Grupo xiita Hezbollah e aliados perdem maioria no Parlamento libanês

Resultado é grande golpe para o movimento que reflete a raiva do eleitorado com a elite dominante do país

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Por Redação
Atualização:

O Hezbollah, grupo político e armado apoiado pelo Irã, e seus aliados perderam a maioria no Parlamento do Líbano nas eleições gerais de domingo, segundo projeções desta terça-feira, 17. O resultado é um grande golpe para o grupo xiita que reflete a raiva do eleitorado com a elite dominante do país.

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O movimento muçulmano xiita e as facções que o apoiam conquistaram cerca de 62 dos 128 assentos do Parlamento, uma reversão do resultado de 2018, quando obtiveram a maioria de 71.

Na primeira eleição desde o colapso econômico do Líbano e a explosão do Porto de Beirute em 2020, os recém-chegados políticos reformistas ganharam cerca de uma dúzia de cadeiras, fazendo um avanço inesperadamente forte em um sistema há muito dominado pelos mesmos grupos.

O ministro do Interior, Bassam Mawlawi, concede entrevista coletiva para falar das eleições no Líbano. Foto: Hassan Ammar/AP Foto: Hassan Ammar/AP

Opositores do Hezbollah, incluindo as Forças Libanesas - uma facção cristã alinhada com a Arábia Saudita - ganharam espaço. Eles ficaram com 19 cadeiras, 4 a mais do que em 2018, enquanto o Movimento Patriótico Livre (FPM), aliado do Hezbollah, manteve 18 lugares, segundo autoridades de ambos os partidos.

Os resultados deixam o Parlamento dividido em vários campos, nenhum dos quais com maioria, aumentando a perspectiva de paralisia política e tensões que podem atrasar as reformas necessárias para tirar o país de sua devastadora crise econômica.

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“A fragmentação aumentou no Parlamento e isso dificulta o processo de legislação e a formação de maiorias”, disse o líder do FPM, Gebran Bassil, em entrevista coletiva nesta terça-feira, pedindo aos recém-eleitos que trabalhem em conjunto com seu partido.

Embora a eleição de 2018 tenha aproximado o Líbano da órbita do Irã, que é governado por muçulmanos xiitas, esses resultados podem abrir caminho para a Arábia Saudita reafirmar a influência em um país que há muito tem sido uma arena para sua rivalidade regional com Teerã.

Provocação

O embaixador saudita no Líbano fez uma aparente provocação ao Hezbollah na terça-feira, sem citá-los nominalmente. No Twitter, ele afirmou que o resultado da eleição “provou o inevitável de que a lógica do Estado vencerá seus excessos absurdos que perturbam a vida política e a estabilidade no Líbano”.

Os resultados finais incluíram ainda um recorde de oito legisladoras, quase metade delas recém-chegadas. Entre os que ficaram de fora, dois parlamentares aliados do Hezbollah surpreenderam: Talal Arslan, herdeiro de uma das mais antigas dinastias políticas drusas do Líbano, e Elie Ferzli, vice-presidente do Parlamento.

O político muçulmano sunita Faisal Karami, descendente de outra dinastia política libanesa, também perdeu seu assento na segunda cidade do país, Trípoli.

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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu em comunicado na segunda-feira a formação rápida de um governo inclusivo para estabilizar a economia libanesa.

Mas para o diretor do grupo de estudos The Policy Initiative (Beirute), Sami Atallah, isso é improvável. Para ele, os grupos dentro de um agora polarizado Legislativo devem brigar para eleger um presidente do Parlamento, nomear o próximo primeiro-ministro e votar em um presidente do país ainda este ano.

No Líbano, o sistema político leva em consideração a divisão étnica do país. Para tentar um equilíbrio, a ideia é que o cargo de presidente fique reservado aos cristãos, o de primeiro-ministro aos sunitas e o de líder do Parlamento aos xiitas.

“Temos um Parlamento parecido com um mosaico, e a presença de novos rostos é interessante porque eles podem pressionar por novas ideias e impedir as prejudiciais”, disse Atallah.

Mas os recém-chegados têm ideias tão díspares sobre como consertar o país que ainda não está claro se eles trabalharão juntos, analisa o especialista. Eles terão de lidar com políticos estabelecidos que têm fortes laços com o sistema bancário, que o governo reconheceu ter perdido US$ 72 bilhões nos últimos anos.

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O mau desempenho nas eleições pelo Hezbollah e seus aliados não afetará o status das armas do grupo. Esse acesso está além do controle do Estado, o que significa que nenhum Parlamento pode removê-lo ou afetar a forma como é usado. Por outro lado, para o analista, o resultado da eleição poderia pressionar o grupo a adotar uma posição linha-dura.

Sequência de imagens mostra o 'Punho da Revolução' , símbolo dos protestos de 2019 em Beirute, antes e depois de ter sido destruído após o resultado das eleições, em 17 de maio. Foto: Joseph Eid e Louai Beshara/AFP Foto: Joseph Eid e Louai Beshara/AFP

Durante a noite de segunda-feira, grandes multidões carregando bandeiras do Hezbollah se reuniram no centro de Beirute, cantando em apoio ao grupo. Pela manhã, um punho gigante de papelão no centro da capital, que foi erguido pela primeira vez quando os protestos contra o governo eclodiram três anos atrás, foi derrubado e queimado, segundo a agência Reuters.

As manifestações de 2019 refletiram a raiva contra uma classe política vista como corrupta e ineficiente. Desde então, o Líbano mergulhou em uma crise econômica que o Banco Mundial descreveu como uma das piores desde a Revolução Industrial.

A moeda local perdeu mais de 90% de seu valor, chegando a 30.000 libras por dólar americano nesta terça-feira, uma perda de aproximadamente 10% desde a eleição de domingo.

Mas o banco central do Líbano afirmou que continuará permitindo que bancos comerciais comprem dólares em sua taxa de plataforma Sayrafa “sem emendas”, uma operação que ajudou a estabilizar a taxa de câmbio desde que começou a operar em janeiro.

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O declínio econômico empurrou quase três quartos da população do Líbano para abaixo da linha de pobreza, o que os observadores eleitorais alertaram que poderia abrir a porta para compra de votos durante a eleição.

A prática foi denunciada em uma declaração preliminar nesta terça-feira da Missão de Observação Eleitoral da União Europeia, que afirmou que o processo eleitoral foi “ofuscado por práticas generalizadas de compra de votos, clientelismo e corrupção”./REUTERS e NYT

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