Grupo de esquerda é condenado por atacar neonazistas na Alemanha

Pela primeira vez desde o cerco ao Baader-Meinhof, nos anos 70, Alemanha julga militantes esquerdistas

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Por Redação

DRESDEN – Um tribunal alemão condenou nesta quarta-feira, 31, quatro extremistas de esquerda por ataques contra neonazistas. Foram seis atentados violentos nos Estados da Turíngia e da Saxônia, entre agosto de 2018 e julho de 2020, que feriram 13 pessoas, duas delas gravemente.

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Foi o primeiro julgamento de militantes de esquerda – fato raro na Alemanha – desde o cerco ao Baader-Meinhof, nos anos 70, organização guerrilheira da Alemanha Ocidental, que travou uma luta armada contra o Estado.

A líder do grupo, uma mulher de 28 anos, foi identificada apenas como Lina E., em razão da rígida lei de privacidade da Alemanha. Ela foi condenada a 5 anos e 3 meses de prisão por um tribunal de Dresden, por associação criminosa e agressão. Os outros três membros do grupo – Lennart A., de 28 anos; Jannis R., de 37, e Philipp M., de 28 – foram julgados como cúmplices e receberam penas que variam de 2 anos e 5 meses a 3 anos e 2 meses.

Polícia da Alemanha entram em confronto com manifestantes de esquerda no tribunal de Dresden. Manifestação é contra condenação de grupo de esquerda que atacou neonazistas Foto: Filip Singer/EFE

O grupo não tem nome, nem uma organização rígida. Mascarados, eles espancavam com martelos e porretes extremistas de direita e lutadores de artes marciais identificados como neonazistas violentos. Um dos agredidos, no entanto, apenas usava o boné de uma marca de roupas ligada à extrema direita – ele negou ser neonazista. A maioria acabou internada com fraturas.

Lina E. foi presa em novembro de 2020 em sua casa em Leipzig, na Saxônia. Ela foi indicada por formação de quadrilha e lesão corporal. O caso imediatamente capturou a imaginação dos alemães, desde que ela desceu de um helicóptero da polícia cercada por agentes fortemente armados em Karlsruhe.

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Para alguns, ela é uma criminosa violenta, que lembra Ulrike Meinhof, jornalista e guerrilheira que comandava a Fração do Exército Vermelho (RAF), também conhecido por Baader-Meinhof, nos anos 70.

Outros consideram Lina uma heroína. Durante o julgamento, que começou em setembro de 2021, ela virou um ícone nos círculos anarquistas e esquerdistas da Alemanha. Em Berlim, Dresden e Hamburgo, muros foram pichados com a frase “Free Lina”. Algumas lojas de Leipzig colocaram caixinhas de coleta para ajudá-la com os custos de defesa.

A aparição de Lina no tribunal de Dresden foi cinematográfica. Cerca de 100 simpatizantes aplaudiram das galerias quando ela entrou na corte, obrigando o juiz a exigir silêncio para que pudesse falar.

Os apoiadores gritavam da tribuna “Amigos de fascistas!”, uma referência à lentidão com a qual a Justiça alemã trata os crimes neonazistas. O próprio juiz reconheceu que o extremismo de direita representa uma ameaça muito maior, mas disse que até os neonazistas têm direitos, por mais repreensível que seja sua ideologia. /ASSOCIATED PRESS

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