Governo tenta isolar atentado em Brasília e diz que segurança do G-20 é adequada a todos os cenários

Planalto diz que ‘Janjapalooza’ não será cancelado e que nenhum chefe de Estado entrou em contato após o episódio

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Foto do author Paula Ferreira

ENVIADO AO RIO E BRASÍLIA - O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta isolar o atentado ocorrido na noite desta quarta-feira, dia 13, em Brasília de seus possíveis impactos na Cúpula de Líderes do G-20, que começa em quatro dias, no Rio. A reunião vai receber 55 delegações globais chefiadas por presidentes, primeiros-ministros e diretores de organismos internacionais.

As explosões provocadas por Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, que morreu na ação na Praça dos Três Poderes, levaram preocupação a embaixadas e a integrantes da própria organização do G-20. Não houve cancelamentos de participações, tampouco mudanças na programação oficial e paralela, que inclui um festival de música e cultural promovido pela primeira-dama, Janja da Silva.

Imagens aéreas locais G20 - Local G20 aerial images - Armazém Utopia. Foto: Foto: Rafa Neddermeyer/G-20 Brasil

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, afirmou nesta quinta-feira, 14, que nenhuma delegação entrou em contato com o governo brasileiro após atentado na Praça dos Três Poderes para questionar questões de segurança. Segundo Pimenta, o festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, conhecido como “Janjapalooza”, está mantido. “Por que não seria (mantido)?”, minimizou o ministro.

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De acordo com o ministro, a priori, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve se manifestar sobre o caso. Ele disse ainda que “não tem necessidade” de rever a segurança na Esplanada dos Ministérios e tampouco no G-20. Questionado sobre o motivo do silêncio de Lula diante do fato, Pimenta afirmou que o presidente reagiu com tranquilidade e não considera necessário se pronunciar nesse momento.

O ministro questionou uma das linhas de investigação que trata o caso como um suicídio. “Não trato como fato isolado, para mim é fruto de um ambiente estimulado de intolerância, ódio, que já gerou vários episódios: Carla Zambelli, Roberto Jefferson, tentativa de explosão no dia da diplomação, tentativa de explosão no aeroporto, 8 de janeiro”, enumerou.

O Itamaraty informou, por meio da assessoria de imprensa, que o todos os cenários estão contemplados na preparação de uma cúpula envolvendo chefes de Estado e de governo das 20 maiores economias do mundo. Segundo o ministério, “o planejamento e a operação são adequados”.

A pasta está à frente da organização do G-20 e coordena o Plano Estratégico Integrado de Segurança para a Cúpula de Líderes do G-20. Também fazem parte do planejamento a Casa Civil, o Gabinete de Segurança Institucional e os ministérios da Defesa, da Justiça e Segurança Pública, da Fazenda, da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.

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Diplomatas relataram que o caso não chegou a ser debatido durante a discussão dos sherpas - atualmente os chefes de delegações presentes no Rio. Em privado, um dos negociadores disse que a explosão no entorno na Praça dos Três Poderes é um caso “gravíssimo”.

Na véspera, como mostrou o Estadão, a primeira análise do impacto, feita por uma figura central na organização do G-20, indicava que o grau de atenção seria elevado e as medidas de segurança com a chegada iminente dos líderes ao Rio. Mas dentro das medidas já previstas.

Efeito limitado

Em Brasília, embaixadas europeias dispararam contatos nesta quinta-feira, dia 14, aos órgãos de segurança e inteligência brasileiros para obter detalhes do caso. Houve apreensão sobretudo por causa da vinda ao País de lideranças globais.

A despeito de as investigações estarem ainda em curso sobre a hipótese de envolvimento de outras pessoas, a impressão reportada às capitais é de que o caso tem características de um ataque de “lobo solitário”, não de conspiração, e de que seus efeitos ficarão limitados.

Um diplomata afirmou que se assemelha a ações de extrema-direita, mas pontual e que a avaliação de seu impacto deve ser proporcional. Segundo esse analista, as medidas de segurança vigentes costumam ser mais leves no Brasil pelo fato de o País não ter sido confrontado antes com atos terroristas - daí a facilidade de acesso do autor a sede dos poderes.

A reação do governo é interpretada por eles como um ato para demonstar controle e o funcionamento dos órgãos de investigação, em vez de nervosismo diante da preparação da Cúpula do G-20.

A cidade do Rio de Janeiro se prepara pra receber na próxima segunda, 18, e terça-feira, 19, 55 delegações estrangeiras, a maior parte em representada por chefes de Estado e de governo das 20 maiores economias do mundo, países convidados e lideranças de organismos internacionais.

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Entre eles, os presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, da China, Xi Jinping, da França, Emmanuel Macron, e o premiê do Reino Unido, Keir Starmer, e o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, as cinco potencias do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

As explosões ocorreram ainda dias antes da chegada de Xi Jinping a Brasília. Ele fará visita de Estado e passa a quarta-feira, 20, na capital. Será recebido por Lula no Palácio da Alvorada, residência oficial, a quatro quilômetros do local da explosão, no Supremo Tribunal Federal.

A recepção no Alvorada é incomum e já sinalizava, segundo secretários do Itamaraty, restrições de segurança e deferência ao líder chinês.

Entre as medidas de segunda exigidas pelas delegações estavam justamente varreduras pelo esquadrão antibombas da PF, em hotéis na orla do Rio e nos ambientes onde os líderes estarão, notadamente, o Museu de Arte Moderna (MAM), onde ficarão por dois dias.

Houve colocação de grades no Aterro do Flamengo, que ficará fechado ao público geral nos próximos e batedores das forças de circulavam em motocicletas. Há policiamento ostensivo na região, feito por forças federais e estaduais, com uso inclusive de drones de grande dimensão.

O presidente Lula deve chegar no sábado, 16, para as agendas paralelas como U-20, com prefeitos, e o G-20 Social, ao longo do fim de semana. Os demais líderes começam a chegar no domingo, dia 17.

Uma carreta da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi instalada ao lado do Aeroporto Santos Dumont, que por exigência de segurança das comitivas estrangeiras será fechado para voos comerciais entre o dia 17 e 20. O espaço aéreo será controlado e o trânsito de veículos também ficará bloqueado.

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O presidente decretou o emprego das Forças Armadas no período de 14 a 21 de novembro, em Garantia da Lei e da Ordem, a GLO. O controle de espaços pelos militares já começou.

O efetivo previsto era de 9 mil militares da Marinha, Exército e Aeronáutica, segundo o Ministério da Defesa. Eles atuarão na Marina da Glória, no MAM, Monumento a Estácio de Sá, hotéis da Orla do Leme à Barra da Tijuca, aeroportos Santos Dumont e Galeão (usado pelas comitivas com voos oficiais) e nos respectivos deslocamentos das autoridades.

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