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Grupos radicais pró-Trump planejam via Telegram ataques e protestos no dia da eleição

Grupos extremistas usam aplicativo de mensagem para organizar protestos nas ruas e pedem aos seguidores que observem os resultados e defendam seus direitos, em um prenúncio de caos

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Por Paul Mozur (The New York Times), Adam Satariano (The New York Times), Aaron Krolik e Steven Myers (The New York Times)

Grupos de apoiadores do ex-presidente Donald Trump no aplicativo de mensagens Telegram se mobilizaram nos últimos dias para organizar fiscais eleitorais em áreas democratas para que estejam prontos a contestar e disputar votos. Algumas mensagens mostram imagens de homens armados defendendo seus direitos e urgindo pessoas a se unirem a causa. Outros espalharam teorias da conspiração de que qualquer cenário que não seja vitória de Trump é uma fraude que deve ser contestada nas ruas.

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“Está se aproximando rapidamente o dia em que não será mais possível ficar em cima do muro”, dizia uma postagem dos Proud Boys, a organização de extrema direita fundamental para o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, de Ohio.“Ou você se posicionará ao lado da resistência ou se ajoelhará e aceitará de bom grado o jugo da tirania e da opressão”.

Todas as mensagens foram postadas no Telegram, o aplicativo de mensagens com quase um bilhão de usuários, que se tornou prenúncio das possíveis ações e caos que podem ocorrer no dia da eleição e nos dias seguintes. Mais do que outros aplicativos, o Telegram é a principal ferramenta de organização para extremistas, que tendem a transformar a coordenação digital em ação nas ruas.

Imagem mostra apoiadores de Donald Trump durante a invasão ao Capitólio dos EUA, em 6 de janeiro de 2021. O grupo Proud Boys, que protagonizou a invasão, voltou a se organizar nos últimos dias Foto: Jason Andrew/NYT

Uma análise do The New York Times de mais de um milhão de mensagens em quase 50 canais do Telegram, com mais de 500 mil membros, revelou um movimento amplo e interconectado com a intenção de questionar a credibilidade da eleição presidencial, interferir no processo de votação e potencialmente contestar o resultado. Quase todos os canais analisados pelo NYT foram criados após a eleição americana de 2020, o que mostra o crescimento e a sofisticação do movimento que nega a veracidade das eleições.

O Times analisou mensagens de grupos de “integridade eleitoral” em uma dúzia de Estados, incluindo Estados-chave para a eleição como Pensilvânia, Geórgia, Wisconsin, Carolina do Norte e Michigan. As postagens, em sua maioria, despejam desinformação e teorias de conspiração e apresentavam imagens violentas.

Mais de 4 mil posts foram além, incentivando os membros a agir, participar de reuniões eleitorais locais, juntar-se a manifestações de protesto e fazer doações financeiras, mostra a análise. As postagens de outros grupos de direita analisadas pelo The Times pediam aos seguidores que se preparassem para a violência. Os apelos à ação estenderam a retórica de direita, normalmente encontrada em outras redes sociais, para o mundo físico.

Em New Hampshire, um canal do Telegram instruiu as pessoas a questionar pessoalmente as autoridades locais sobre a contagem de votos de eleitores ausentes. Na Geórgia, os seguidores de um canal local do Telegram foram incentivados a participar de reuniões do conselho eleitoral para defender limites ao voto do mesmo tipo de eleitor. No Novo México, as pessoas foram orientadas a monitorar as seções de votação com câmeras, registrar boletins de ocorrência se necessário e estar prontas para “lutar ao extremo”.

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“Se você já se perguntou: ‘O que posso fazer?’, esta é a sua oportunidade”, disse uma postagem de um grupo do Telegram focado na Pensilvânia.

Katherine Keneally, ex-analista de inteligência do Departamento de Polícia de Nova York, disse que as opiniões compartilhadas no Telegram não devem ser descartadas como reflexões de uma minoria à margem, mas sim vistas como um alerta sobre o que pode acontecer no dia da eleição e depois.

“O Telegram é muitas vezes fundamental para organizar as pessoas para se envolverem em atividades nas ruas”, disse Keneally, que agora trabalha para o Institute for Strategic Dialogue, uma empresa de pesquisa que monitora o Telegram. Ela se lembra de ter participado de uma reunião de céticos eleitorais em Montana, onde os participantes ensinaram uns aos outros como usar o aplicativo. Entre os movimentos mais extremistas, disse ela, o Telegram é usado “de forma muito estratégica para radicalizar e recrutar”.

O Telegram desempenhou um papel pequeno, mas significativo, na eleição de 2020 como uma ferramenta de organização para os organizadores do ataque de 6 de janeiro. Hoje, a influência desses grupos é maior e potencialmente mais ameaçadora, de acordo com a análise do The Times.

Em uma declaração, o Telegram, cujo fundador e proprietário foi preso na França em agosto por acusações relacionadas à disseminação de material ilícito no serviço, disse que havia aumentado a moderação de conteúdo antes da eleição. A empresa acrescentou que cooperaria com as autoridades para remover “conteúdo criminoso”.

“O Telegram não tolera conteúdo que incentive a interrupção de processos democráticos legais por meio de violência ou destruição de propriedade”, disse.

O Telegram desempenhou um papel pequeno, mas significativo, na eleição de 2020 como uma ferramenta de organização para os organizadores do ataque de 6 de janeiro. Hoje, a influência desses grupos é maior e potencialmente mais ameaçadora, de acordo com a análise do The Times.

Os canais midiáticos de direita publica um fluxo de notícias, memes e desinformação sobre supostas irregularidades nas votações, que são então aproveitadas por outros grupos que as utilizam para argumentar que os democratas começaram a roubar a eleição. Em meio a isso, há apelos para que os cidadãos compareçam às urnas e monitorem e denunciem as irregularidades - ou lutem, se necessário.

