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Greve dos ferroviários e indefinição sobre Orçamento ampliam crise no governo de Liz Truss

Primeira-ministra britânica tenta restaurar sua autoridade em um partido que teme que sua chance de reeleição esteja desmoronando

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Por Redação
Atualização:

LONDRES - Liz Truss deveria estar comemorando seu primeiro mês como primeira-ministra britânica. Em vez disso, ela está lutando para se manter no cargo. O Reino Unido enfrenta esta semana grandes greves de trens que afetarão a vida de milhões de pessoas em um ambiente político já desafiador para a nova primeira-ministra.

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Ao mesmo tempo, Truss passa a primeira conferência do Partido Conservador como sua líder, esta semana, lutando para tranquilizar os mercados financeiros assustados com as promessas econômicas de seu governo. Ela tenta restaurar sua autoridade em um partido que teme que sua chance de reeleição esteja desmoronando.

Os sindicatos que representam os maquinistas e outros trabalhadores ferroviários, programados para parar nos dias 5, 6, 7 e 8 de outubro, bem como na próxima segunda-feira na Escócia, dizem que houve muito pouco progresso nas negociações de longa data com o governo sobre aumentos salariais, demissões e condições de trabalho.

A primeira-ministra britância Liz Truss (E) e seu ministro das Finanças visitam a obra de um hospital em Birmingham, onde o Partido Conservador se reúne em semana de tensão para a premiê Foto: Stefan Rousseau/AFP - 04/10/2022

Os líderes sindicais argumentam que essas questões são mais agudas porque o Reino Unido está enfrentando uma crise histórica de custo de vida. O Banco da Inglaterra espera que a inflação atinja 11% este mês.

As tensões entre os sindicatos e a liderança política do Reino Unido tornaram-se cada vez mais públicas. Líderes sindicais dizem que seus problemas são piores desde que a recém-eleita primeira-ministra, que substituiu Boris Johnson no mês passado, propôs planos econômicos que colocaram a libra em uma vertiginosa espiral descendente na semana passada e provocaram pânico nos mercados financeiros.

Uma paralisação no sábado foi anunciada como a maior greve ferroviária do país em décadas - programada para coincidir com a conferência anual do Partido Conservador em Birmingham. As greves de quarta-feira ocorrerão quando Truss deve discursar à conferência pela primeira vez como sua líder.

Os maquinistas de 13 companhias ferroviárias - incluindo Chiltern Railways, North Eastern Railway e London Overground - planejam entrar em greve na quarta-feira devido a demandas não atendidas “por salários que acompanhem o custo de vida”, disse um dos dois sindicatos que organizam a greve. O Heathrow Express, que leva viajantes do centro de Londres ao aeroporto mais movimentado do Reino Unido, também não funcionará na quarta-feira.

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Alguns trabalhadores da Great Western Railway farão greve entre o meio-dia de quinta-feira e o fim do dia de sexta-feira, afirmou o sindicato. A empresa é uma das maiores operadoras de trens do Reino Unido e conecta Londres ao País de Gales e ao sudoeste da Inglaterra.

Os ferroviários não são os únicos em greve. Truss é primeira-ministra há apenas um mês, mas seu governo já teve de lidar com as consequências de greves em larga escala em todos os setores, de transporte a coleta de lixo e até advogados - todos relacionados a salários e questões de um desconforto mais profundo dentro do economia britânica.

Inflação

A inflação no Reino Unido está em 9,9% - 4,5 vezes maior que a meta do Banco da Inglaterra. Espera-se que atinja 11% em outubro, colocando mais pressão sobre as famílias que já lutam para pagar aluguel, comida e contas de serviços públicos.

Enquanto a inflação está subindo globalmente, o Reino Unido foi particularmente atingido, com o aumento da demanda do consumidor e os gargalos da cadeia de suprimentos empurrando os preços para cima, e a guerra na Ucrânia multiplicando o custo do gás e da eletricidade, de acordo com o Parlamento britânico.

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O anúncio de Truss no fim de setembro de um plano para a economia com base em grandes cortes de impostos principalmente para os ricos contribuiu para uma desvalorização maciça da moeda britânica que forçou Truss e Kwasi Kwarteng, seu ministro das Finanças, a abandonar o projeto de abolir a alíquota máxima do imposto de renda. O plano recebeu muitas críticas por prever o financiamento dos cortes de impostos com mais dívida pública.

