Governo Lula já discute a portas fechadas hipótese de ‘novas eleições’ na Venezuela

Ainda informal, possibilidade de realizar um ‘segundo turno’ entre Maduro e González entra no radar do governo brasileiro

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva discutem, a portas fechadas, a hipótese de que a possível fraude eleitoral na eleição presidencial na Venezuela seja resolvida por meio da convocação de uma nova eleição.

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Pela ideia em debate, seria promovido uma espécie de “segundo turno” somente entre o ditador Nicolás Maduro e o opositor Edmundo González. Embora informal, a ideia já foi levada ao conhecimento do petista.

A realização da nova votação dependeria de outro acordo entre as forças políticas venezuelanas e de determinadas condições, como a ampla presença de comitivas de observação internacionais, a promessa de anistia política aos perdedores - algo já defendido pela Colômbia - e o relaxamento das sanções contra o regime chavista.

O presidente Lula e Celso Amorim discutiram se há uma saída para a crise na eleição venezuelana por meio de novas eleições Foto: Pedro Kirilos

O jornal Valor Econômico noticiou que o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Lula, fez a sugestão a Lula e que o presidente a reproduziu verbalmente, durante a reunião ministerial realizada na quinta-feira passada, dia 8, no Palácio do Planalto.

O Estadão confirmou com a equipe de Amorim que a ideia está em discussão, tendo sido aventada por outros interlocutores do presidente. A possibilidade de realizar novas eleições ainda depende de ser mais elaborada. A Assessoria Especial da Presidência ponderou que não se trata, por enquanto, de uma proposta formal a ser apresentada pelo País.

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“É como se fosse um segundo turno das eleições”, afirmou Amorim ao Valor. “Essa ideia não é nova, existe desde o início do problema. Se quiserem negociar um pacote em torno dessas coisas, com o fim das sanções, é possível fazer uma espécie de segundo turno, com um bom acompanhamento internacional.”

O presidente Lula deve conversar sobre esse cenário ao telefone com os presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, e da Colômbia, Gustavo Petro, ainda nesta semana. O telefonema vem sendo adiado, segundo integrantes do governo, por dificuldades de agenda.

Depois, a ideia do governo Lula é levar o trio para uma conversa conjunta, também virtual, com Maduro. Em seguida, eles fariam a mesma rodada de contato direto com González. Essa é a saída que o Palácio do Planalto desenhou depois que Maduro solicitou um telefonema a Lula.

Oficialmente, o Itamaraty segue defendendo, ao lado das chancelarias de México e Colômbia, que é necessário obter dados de forma transparente, detalhada e completa sobre a votação realizada em 28 de julho. Os países pressionam o órgão eleitoral venezuelano, controlado pelo chavismo, a fornecer as atas eleitorais por mesa de votação e pedem a permissão de uma verificação imparcial dos resultados.

Sem divulgar qualquer evidência comprobatória, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou a reeleição de Maduro por 52% a 43% de González.

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Já a oposição coletou e publicou online cópias de 25 mil atas eleitorais (82% do total das mesas) e disse que sua contagem dá vitória ao desafiante, por margem inatingível para Maduro.

Duas semanas depois do pleito, cresce entre atores internacionais - e mesmo no governo brasileiro - o ceticismo com a possibilidade de divulgação real dessas atas.

O regime alega ter entregado todo o conteúdo delas ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado pela ditadura de Maduro, para que seja realizada uma “certificação” da reeleição. A corte diz que seu pronunciamento será definitivo e inapelável, embora os países da região digam que essa não é uma atribuição do Judiciário, mas sim do CNE.

Ao mesmo tempo, potências aliadas que apoiam os esforços de interlocução se mostram mais receosos com o caminho escolhido pelo governo Lula e veem ambiguidades e contradições na condução do Brasil, que não exige uma verificação externa do pleito.

Na semana passada, Celso Amorim havia dito que considerar essas atas eleitorais imprestáveis - pelo tempo decorrido e pela chance de que tenham sido fraudadas ou falsificadas - seria o mesmo que pregar a realização de novas eleições.

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A oposião enviou sinais de que rejeita uma nova disputa. A líder da oposição, Maria Corina Machado, afirmou que o resultado de 28 de julho deve ser verificado e é “inegociável”. “Por favor, na cabeça de quem se pode fazer outra eleição?, questionou ela ao jornal espanhol El País.

Integrantes das diplomacias da França e dos Estados Unidos, com experiência em Caracas, afirmam sob reserva que não está claro ainda se o objetivo de Maduro é forçar a realização de novas eleições - seja pelo TSJ ou por via diplomática - por ter de fato perdido a votação para González.

Na prática, a oposição já ofereceu por meio de entrevistas e cartas condições de anistia e garantias a ele, assessores e comandantes militares, a fim de que aceitem uma transição de poder. Mas foram ignorados.

No domingo passado, dia 5, o ex-presidente da Colômbia Iván Duque, denunciou que o plano de Maduro era anular as eleições passadas via Corte Suprema e fazer com que uma nova votação fosse realizada para chegar à paz. Segundo Duque, Maduro tentaria convencer Petro, Lula e López Obrador a endossarem diplomaticamente esse roteiro.

“Não podemos cair na armadilha de pensar que fazer novas eleições para anular as de 28 de julho na Venezuela são o único caminho para a paz. O único que se deve negociar é a saída do ditador Nicolás Maduro, não sua permanência no poder”, afirmou Duque.

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