“Guerra na Ucrânia é vista de forma diferente na América Latina”, diz chefe da diplomacia alemã

Participando de evento em SP, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha afirmou que o país quer mostrar o impacto da guerra no continente europeu e mencionou que o Brasil votou a favor de uma resolução que repreende a invasão russa ao território da Ucrânia

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Por Daniel Gateno
Atualização:

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, apontou que a guerra na Ucrânia é vista de forma diferente na América Latina e que é preciso explicar os impactos que o conflito teve no continente europeu.

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A chefe da chancelaria alemã participou de um evento em São Paulo organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), que também teve a participação do ministro do Trabalho da Alemanha, Hubertus Heil, e o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez, nesta terça-feira, 6.

“A guerra voltou a Europa com a invasão da Rússia ao território ucraniano, um golpe contra o direito internacional e a carta das Nações Unidas. Posso entender que a ameaça dessa guerra é percebida de forma diferente na América Latina, mas quero dizer que estamos aqui”, apontou a ministra. “Queremos explicar como essa guerra nos atingiu, muitos acharam na Europa que estávamos vivendo num ambiente de paz como vocês aqui no Brasil, mas além da agressão a Ucrânia, o ataque russo afetou os preços internacionais e se ignorarmos esta violação tão brutal da carta das Nações Unidas, da ordem estabelecida por regras, então o livre comércio também não teria mais chance”, pontou Baerbock.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, se encontrou com a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, durante agenda em Brasília na segunda-feira, 5  Foto: Andre Borges/ EFE

A ministra também lembrou que Brasil e Alemanha votaram a favor de uma resolução que repreende a Rússia pela invasão na Ucrânia e convoca Moscou para retirar imediatamente as tropas russas do território ucraniano na última Assembleia-Geral da ONU, realizada em fevereiro de 2022. A resolução ganhou apoio de 141 dos 193 membros presentes na reunião.

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Baerbock também reforçou que Brasil e Alemanha compartilham valores democráticos e que o “recente ataque a democracia brasileira” é um “sentimento perigoso que também existe na Alemanha”.

Governo Lula

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha afirmou que conheceu o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, quando Lula ainda não tinha assumido o cargo, na COP 27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, em novembro do ano passado. “Lula me disse que o Brasil estava de volta na liderança pela proteção climática e devo dizer foi muito bom ouvir isso porque o mundo sentiu a falta do Brasil, o mundo estava com saudade do Brasil”, completou a política.

Baerbock também falou sobre as negociações para o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul e que concorda com o presidente Lula de que o acordo precisa ser inclusivo e social.

“Sempre vamos postar em abertura. Não queremos colocar as nossas empresas sob pressão, mas vamos estabelecer incentivos sustentáveis”, destacou a chefe da chancelaria alemã.

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A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, desembarcou em Brasília na segunda-feira, 5  Foto: Andre Borges / EFE

O presidente Lula já afirmou que uma renegociação é necessária para que o acordo seja chancelado, mas que confia que o problema pode ser solucionado ainda neste ano.

A politica da Alemanha também sinalizou que a Alemanha defende que América Latina e África tenham uma cadeia permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Baerbock se reuniu com a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, e com representantes do Itamaraty na segunda-feira, 5.

Olaf Scholz

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, visitou o Brasil em janeiro para conversar com Lula sobre o acordo entre o Mercosul e a UE. Na ocasião, o presidente brasileiro prometeu uma definição sobre o acordo até o final deste semestre. Os dois políticos também se reuniram durante a cúpula do 6-7 em Hiroshima, Japão, no mês de maio.

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No começo da gestão de Lula, a Alemanha retornou as suas doações para o Fundo Amazônia, no valor de 35 milhões de euros (cerca de R$ 200 milhões). Em 2019, a gestão Bolsonaro dissolveu as instâncias de governança do fundo, em desacordo com os países doadores, Noruega e Alemanha. Os doadores, então, congelaram os recursos.

Logo após a eleição do petista, no fim de outubro, os governos de Noruega e Alemanha já haviam declarado que retomariam as doações assim que a nova gestão federal do Brasil começasse.