ASSOCIATED PRESS, MINSK - O autoritário presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, defendeu a invasão da Ucrânia pela Rússia em uma entrevista nesta quinta-feira, 5, à Associated Press. Conhecido como “o último ditador da Europa”, o aliado de Vladimir Putin admitiu, porém, que não esperava que o conflito -- que hoje completa 71 dias -- “se arrastasse dessa maneira”.
O presidente belarusso afirmou que Moscou lançou o que chama de “operação militar especial”, em 24 de fevereiro, para responder a “provocações” de Kiev, mas que, em sua avaliação, não esperava um conflito tão longo.
“Mas eu não estou imerso o suficiente neste problema para dizer se ela [a campanha militar] vai de acordo com o plano, como dizem os russos, ou se vai como eu sinto”, disse Lukashenko durante a entrevista, que durou quase 90 minutos no Palácio da Independência em Minsk. “Quero enfatizar mais uma vez: sinto que esta operação se arrastou demais.”
O apoio de Lukashenko à guerra provocou críticas e sanções internacionais contra Minsk. Algumas tropas russas foram enviadas à Ucrânia a partir do território belarusso, e Lukashenko apoiou publicamente seu aliado de longa data, que injetou bilhões de dólares para sustentar sua economia controlada pelo Estado, ao estilo soviético, com energia barata e empréstimos.
Mas, falando à Associated Press, Lukashenko disse que ele e seu país defendem a paz e repetidamente pediu o fim da guerra.
Nós categoricamente não aceitamos nenhuma guerra. Fizemos e estamos fazendo tudo agora para que não haja guerra.
Alexander Lukashenko, presidente de Belarus
Lukashenko também se manifestou contra o uso de armas nucleares no conflito.
“O uso de armas nucleares não é apenas inaceitável porque está bem ao nosso lado - não estamos do outro lado do oceano como os Estados Unidos. Também é inaceitável porque pode fazer nossa bola terrestre voar para fora da órbita para quem sabe onde”, disse ele. “Se a Rússia é ou não capaz disso - é uma pergunta que você precisa fazer à liderança russa”.
Na avaliação do presidente belarusso, a Rússia, por definição, não pode perder a guerra para a Ucrânia, e apontou que Belarus é o único país que apoia Moscou, enquanto “algo como 50 Estados” uniram forças para apoiar a Ucrânia. Ele ainda acrescentou que Putin não está procurando um conflito direto com a Otan, e o Ocidente deve garantir que isso não aconteça.
“Ele provavelmente não quer um confronto global com a Otan. Usem isso. Usem isso e façam de tudo para que nada aconteça. Caso contrário, mesmo que Putin não queira, os militares reagirão”, alertou.
Lukashenko, de 67 anos, chamou Putin de “irmão mais velho” e disse que o líder russo não tem “relações mais próximas, mais abertas ou amigáveis com nenhum dos líderes mundiais além do presidente de Belarus”.
O relacionamento entre eles tem sido particularmente próximo recentemente, mas foi difícil nos anos anteriores. Antes de uma disputada eleição de 2020 desencadear protestos em massa e uma repressão doméstica de Lukashenko, ele frequentemente acusava o Kremlin de tentar forçá-lo a abrir mão do controle de ativos econômicos valiosos e abandonar a independência de seu país.
Diante de duras sanções econômicas depois de reprimir brutalmente os protestos, o líder belarusso começou a enfatizar a necessidade de combater conjuntamente a pressão ocidental e a se reunir regularmente com Putin, valorizando o estreitamento de laços.
Ainda assim, o apoio de Lukashenko à invasão na Ucrânia não chegou ao ponto de mobilizar suas próprias no conflito. Ele disse que Minsk não representa uma ameaça para seu vizinho, mesmo quando seus militares realizaram exercícios nesta semana.
“Nós não ameaçamos e não vamos ameaçar ninguém. Além disso, não podemos ameaçar - sabemos quem se opõe a nós, então desencadear algum tipo de conflito, algum tipo de guerra aqui... absolutamente não é do interesse do Estado belarusso. Então o Ocidente pode dormir em paz”, disse ele.
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