Pressionada por instituições financeiras, pela opinião pública e pelo próprio Partido Conservador, o governo anunciou na segunda-feira a retirada de uma de suas principais medidas: o fim da faixa de imposto de renda mais elevada, de 45%, para que tem renda superior a 150 mil libras por ano (US$ 170 mil). “Acho que não há absolutamente nenhuma vergonha em um líder ouvir as pessoas e responder, e esse é o tipo de pessoa que sou”, disse Truss ao canal privado Sky News.

A primeira-ministra britânica, Liz Truss, deixa o Número 10 de Downing Street, em Londres  Foto: Clodagh Kilcoyne/Reuters - 23/09/2022

Depois de afirmar recentemente que a polêmica abolição do imposto de 45% foi uma iniciativa exclusiva do ministro Kwarteng, ela acabou manifestando sua “absoluta” confiança em seu funcionário. Os mercados financeiros ficaram agitados na semana passada com a falta de números precisos sobre o pacote orçamentário e a perspectiva de financiar as medidas com o aumento da já gigantesca dívida pública britânica.

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O Banco da Inglaterra precisou atuar de maneira emergencial e comprar títulos do Tesouro a longo prazo para evitar a quebra dos fundos de pensão. O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez um apelo para que o governo não aumente a desigualdade em plena crise do custo de vida com um corte de impostos a favor dos mais ricos.

Ao canal GB News, Kwarteng afirmou, no entanto, que não apresentará os detalhes do plano antes de 23 de novembro.

Truss X sindicatos

Truss tem sido um crítica de sindicatos e movimentos de greves. No fim de julho, quando ela estava concorrendo para substituir o ex-primeiro-ministro Boris Johnson, atormentado por escândalos, Truss disse ao Sunday Express que um de seus primeiros atos como primeira-ministra seria “reduzir a capacidade dos sindicatos de causar consternação persistente e perturbação às nossas vidas diárias.”

Como parte do anúncio do orçamento, Kwarteng disse aos legisladores que o governo pressionaria por novas leis forçando os operadores de trem a manter um nível mínimo de serviço durante as greves e exigindo que os sindicatos colocassem ofertas salariais do governo para seus membros para votação.

No sábado, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores Ferroviários, Marítimos e de Transporte afirmou em um comunicado à imprensa que teve uma “reunião positiva” com a secretária de Estado de Transportes de Truss, Anne-Marie Trevelyan. Mas disse que “nada mudou concretamente” e acrescentou que a “ameaça de Kwarteng de impor mais restrições ao direito de greve inflamou ainda mais os sentimentos dos membros”, levando à greve. “O governo deve mudar de rumo”, disse.

Se as negociações não forem resolvidas, os líderes sindicais sugeriram que as greves podem se estender até o período do Natal. “Do jeito que as coisas estão, teremos de ser criativos”, disse o secretário-geral assistente da RMT, Eddie Dempsey, ao Mirror no sábado.

Assistência social

Enquanto isso, o governo também terá de administrar, em breve, outra questão delicada: a reavaliação da assistência social. Truss afirmou que ainda não tomou qualquer decisão sobre o aumento em um cenário de inflação historicamente alta, ao redor de 10%.

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Aumentando o risco de uma nova rebelião parlamentar, alguns dos principais parlamentares conservadores disseram que podem votar contra um aumento abaixo da inflação.

A questão já provoca divergências dentro do próprio governo de Truss. A secretária de Estado para Relações Parlamentares, Penny Mordaunt, disse à Times Radio que “sempre apoiou, tanto no que diz respeito às aposentadorias quanto ao nosso sistema de previdência, atualizá-lo de acordo com a inflação”.

Vários ex-ministros de Johnson, agora deputados, lembraram a Truss que ela deve seguir o programa, com o qual seu antecessor conquistou a maior vitória eleitoral conservadora no país em 40 anos, em dezembro de 2019.

Tornando as divisões internas cada vez mais aparentes, a secretária do Interior, Suella Braverman, acusou alguns de tentarem derrubar Truss. “Estou muito decepcionada que membros da nossa própria bancada queiram dar um golpe de Estado e tenham minado de forma não profissional a autoridade da primeira-ministra”, disse ela. / WP, AP e AFP

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