Mas estranhas alianças políticas também se formaram, com um proeminente senador republicano, Lindsey Graham, da Carolina do Sul, auxiliando discretamente as negociações da Casa Branca.

Graham diz que conversou com o senador Mitch McConnell, o republicano de Kentucky e líder da minoria, e outros importantes legisladores do partido e disse que potencialmente haveria “muito apoio do lado republicano”. Ele se encontrou com o príncipe Mohammed em Riad neste ano e tem discussões frequentes com altos funcionários israelenses.

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Embora ele tenha sido um dos críticos mais contundentes do príncipe Mohammed após o assassinato do jornalista e colaborador do Washington Post Jamal Khashoggi - no qual o príncipe negou veementemente ter qualquer papel - Graham agora mudou de tom e decidiu se envolver novamente com a Arábia Saudita, segundo ele, porque é do interesse dos Estados Unidos - isolando o Irã e possivelmente atenuando a influência da China sobre a Arábia Saudita.

Mohammed bin Salman; Senador americano Lindsey Graham mudou de tom em relação ao príncipe e decidiu se envolver novamente com a Arábia Saudita.  Foto: EFE/EPA/BANDAR ALJALOUD

Legisladores democratas e republicanos denunciaram o príncipe Mohammed pelo assassinato de Khashoggi e o assassinato em massa de civis na guerra no Iêmen, além de expressaram suas preocupações sobre qualquer movimento da Arábia Saudita para enriquecer urânio em seu território, citando preocupações de proliferação. Mas os legisladores geralmente apoiam a promoção da normalização entre Israel e as nações árabes e sabem que tais acordos podem ser um ganho político para conquistar os eleitores pró-Israel durante as eleições.

A embaixada saudita em Washington não respondeu a um pedido de comentário. Um representante do Conselho de Segurança Nacional disse que a política do governo Biden para o Oriente Médio “inclui esforços para expandir e fortalecer os Acordos de Abraham”, bem como esforços para normalizar as relações entre Israel e a Arábia Saudita. Netanyahu não tem escondido sua esperança de fechar um acordo com os sauditas.

A perspectiva de uma reaproximação formal entre Israel e a Arábia Saudita existe há anos, mas ambos os lados têm visto muitos obstáculos para tornar a ideia uma realidade. Quando o presidente Trump, em setembro de 2020, presidiu a assinatura dos Acordos de Abraham - acordos diplomáticos entre Israel e duas nações árabes do Golfo - os sauditas não estavam prontos para aderir ao pacto.

Embora Biden tenha tomado uma atitude fria em relação ao príncipe Mohammed, conhecido como MBS, em parte por causa do assassinato de Khashoggi, ele visitou o reino com relutância em julho passado. As relações entre os dois países atingiram o ponto mais baixo em outubro, quando os sauditas anunciaram que estavam cortando a produção de petróleo, uma medida que surpreendeu as autoridades americanas.

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Os dois governos fizeram esforços silenciosos para reparar as relações durante o inverno. Então, em maio, quando Sullivan, o conselheiro de segurança nacional, visitou Riad, o príncipe Mohammed indicou maior disposição para normalizar as relações com Israel. Ele concordou com Sullivan que este ano pode ser a hora de fazer isso - mas pelo preço certo, disseram duas pessoas familiarizadas com o que aconteceu na viagem. Essa mensagem, que Sullivan transmitiu a Biden, parece ter influenciado o presidente a dar um empurrão para um acordo. Isso levou às visitas a Riad neste mês de Blinken e de McGurk.

Para a Arábia Saudita, a normalização com Israel é menos sobre Israel e mais sobre o que isso pode obter dos Estados Unidos, seu garantidor histórico de segurança. Dado o quão impopular Israel permanece entre os cidadãos sauditas, normalizar as relações com o país custaria ao príncipe Mohammed capital político com seu próprio povo, dizem autoridades sauditas. Para justificar isso, dizem eles, ele precisaria obter concessões significativas dos Estados Unidos, com o olho em desencorajar o Irã.