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“Enquanto outras plataformas são voltadas principalmente para a autoexpressão, para ‘dominar os liberais’ e para a zoação odiosa, o Telegram geralmente gera um ambiente de ‘vamos fazer alguma coisa’”, disse Paul Barrett, vice-diretor do Centro Stern para Negócios e Direitos Humanos da Universidade de Nova York.

Imagem desta segunda-feira, 4, mostra dois funcionários próximos a uma caixa de votação em São Francisco, na Califórnia. Grupos radicais afirmam sem provas que democratas roubam eleição Foto: Loren Elliott/AFP

O movimento de “integridade eleitoral” no Telegram inclui uma rede informal de contas dedicadas à “auditoria” do voto e à amplificação de teorias de má-fé eleitoral, como falsas alegações de que os funcionários eleitorais dão aos eleitores republicanos canetas Sharpies incompatíveis com as cédulas de votação.

Um canal focado em auditoria eleitoral em Nova York apresentou anúncios de recrutamento da United Sovereign Americans, que se autodenomina um grupo nacional de defesa da “validade das eleições”. Um de seus advogados é um ex-procurador-geral da Pensilvânia que defendeu Trump durante o segundo processo de impeachment em 2021, após o 6 de janeiro.

Sob uma imagem do Tio Sam e um banner vermelho em negrito “PRECISAMOS DE VOCÊ!”, o grupo alegou recentemente, sem nenhuma evidência confiável, que os registros de eleitores de 2022 mostraram “milhões de ‘irregularidades’ que, quando ignoradas, são fraude eleitoral”. Muitas alegações sobre fraudes eleitorais foram desmentidas. O grupo não respondeu a um pedido de comentário.

Outro grupo, focado na auditoria de votos na Pensilvânia, ofereceu uma compensação paga para fiscais eleitorai se eles trabalhassem no reduto tradicional democrata do condado de Allegheny, onde fica Pittsburgh. “Preencha suas informações e entraremos em contato para que você seja treinado e esteja pronto para o dia da eleição!”, disse o grupo.

Outro canal do Telegram administrado por um grupo chamado People’s Audit publicou um vídeo que oferece uma “situação hipotética totalmente possível”, na qual o Departamento de Segurança Interna usava as carteiras de motorista de imigrantes sem documentos para votar em massa na candidata democrata à presidência, a vice-presidente Kamala Harris. O vídeo apresentou o cenário, embora seja ilegal e raro que não cidadãos votem em eleições federais.

“Sim, eles estariam se envolvendo em roubo de identidade, interferência eleitoral e traição, que é punível com a morte”, concluiu o vídeo.

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Kris Jurski, que postou o vídeo, disse no Telegram que ele havia sido excluído do X. Kris se disse grato pelo vídeo ter permanecido no Telegram, que ele usou mais tarde para anunciar um webinar ensinando as pessoas a proteger as listas de eleitores e impedir fraudes. Ele não respondeu a um pedido de comentário.

Muitas postagens que lançam dúvidas sobre a confiabilidade das eleições chegaram aos canais de grupos extremistas como o Proud Boys, que preferiu o Telegram a outras plataformas depois de ser restringido por sites como Facebook, Instagram e X.

As postagens do grupo lançam dúvidas do porquê os Estados talvez não consigam contabilizar os resultados na noite da eleição e repetiam afirmações enganosas sobre os números de registro de eleitores em Michigan. Em um vídeo, um caminhão com uma bandeira confederada perseguia crianças imigrantes, com uma legenda que dizia: “1/20/25: Trump é empossado como presidente. 1/21/25: Eu e os Proud Boys começamos a deportação”.

“Quando você olha para as postagens, mesmo que não esteja realmente urgindo pela violência ou mesmo que não diga ‘precisamos pegar quem quer que seja’, há um tom muito feio nisso”, disse Wendy Via, fundadora do Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo, que acompanhou um aumento de 317% no negacionismo eleitoral no Telegram em outubro. Não houve nenhum movimento de esquerda significativo como esse, disse ela.

Nos últimos meses, muitos canais do Telegram administrados por grupos dos Proud Boys comemoraram o retorno à relevância, incluindo a atenção percebida de Trump e de seus aliados. Vários relatos apontaram para as gravatas e chapéus pretos e amarelos - cores dos Proud Boys - usados por Trump e pelo ex-apresentador da Fox News, Tucker Carlson, durante um comício recente no Madison Square Garden, em Nova York.

Perguntada se Trump tinha a intenção de enviar um sinal, uma porta-voz de sua campanha respondeu: “Lol (expressão que significa ”rindo alto”, traduzido para o português). Não.” Carlson não respondeu a um pedido de comentário, mas postou no X que o The Times “reconhece uma gravata dos Proud Boys quando vê uma”.

“Eles se sentem ativados”, disse Michael Loadenthal, que pesquisa violência política na Universidade de Cincinnati, acrescentando que os grupos dos Proud Boys se reuniram publicamente com menos frequência do que antes da eleição de 2020. “Há um sentimento de que eles estão certos”.

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As mensagens de recrutamento nas contas públicas do Telegram de vários capítulos dos Proud Boys procuraram capitalizar os perigos da fraude eleitoral, muitas vezes implicando a necessidade de violência. Uma imagem popular mostrava um homem armado usando uma balaclava. “Homens livres não obedecem a funcionários públicos”, dizia a imagem.

Outra retratava um confronto com “democratas de esquerda” que remontava à presidência de Trump. “Já chega!”, dizia uma parte da postagem. “Estejam prontos para tudo e qualquer coisa!”

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