KIEV - As tropas ucranianas têm resistido ao avanço militar russo na capital Kiev neste sábado, 26, enquanto os bombardeios aumentam na tentativa da Rússia de tomar o controle da cidade noterceiro dia de invasão. Em menor número e pouco armadas, as forças ucranianas lutam com a ajuda de civis que receberam armas do governo.
Houve intensos combates de rua, e rajadas de tiros e explosões puderam ser ouvidas em toda a cidade, incluindo seu coração, a praça Maidan, onde em 2014 protestos ucranianos levaram à derrubada de um governo pró-Moscou. Kiev se converteu no principal palco do conflito entre Rússia e Ucrânia na madrugada deste sábado.
De acordo com dados do Ministério da Saúde da Ucrânia, citados pela agência Interfax, 198 pessoas morreram desde o início da invasão russa, incluindo três crianças.
Batalhas sangrentas estavam sendo travadas. Segundo o Ukrainska Pravda, um site de notícias ucraniano, houve um combate a 400 metros da praça Maidan. Autoridades alertaram os residentes de Kiev sobre os combates nas ruas da cidade.
Por toda a Ucrânia, as pessoas se amontoaram em abrigos antiaéreos, fizeram fila em caixas eletrônicos e estocaram itens essenciais.
O Reino Unido disse que a maioria das forças russas está a cerca de 30 km do centro de Kiev. Em uma atualização de inteligência publicada na manhã deste sábado, o Ministério da Defesa disse que a Rússia ainda não obteve o controle do espaço aéreo ucraniano, reduzindo a eficácia da Força Aérea Russa. Ele acrescentou: “As baixas russas provavelmente serão pesadas e maiores do que o previsto ou reconhecido pelo Kremlin”.
O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, postou um vídeo nas ruas da capital do país, dizendo ao público para não acreditar em relatos falsos. "Estou aqui", disse ele. “Não vamos baixar nenhuma arma. Protegeremos nosso país, porque nossas armas são nossas de verdade”. O presidente apelou aos cidadãos para que não abaixem as armas e defendam sua terra.
Confrontos também foram registrados no oeste e no norte da capital Kiev. Uma guarnição militar ucraniana foi atacada e bombardeada, mas as tropas russas foram repelidas e uma coluna motorizada foi eliminada, de acordo com o Exército da Ucrânia. No norte, uma usina hidrelétrica foi atacada. Segundo as agências de notícias internacionais, a intenção dos russos em tomar o controle do local seria cortar o fornecimento de luz elétrica da capital. Forças ucranianas permaneceriam no controle da instalação.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, endureceu o toque de recolher na cidade e afirmou que quem violá-lo será considerado "inimigo". De acordo com o ex-campeão mundial de boxe, as tropas ucranianas engajaram em combate contra "sabotadores russos". Ao todo, 35 pessoas ficaram feridas durante os confrontos da madrugada, incluindo duas crianças. Não ficou claro se o número se referia apenas a vítimas civis.
A Rússia estabeleceu linhas de ataque em três cidades - Kiev no norte, Kharkiv no nordeste e Kherson no sul - e as tropas ucranianas estão lutando para manter as três.
Este sábado, a Rússia disse que continuaria o seu avanço sobre a Ucrânia e acusou o país vizinho de recusar negociações. Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, Putin havia ordenado a interrupção dos avanços na sexta-feira. “Como o lado ucraniano basicamente recusou as negociações, hoje o avanço das principais forças russas foi renovado de acordo com o plano da operação”, disse.
No entanto, a Ucrânia não confirmou a rejeição das conversas, nem está claro se as forças russas de fato interromperam seu avanço na sexta-feira. Volodmir Zelenski havia proposto uma negociação com Putin, sugerindo que poderia abrir mão de sua entrada na Otan.
Apelo
O presidente Zelenski deu uma entrevista coletiva na manhã deste sábado e disse que seu país triunfará sobre as forças russas. Ele afirmou que as forças do governo ainda controlam Kiev e “pontos-chave ao redor da cidade”, e as forças ucranianas venceriam e criticou a desinformação.
Na parte final de seu discurso, ele fez um apelo: “Por favor, para aqueles que estão mentindo, ou tentando mentir para você, ou mentindo para nós. Precisamos parar essa guerra. Podemos viver em paz juntos, globalmente como humanos...Nossos militares, nossa guarda nacional, nossa polícia nacional, nossa defesa do território, serviço especial, cidadãos da Ucrânia, por favor, continuem. Nós ganharemos. Glória à Ucrânia.”
