O governo do Nepal e os rebeldes comunistas de orientação maoísta do país assinaram na noite desta terça-feira um acordo de paz que encerra formalmente um conflito iniciado há uma década, abrindo o caminho para que os guerrilheiros maoístas façam parte de um governo interino do país. O primeiro-ministro Girija Prasad Koirala e o líder rebelde Prachanda assinaram o pacto de paz em uma cerimônia realizada em Katmandu, numa sala de convenções repleta de autoridades locais, dignitários e diplomatas estrangeiros em festa. "Isso encerra mais de uma década de guerra civil no país", declarou Prachanda, que atende por apenas um nome, logo depois de assinar o documento. O acordo é formalizado depois de meses de negociações concentradas em formas de desarmar os insurgentes e incluí-los no governo interino. Os rebeldes apoiaram os partidos pró-democracia que organizaram os protestos do início deste ano contra a ditadura imposta pelo rei Gyanendra em fevereiro de 2005. Pelo acordo, os rebeldes serão integrados ao Parlamento em 26 de novembro e colocarão suas armas sob supervisão da ONU. Um governo interino do qual líderes rebeldes farão parte será empossado em 1º de dezembro. "Com esse acordo, o cessar-fogo declarado no início do ano pelo governo e pelos maoístas terá caráter permanente", diz o documento. Cessar-fogo Os dois lados chegaram a um cessar-fogo em abril, depois de semanas seguidas de protestos contra Gyanendra para que ele reinstaurasse o Parlamento, fechado por ele 14 meses antes, quando aplicou um autogolpe. "A guerra está terminada", declarou o negociador chefe do governo, Krishna Sitaula, reponsável pela leitura da declaração que oficializa o acordo de paz. Segundo Sitaula, com a decisão, o cessar-fogo de abril se tornará permanente. Agora, quem cometer atos de violência será punido. Os rebeldes apoiaram os protestos, organizados por uma coalizão de sete partidos que integram o atual governo interino. A luta dos rebeldes maoístas pelo fim da monarquia e pelo estabelecimento de um Estado comunista no Nepal começou em 1996. Estima-se que mais de 13.000 pessoas tenham morrido em episódios de violência relacionados à insurgência ao longo da última década. "Esse momento marca o fim de 238 anos de sistema feudal" no Nepal, disse Prachanda. "Nosso partido trabalhará com nova responsabilidade e novo vigor para criar um novo Nepal." O entusiasmo e o tom conciliatório também marcou a fala do primeiro-ministro Koirala. "Eu queria agradecer Prachanda por encontra uma solução pacífica. O Nepal entrou uma nova era e abriu as portas para a paz." A ONU, por sua vez, deu boas-vindas ao acordo, que descreveu como "um novo passo chave no processo de paz".
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