Mudar uma marca consolidada é um desafio. O Royal Mail, serviço postal britânico, quis ser chamado de Consignia, em 2001. Não durou um ano e voltou ao nome dado por Henrique VIII, em 1516. Recentemente, Elon Musk decretou que o Twitter agora é X – não se sabe até quando. Agora, a Índia vive um dilema parecido.
Esta semana, o governo do premiê, Narendra Modi, distribuiu convites para a cúpula do G-20 trocando a palavra “Índia” pelo nome do país em hindi: “Bharat”. O “deslize” aumentou os rumores de que os nacionalistas indianos pretendem aposentar para sempre um dos maiores ícones da era colonial.
No convite, o presidente da Índia, Draupadi Murmu, aparece como “presidente de Bharat”, uma antiga palavra com origem no sânscrito que muitos acreditam remontar aos primeiros textos hindus.
A mudança é apoiada pelo Partido Bharatiya Janata (BJP, na sigla em inglês), de Modi e dos nacionalistas. Eles alegam que o nome do país é um “símbolo da escravidão”. Os britânicos governaram o subcontinente indiano por cerca de 200 anos, até a independência da Índia, em 1947. “Outro golpe na mentalidade escravagista”, disse o deputado Pushkar Singh Dhami, líder do BJP, que compartilhou o convite nas redes sociais.
Fardo do passado
Há muito tempo, o BJP tenta apagar os nomes relacionados ao passado mongol e colonial britânico. Em 2015, a famosa Estrada Aurangzeb, de Nova Délhi, em homenagem a um rei da Mongólia, foi rebatizada de Estrada Dr. APJ Abdul Kalam. No ano passado, o governo também renomeou uma avenida no coração da capital usada para desfiles militares.
Modi afirma que as mudanças são um esforço para recuperar o passado hindu da Índia. Os partidos de oposição, no entanto, criticaram a ideia. “Embora não seja inconstitucional chamar a Índia de Bharat, espero que o governo não seja tão tolo a ponto de dispensar completamente a Índia, que tem um valor de marca incalculável construído ao longo de séculos”, disse o deputado Shashi Tharoor.
A disputa a respeito do nome do país ganhou força em julho, quando os partidos de oposição anunciaram uma nova coalizão – a Indian National Developmental Inclusive Alliance (India) – para derrotar Modi nas eleições de 2024. Desde então, os nacionalistas passaram a defender que o país se chamasse Bharat.
Mudar o nome de um país, porém, exige mais que um decreto. A República Checa pediu para ser chamada de Chéquia, em 2016. A ONU embarcou, mas quase ninguém foi atrás. Em 2019, o governo holandês decidiu abandonar o nome de sua província mais rica e ser rebatizado de Países Baixos. Não funcionou nas línguas latinas, que permaneceram apegadas à Holanda.
Na Ásia, os países tiveram mais sucesso em virar a página do colonialismo. O Sião se transformou em Tailândia, em 1939. O Ceilão se tornou Sri Lanka, em 1972. E, mais recentemente, o ditadura da Birmânia adotou o nome de Mianmar. /AP
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