Zelenski falou sobre a resistência ucraniana: “Estamos retendo com sucesso os ataques inimigos. Sabemos que estamos defendendo nossa terra e o futuro de nossos filhos. Kiev e as áreas-chave são controladas pelo nosso exército. Os ocupantes queriam montar seu fantoche em nossa capital. Eles não conseguiram. Em nossas ruas, havia uma luta acontecendo.”
“O inimigo estava usando todas as suas armas, artilharia, pára-quedistas, todas as suas armas. Eles estão atingindo áreas residenciais, estão tentando destruir a infraestrutura de energia e todos devem nos ajudar a acabar com essa ocupação”, continuou Zelenski.
O presidente pediu que as pessoas que pudessem voltar à Ucrânia para lutar, o fizessem: “Em todas as horas e lugares, cidades e vilas e pessoas ... em todos os lugares onde o inimigo está matando nosso povo, nossas Forças Armadas estão fazendo tudo o que podem para destruir o inimigo...Essas cidades e vilas que estão sendo atacadas do ar estão resistindo, muito bem. Se você pode destruir os ocupantes, por favor, faça. Todos que puderem voltar para a Ucrânia, por favor, voltem."
“Teremos muito trabalho a fazer para reconstruir nossa Ucrânia. Todos que podem defendê-lo no exterior, o fazem diretamente de forma unida. Todos os amigos da Ucrânia que querem se juntar à Ucrânia na defesa do país, por favor, venham, nós lhe daremos armas. Será anunciado muito em breve, como isso pode ser feito. Todo mundo que está defendendo a Ucrânia é um herói”.
Ele fez outro apelo ao povo russo para ajudar a parar a guerra, pressionando Vladimir Putin e seu governo. Manifestantes anti-guerra foram presos nos últimos dias em Moscou e São Petersburgo.
“Quero que todos na Rússia me ouçam. Todo mundo. Centenas de soldados capturados que estão aqui na Ucrânia não sabem por que foram enviados aqui para matar pessoas ou serem mortos. As pessoas precisam dizer ao governo por que a guerra deve ser interrompida, mais pessoas do seu país permanecerão vivas. Sabemos que muitas pessoas na Rússia estão chocadas agora com a brutalidade do governo russo, esta é a reação certa, sou grato a essa reação”.
Mais destruição
Apesar das recorrentes afirmações do Kremlin de que apenas alvos militares estão sendo bombardeados na Ucrânia, um prédio residencial perto de um aeroporto de Kiev foi atingido por um míssil. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram o momento do impacto. parte externa de vários apartamentos ficou completamente destruída, os interiores queimados e destroços se espalharam pela rua.
WATCH: Video shows the moment a high-rise building in Kyiv is hit by a missile pic.twitter.com/adrd6LSfIL — BNO News (@BNONews) February 26, 2022 O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, compartilhou uma foto do edifício atingido pelo projétil e chamou os russos de "criminosos de guerra". Kyiv, our splendid, peaceful city, survived another night under attacks by Russian ground forces, missiles. One of them has hit a residential apartment in Kyiv. I demand the world: fully isolate Russia, expel ambassadors, oil embargo, ruin its economy. Stop Russian war criminals! pic.twitter.com/c3ia46Ctjq — Dmytro Kuleba (@DmytroKuleba) February 26, 2022 Além da capital, intensos bombardeios foram registrados em outras cidades do país. O comando militar da Ucrânia informou que áreas próximas a Sumy, Poltava e Mariupol foram atacadas com mísseis de cruzeiro russos Kalibr lançados no país a partir do Mar Negro. Citando o Ministério da Defesa russo, a agência de notícias Interfax informou que tropas russas tomaram o controle da cidade de Melitopol, na região de Zaporizhzhya, no sudeste.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, instruiu o Departamento de Estado do país a liberar US$ 350 milhões em ajuda militar à Ucrânia, que luta para repelir a invasão russa. Em memorando ao Secretário de Estado, Antony Blinken, Biden assinalou que o montante, alocado por meio da Lei de Assistência Estrangeira, fosse designado para a defesa da Ucrânia. Os EUA também ofereceram ajuda para retirar Zelenski de Kiev, o que foi recusado pelo presidente ucraniano, de acordo com o The Washington Post. Mais cedo, Zelenski afirmou que a Rússia tem ele “como alvo nº 1” e a sua família “como alvo nº 2”./ W. POST, NYT, REUTERS, AP, EFE
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