Em 2009, pouco antes de Edward Snowden deixar sua trabalho como técnico da CIA, em Genebra, seu supervisor escreveu um relatório depreciativo, notando uma nítida mudança no comportamento e nos hábitos de trabalho do jovem, bem como uma suspeita preocupante: Snowden estava tentando acessar arquivos secretos aos quais ele não tinha autorização. Segundo dois altos funcionários americanos, esse foi o motivo para enviarem o técnico de volta aos EUA.
Depois de sair da CIA, Snowden tornou-se técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA). Em junho deste ano ele liberou milhares de documentos confidenciais para o jornal britânico The Guardian.
Aparentemente, a nota de advertência do supervisor e as suspeitas da CIA não foram transmitidas para a NSA e só vieram à tona quando investigadores federais começaram a examinar os registros de Snowden depois que os documentos foram publicados, afirmaram oficiais e agentes de inteligência.
Não está claro o que exatamente relatório negativo do supervisor dizia, mas ele coincide com um período na vida de Snowden, em 2009, em que ele se tornou um assíduo comentarista online sobre questões de governo e segurança, reclamou sobre vigilância civil e, segundo um amigo, sofria "uma crise de consciência."
"(O relatório) se perdeu em meio a brechas", disse um agente veterano sobre o documento. Porta-vozes da CIA, NSA e do FBI não quiseram comentar a natureza do alerta e por quê ele não foi encaminhado. Alguns legisladores, oficiais de inteligência e funcionários do Congresso com conhecimento do relatório foram ouvidos pelo New York Times e concordaram em falar apenas em condição de anonimato em razão da investigação criminal estar em andamento.
"A principal fraqueza do sistema foi existir essa informação depreciativa sobre Snowden, mas ele ainda manter seu certificado de segurança e conseguir outro emprego porque a informação não foi repassada", afirmou um parlamentar republicano que foi informado sobre as atividades do ex-técnico.
É difícil afirmar o que poderia ter acontecido se os supervisores da NSA tivessem tomado conhecimento do alerta da CIA. "O espectro de coisas num arquivo pessoal poderia ser de A a Z", disse Charles B. Sowell, que até junho era um alto funcionário do Escritório do Diretor de Inteligência Nacional e trabalhava no aprimoramento da emissão de acesso a informação confidencial. "Há uma chance de que essa informação se perdesse não viesse à tona", completou. No entanto, agentes de segurança afirmaram que o relatório poderia ter afetado - e, possivelmente, reduzido - as autorizações de acesso de Snowden. /NYT
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