WASHINGTON - Os Estados Unidos acusaram nesta terça-feira, 14, militares russos de atingir com caças um drone americano MQ-9 Reaper e provocar sua derrubada. Segundo o comando militar dos EUA na Europa, o drone realizava uma operação de rotina quando foi interceptado e atingido em sua hélice por um caça russo Su-27. O choque obrigou as forças americanas a derrubarem o drone sobre águas internacionais.
Segundo o Departamento de Estado, os EUA convocaram o embaixador da Rússia em Washington em protesto contra esse incidente.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que os caças russos não usaram armas ou atingiram o drone americano. Segundo o ministério, o drone dos EUA estava voando perto da fronteira russa e invadiu uma área declarada proibida pelas autoridades russas. A pasta disse então que os militares russos enviaram caças para interceptar o equipamento, que teria caído na água após uma manobra brusca.
Autoridades americanas disseram que, várias vezes antes dessa colisão, aviões russos teriam despejado combustível e voado na frente do drone “de forma imprudente, não profissional e não ecológica”. “Este incidente demonstra falta de competência, além de ser inseguro e pouco profissional”, disse o comando na nota.
O general James Hecker, comandante da Força Aérea americana na Europa e na África, deixou claro que os EUA e seus aliados continuarão operando no espaço aéreo internacional e pediu aos russos que atuem “de maneira profissional e segura”.
Ações perigosas
O comunicado lembrou que o ocorrido segue uma tendência de ações perigosas empreendidas por pilotos russos quando interagem com aeronaves dos EUA ou de seus aliados no espaço aéreo internacional, incluindo sobre o Mar Negro.
Esse comportamento, segundo destacou o comando europeu nos EUA, “pode levar a erros e a uma escalada não intencional”.
Os EUA lembraram que suas forças aéreas sobrevoam regularmente o território soberano europeu e o espaço aéreo internacional em coordenação com os países correspondentes e de acordo com o direito internacional.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, relatou o incidente ao presidente Joe Biden na manhã desta terça-feira, segundo disse John Kirby, um dos porta-vozes da Casa Branca, a repórteres.
Kirby explicou que este tipo de colisão não é incomum e que, de fato, houve várias “nas últimas semanas”, mas sustentou que esta é “notável” por ser “insegura” e “pouco profissional”.
Mar Negro
A invasão da Ucrânia pela Rússia aumentou as tensões entre Moscou e Washington e transformou o Mar Negro, dominado pela Marinha Russa, em uma zona de batalha efetiva. Moscou bloqueou os navios ucranianos dentro de seus próprios portos, embora a Ucrânia tenha conseguido exportar seus grãos pelo Mar Negro sob um acordo assinado em julho entre os dois países em guerra.
Ao mesmo tempo, a Ucrânia atacou navios de guerra russos na região, bem como no porto, principalmente em abril, quando um míssil ucraniano afundou o Moskva, o principal navio da frota russa no Mar Negro, um ataque que prejudicou a aura de invencibilidade naval de Moscou.
A guerra também galvanizou a Otan, principalmente ao fortalecer os laços entre Washington e os membros da aliança que fazem fronteira com a Rússia, incluindo a Polônia e os Estados Bálticos. Os países da Otan despejaram bilhões de dólares em ajuda militar para apoiar a defesa territorial da Ucrânia, mas, ao mesmo tempo, a aliança tentou evitar o confronto direto com Moscou, um estado com armas nucleares.
Um momento de crise ocorreu em novembro, quando um míssil de defesa aérea ucraniano que estava sendo usado para se defender de um grande ataque aéreo russo explodiu em uma fábrica de grãos polonesa logo na fronteira, matando duas pessoas.
Equipamento
Os EUA usam drones MQ-9 Reapers tanto para vigilância quanto para ataques e têm operado esse equipamento em vários locais, incluindo no Oriente Médio e na África. Outros países, como Reino Unido e França, também usam Reapers.
Vários MQ-9s dos EUA foram perdidos nos últimos anos, alguns devido a ações hostis.
Um foi abatido em 2019 sobre o Iêmen com um míssil terra-ar disparado por rebeldes Houthi, que também dispararam sem sucesso contra outro dos drones alguns dias depois, de acordo com o Comando Central dos EUA.
Segundo relatos da mídia, um MQ-9 americano caiu na Líbia em 2022, enquanto outro caiu durante um exercício de treinamento na Romênia no início do ano, além de outro perdido também na Líbia em 2019./EFE, AFP E NYT
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