CIDADE DO MÉXICO - No início do mês, após uma redução dos casos de contágio, o coronavírus tinha voltado a se propagar rapidamente na Cidade do México, as hospitalizações aumentavam e já não havia respiradores disponíveis, mas funcionários do governo asseguraram à população que a capital não tinha alcançado o nível crítico de contágios que obrigaria o fechamento de sua economia.
Na realidade, a cidade já havia superado esse patamar, segundo as cifras oficiais, indicou um levantamento do jornal The New York Times. No entanto, os funcionários do governo mantiveram abertos os restaurante e as lojas da Cidade do México.
O México impõe o confinamento à capital e a cada um de seus Estados de acordo com uma fórmula que leva em conta os últimos números de casos de contágio, internações e mortes. Quando o governo adotou o sistema, os funcionários disseram aos mexicanos que seria uma medida transparente e objetiva da propagação do vírus.
Mas ao fazer esse cálculo para a Cidade do México no início do mês, o governo utilizou cifras menores em duas áreas críticas – a porcentagem de camas de hospitais com respiradores que estavam ocupadas e a porcentagem de resultados positivos dos testes de covid. Ao serem questionados pelo jornal, os funcionários do governo não explicaram de onde procediam as cifras mais baixas.
O governo finalmente decidiu confinar a cidade na sexta-feira, mas os hospitais já estavam lotados. Na semana passada, a Cidade do México estabeleceu um recorde atrás de outro de pacientes internados desde o início da pandemia. O país já registrou 118.202 mortes, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos. É a quarta nação com mais óbitos no mundo.
Esgotados, médicos começaram a fazer súplicas desesperadas nas redes sociais, pedindo a todos que permaneçam em casa e advertindo que faltam leitos, remédios e especialistas. “Estamos sozinhos, o governo federal não está nos apoiando e, ao contrário, minimiza a situação”, disse Diana Banderas, médica que atende pacientes de covid-19 no hospital Carlos MacGregor da Cidade do México. “Agora já entramos em colapso.”
Diferentemente de muitos líderes mundiais, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, não adotou nenhum programa de estímulo para apoiar as empresas e os desempregados. Recentemente, a prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, disse que o governo evitou um fechamento porque “essa época do ano é muito importante em termos econômicos para as famílias”.
No entanto, permitir que os moradores da capital se amontoassem em lojas, comessem dentro de restaurantes e trabalhassem em seus escritórios durante duas semanas, quando se sabia que o vírus se propagava rapidamente, aumentou a carga sobre um sistema de saúde público já extenuado, disseram especialistas. / NYT