Mas as exigências iniciais do príncipe Mohammed eram exageradas: garantias dos EUA para defender a Arábia Saudita de um ataque militar, uma parceria saudita-americana para enriquecer urânio para um programa nuclear civil e menos restrições à venda de armas dos EUA ao reino.

Richard Goldberg, funcionário da Casa Branca durante o governo Trump e agora conselheiro sênior da Fundação para a Defesa das Democracias, que defende maior segurança para Israel, reuniu-se com altos funcionários sauditas no mês passado. Em entrevista, ele disse que as autoridades falam sobre mineração e enriquecimento de urânio para receita de exportação, mas acredita que isso encobre o verdadeiro objetivo: ter os meios para construir um arsenal nuclear se o Irã fizer o mesmo.

“A questão em aberto - o grande ponto de interrogação - é esta: o enriquecimento de urânio é uma linha vermelha, como diz o MBS, ou é uma posição inicial?”, disse Goldberg, que se opõe ao enriquecimento iraniano e tem “forte desconforto” com a perspectiva do enriquecimento saudita. “Se é uma posição de barganha ou realmente uma linha vermelha, não é realmente conhecido.”

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Um grande obstáculo israelense: enriquecimento nuclear saudita

Netanyahu está na mais grave crise política de seus anos como primeiro-ministro: ele está sendo julgado por corrupção e a reforma legal que tentou aprovar foi recebida com protestos em massa no país. Se novas eleições fossem realizadas amanhã, as pesquisas sugerem que Netanyahu perderia.

Um acordo diplomático histórico poderia ajudar a reverter sua sorte política, acreditam alguns próximos a ele. Mas consentir com um programa saudita de enriquecimento nuclear também seria uma reversão da política de longa data de Israel, que teme que um programa nuclear saudita possa levar a uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio. Netanyahu ainda pode enfrentar forte oposição do establishment de segurança nacional de Israel se concordar com um programa de enriquecimento saudita.

Um pequeno grupo de assessores israelenses foi encarregado de lidar com as negociações sobre um possível acordo com os sauditas, incluindo Ron Dermer, ministro de assuntos estratégicos e ex-embaixador em Washington, e Tzachi Hanegbi, conselheiro de segurança nacional. O grupo visitou Washington várias vezes nos últimos meses.

Com um governo de linha dura em Israel, não há perspectiva de nenhum acordo que preveja um Estado palestino. Mas para que ocorra uma reaproximação entre a Arábia Saudita e Israel, os sauditas e o governo Biden insistiram que qualquer acordo inclua alguns gestos concretos para os palestinos, dizem as autoridades. O que podem ser ainda não está claro.

Benjamin Netanyahu está na mais grave crise política de seus anos como primeiro-ministro.  Foto: Maya Alleruzzo/AP, Pool

“Bibi quer tanto isso que pode sentir o gosto”, disse Indyk. Mas, disse ele, a menos que houvesse acomodações reais feitas por Israel em relação aos palestinos, o acordo seria efêmero e as concessões dos EUA aos sauditas seriam desperdiçadas. “Os sauditas devem entregar o mundo muçulmano, mas se os EUA deixarem o MBS deixar os palestinos para trás, a coisa toda se tornará instável.”

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Em público, as autoridades sauditas têm dito repetidamente que não estabelecerão relações com Israel sem um acordo que inclua a criação de um Estado palestino - uma linha que eles mantêm desde que o reino liderou a iniciativa de paz árabe em 2002, que ofereceu a Israel relações diplomáticas com países árabes em troca do estabelecimento de um Estado Palestino. O príncipe Mohammed reiterou essa mensagem em uma cúpula da Liga Árabe no mês passado, afirmando que a causa palestina está no topo das prioridades da política externa do reino.

Entre as maiores barreiras para a Arábia Saudita expandir seus laços com Israel está a opinião pública. Mesmo enquanto os governantes autoritários e as elites empresariais do Golfo tendem a aprofundar suas relações com Israel, a maioria dos cidadãos do Golfo se opõe à normalização total. Em uma pesquisa de abril do Washington Institute, 78% dos sauditas disseram que os Acordos de Abraham teriam um impacto negativo na região. /NYT