DAVOS, SUÍÇA - Rompendo uma tradição antiga da América Latina, os governos da região avaliam convidar os Estados Unidos para fazer parte ativa do Grupo de Lima, bloco de países que tem se coordenado para pressionar o governo de Nicolás Maduro. O objetivo é de que, com a presença americana, o cerco diplomático e financeiro em relação ao regime possa dar resultados mais rápidos.
Hoje, a convocação da população às ruas na Venezuela é acompanhada pelo Itamaraty e outras diplomacias da região como um "dia-chave". No caso brasileiro, a expectativa é para saber qual será a dimensão do apoio popular à ideia de uma mudança de governo, em Caracas. Dependendo da reação popular, o governo brasileiro poderá apoiar a transição de regime na Venezuela, desde que se faça em coordenação com a oposição.
A esperança, na avaliação do Itamaraty, é de que a mobilização seja suficiente para dar um recado ao governo Maduro de que sua permanência é insustentável. Há, porém, o temor de que o movimento seja reprimido.
Com seis presidentes latino-americanos em Davos nesta semana, o Brasil não descarta que se organize uma reunião do Grupo de Lima ainda na Suíça, nestes próximos dias.
Na manhã desta quarta-feira, 23, o chanceler Ernesto Araújo já esteve reunido com o ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Luis Alberto Castiglioni. Na agenda, a crise venezuelana.
De acordo com o paraguaio, existe de fato a possibilidade de uma ampliação do Grupo de Lima, mas ele evitou dar os nomes de países. "Será no âmbito do hemisfério e podemos crescer. Existem algumas conversas na Organização dos Estados Americanos (OEA)", indicou o ministro, que também fala em um convite aos europeus.
"Queremos que seja ampliado para permitir que haja um impacto", afirmou Castiglioni. "Hoje, a única maneira é a pressão internacional", declarou o chanceler. "Precisamos de uma aliança global."
A esperança dos diplomatas é que, com os EUA no Grupo de Lima e o Brasil fazendo parte dos Brics, possa haver uma pressão maior sobre russos e chineses, que mantém o apoio a Maduro.
Ao Estado, o presidente do Equador, Lenín Moreno, também falou sobre a necessidade de que haja um compromisso internacional para fazer frente ao governo venezuelano. Ele defendeu, no entanto, que a solução "passa por estabelecer um diálogo democrático".
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